Um debate politicamente correto, ainda o primeiro para esquentar as turbinas
O debate realizado pela Band Bahia ontem à noite e primeiras horas desta sexta-feira,2, entre os candidatos e candidatas a prefeito (a) de Salvador foi insosso. Faltaram tempero, ação, sal.
Os telespectadores não se moveram das poltronas aqueles que ficaram até tarde da noite assistindo com os (as) candidatos (as) parecendo que estavam numa sala de aula passando ensinamentos a colegiais, sem empolgação, sem entusiasmo, sem ao menos produzir tiradas que pudessem sensibilizar os eleitores.
Ficou claro que três dos candidatos da base do governador Rui Costa - Denice Santiago (PT), Olivia Santana (PCdoB) e Bacelar (Podemos) - foram combinados para fazerem 'dobradinhas' e desqualificarem a gestão ACM Neto, por tabela, também desqualificando Bruno Reis.
Em parte, até conseguiram nas 'dobradinhas' isolando Bruno e o pastor e sargento isidório, mas, não conseguiram desqualificar a gestão Neto porque os argumentos usados foram pífios e Bruno Reis, quando com a palavra, soube relacionar os feitos da gestão da qual participa.
Bruno pecou no excesso do relacionamento de obras e feitos das gestões Neto esquecendo, completamente, (o que pode ter sido proposital) a parte política e a ironia de lado, tendo várias oportunidades de fazê-lo, sobretudo quando perguntou a major Denice sobre a área da tecnologia da informação e esta se enrolou toda para responder a ponto de falar numa 'cidade conectada', uma coisa muito vaga e sem pé nem ca beça.
Mas, Bruno, ao invés de aproveitar a chance para 'cutucar' a petista preferiu falar nas realiações de suas gestões, dele e de Neto.
Pareceu-nos um candidato muito engessado e programado para responder todos os questionamentos somente nesa direção, de louvores a Neto e sua gestão, sem necessariamente falar no nome do prefeito, o que passou equilibrio, sensatez, organização de pensamento, mas, deixou-o muito tecnocrata.
Nesse aspecto, Bacelar foi o melhor entendendo-se com sua experiência de parlamentar e ex-secretário da Educação e ex-presidente da Câmara de Vereadores, de ser o mais 'solto' entre os debatedores, com a ressalva de que, foi, propositadamente ao debate para desqualificar a gestão Neto.
Não teve, no entanto, o contraponto. Ou seja, não apresentou nada de novo que pudesse sensibilizar o eleitorado. Dizer que a Prefeitura não planejou o retorno às aulas após a pandemia e querer colocar no colo do prefeito a suspensão das aulas diante do coronavirus não cola. A população, e sobretudo os pais dos alunos, estão com medo da covid e não vão culpar o prefeito (nem o governador) por isso.
Alias, isso já foi testado em pesquisas qualitativas, e os gestores estão com esses dados em mãos e só vão reabrir as escolas quando houver segurança para isso, quiçá, uma vacina.
Bacelar quicou a bola (na dobradinha) para Denice chutar na área da mobilidade urbana, chamou o BRT de projeto atrasado (o que tem razão), mas a petista fez apenas meio gol. Não soube detalhar o VLT e sua dimensão, a obra de ampliação do metrô (herança de Imbassahy, João Henrique e Jaques Wagner) e ficou falando em cidade do futuro, que ninguém acredita.
Essa foi a melhor parte de Bacelar quando também falou dos algamentos do Rio Vermelho e o fim da Barra acrescentando que, quem manda na cidade são os empresários de ônibus.
Depois,já no final, provavelmente sem querer, Bacelar levantou a bola para Bruno falar de habitação, o forte na gestão Neto, e o demista deitou e rolou com os projetos da Mané Dendè e da ex-cidade de papelão, Morar Melhor e outros. Bacelar ficou sem ação na tréplica.
A deputada Olivia Santana, por sua experiência, poderia ter se saído melhor, no entanto, ao falar em arranjos produtivos e de sua trajetória como pobre e perseguida por ACM no "Bico de Ferro" não sensibilizou.
Seu ponto alto foi a critica ao secretário Barral, da Educação, que desqualificou professores numa declaração estapafurdia dizendo que vai ser mestre em sala de aulas aqueles que menos estudam e não chegam a ser engenheiros e médicos, uma fala nessa direção. Mas, isso é um tema que diz respeito a uma faixa estreita da população. Não é abrangente. Olivia também ampliou suas criticas dizendo que Imbassahy deixou a educação em pandarecos, o que não é verdade.
O candidato do PSOL Hilton Coelho teve altos e baixos. Mais baixos do que alto. Propôs a criação de um Banco da Cidade e Conferências amplas para nomear secretários. Ações que passam ao público como irreais. Ninguém acredita nisso no momento em que as privatização e as estatais ocupam outros lugares. É só lembrar do velho Baneb e ver o que aconteceu. Na pergunta que Bruno lhe fez sobre iluminação se enrolou todo.
Celsinho Cotrim foi o franco atirado do debate. Deitou e rolou. Foi praticamente o único que se apontou como prefeito, falando como se prefeito chegasse lá, defendeu João Henrique, citou várias vezes seu vice Popó (Acelino Freitas, boxeador) e foi até convincente em algumas oportunidade. Resta saber se convenceu o eleitorado.
O pastor Isidório derrapou. Esteve mal no debate. É provável que faltou-lhe treinamento. Passava do tempo de fazer as perguntas, foi advertido pela mediadora por usar um livro em mãos (o que era proibido) e quando respondia as questões foi sempre claudicante. Seu forte, que é o popular, nem isso soube passar ao público. Quando defendeu o Carnaval como evento produtivo faltou-lhe argumentos e convencimento ao público. Tomou uma aula de Celsinho neste item.
No geral, em nossa opinião, o debate não produziu nada de efeito para se repercutir. O principal alvo, Bruno Reis, se comportou politicamente correto, não derrapou e saiu ileso. Denice, que poderia fazer esse contra-ponto, ainda se apresentou muito timida (o que é natural por ser sua primeira vez) e não soube enaltecer as obras de Rui. Olivia precisa falar para a cidade e sua gente no total e não a guetos. Bacelar tem que esquecer Neto e colocar suas propostas. Isidório destacar o seu lado popular, o pão, o gás, o feijão. E Celsinho seguir como esteve, firme, simpático ao publico, falando para o eleitor.
A mediadora Carol, da Band, esteve bem.