Candidato do PSDB mostrou ao país alguns projetos que desenvolveu em SP e que são desconhecidos do país
O ex-governdor de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) foi o terceiro candidato a participar da entrevista na bancada do Jornal Nacional (Rede Globo) com os apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos e foi entre os inquiridos até agora - os outros dois foram Ciro Gomes (PDT) e Jair Bolsonaro (PSL) - a usar o horário nobre da TV e revelar algumas de suas propostas para o país, ainda que, muito centralizadas no que realizou em SP e pretende fazer de modo indêntico no país.
Em sendo o Brasil um país continental com diferentes culturas e desigualdades de estado para estado parece-nos muito dificil que consiga esse intento se por acaso for eleito presidente. Evidente que alguns projetos gerais podem até funcionar - tipo novas creches e hospitais - mas segurança, por exemplo, exige uma ação mais abrangente do governo federal nas fronteiras e leis mais duras contra o tráfico de drogas e as organizações criminosas estabelecidas até mesmo dentro dos presídios.
A entrevista também serviu para Alckmin revelar alguns programas que realizou em SP e que são bons e desconhecidos da maioria da população brasileira. O fato de seu governo ter reduzido de 13 mil para 3 mil mortes ao ano por homicidios é um dado expressivo. A Bahia que tem 1/3 da população de SP registrou ano passado mais de 6 mil homicidios.
A questão central para Alckmin é que ele pertence ao PSDB, partido que está muito desgastado com as 'aventuras' de Aécio Neves e ele não foi duro ao tratar deste e de outros 'tucanos' considerados infratores. Poderia ter sido mais enfático.
Suas propstas também representam algo antigo na política brasileira, nada falou sobre o enxugamento da máquina do estado, uso de novas tecnologias em setores fundamentais como a educação e a saúde. Por outro lado, com seu semblante sereno, quase messiânico, passa certa confiança à classe média que não deseja aventuras para o Brasil e prefere um candidato moderado. Nesse aspecto saiu-se bem.
Os dois entrevistadores da Globo segue muito prolixos.
Alguns tópicos:
Renata Vasconcellos: Eu vou começar essa entrevista falando de alianças políticas. Nessa campanha, o senhor fez aliança com partidos do chamado centrão, que os críticos acusam de fazer o famoso “toma lá, dá cá”. Partidos esses que têm 41 investigados pela Lava Jato. Quarenta e um investigados, candidato. Como é que o senhor explica isso para os eleitores quando as pesquisas mostram justamente que eles querem formas mais republicanas de se fazer política e apoiam o combate à corrupção?
Geraldo Alckmin: Olha, Renata, primeiro é importante: todos os partidos têm bons quadros. Então, eu fui buscar no Progressista, que é um dos partidos que nos apoiam, a mais respeitada mulher senadora da República, a Ana Amélia. Nós temos bons quadros em vários partidos e precisamos ter maioria para fazer as mudanças que o Brasil precisa. Quem prometer mudanças sem construir maioria é conversa fiada. Ou nós vamos continuar nesse marasmo que está o Brasil ou nós precisamos fazer reformas. O Brasil precisa das reformas. E eu estou explicitando o que eu vou fazer. Reforma política, exatamente para não ter 35 partidos. Reduzir o número de partidos, reduzir voto facultativo é importante, o voto distrital, proibir coligação proporcional.
William Bonner: Mas então, candidato, o senhor tem dentro do seu próprio partido - ‘diga-me com quem andas, e te direi quem és’ - dentro do seu partido o senhor tem Aécio Neves e tem Eduardo Azeredo. Ambos com envolvimento em casos de corrupção. Eduardo Azeredo condenado, cumprindo pena. Aécio Neves tem contra ele uns vídeos muito eloquentes, muito explícitos, não é. O senhor tem dito que é a favor da Lava Jato, o senhor é a favor do combate à corrupção. Como presidente do PSDB, por que é que o senhor não pediu, não propôs até agora, a expulsão desses dois elementos do seu partido?
Geraldo Alckmin: Olha, Bonner, primeiro, o Aécio não foi condenado, ele está sendo investigado e vai responder para a Justiça. Nós não passamos a mão na cabeça de ninguém. Quem errou, paga pelo erro. Quem foi absolvido, será absolvido. O Eduardo Azeredo, ele já está afastado da política há muito tempo...
Renata Vasconcellos: Pois é. Até a propósito disso, três delatores de uma empreiteira narram pagamento de caixa 2 para campanhas do senhor em 2010 e 2014. Um dos delatores, inclusive, dá detalhes de um encontro onde teria sido acertado esse dinheiro ilegal. Ele diz que o senhor entregou a ele um cartão do seu cunhado, recomendando que tudo poderia ser acertado entre os dois. Entre o delator e o seu cunhado. Quando confrontado com isso, o senhor sempre diz que não é verdade. Mas o PSDB dá crédito às delações contra políticos de partidos adversários. Por que que ela seria falsa para o senhor, com relação ao senhor, e verdadeira para opositores do senhor?
Geraldo Alckmin: Primeiro, total transparência, total compromisso com a investigação. Isso é mentira, as minhas campanhas sempre foram feitas de maneira simples e rigorosamente dentro da lei. Nunca teve cartão nenhum, aliás, a própria pessoa que fez essa delação, ela nem participou da reunião, ela mesmo diz. A minha família, ninguém participa de governo, a minha mulher trabalha comigo há quase 40 anos como voluntária, voluntária. Então é importante separar o joio do trigo. Há uma tendência de misturar tudo e não é correto, e não é verdade.
William Bonner: Nós vamos permanecer nesse terreno da corrupção, porque é um tema que no Brasil… Infelizmente, no Brasil, hoje, é um tema que se impõe muito. O seu secretário de Transporte, Laurence Casagrande, está preso. Ele é suspeito de fraude em licitação na obra do Rodoanel. Em própria defesa, ele diz que tentou evitar o aumento do valor da obra pleiteado pelas empreiteiras envolvidas, porque elas alegavam que havia surgido rochas enormes que dificultavam o trabalho delas. Laurence Casagrande diz, então, que o pagamento desse a maior no contrato, contra o qual ele havia se insurgido, esse pagamento acabou sendo determinado por um órgão terceiro, uma junta arbitral que estava prevista em contrato, uma junta de especialistas, que estava prevista em contrato para casos de mediação de conflitos entre as partes. Muito bem. Isso é o que diz Laurence Casagrande, que está preso. Mas, no inquérito da Operação Pedra no Caminho, o gerente de uma empreiteira disse que Laurence Casagrande teve uma reunião com diretores de empreiteiras para, segundo o relato dele, eu vou ler aqui as palavras dele, para “melhorar o valor do contrato de forma irregular”. Estamos falando da obra do Rodoanel. Laurence Casagrande, seu secretário de Transportes. Dizem, esse mesmo gerente e outros dois funcionários, que não havia nenhuma dificuldade extra que justificasse o aumento do valor dessa obra. Isso é criminoso, candidato. No entanto, e é preciso dizer, esse é o relato de testemunhas. Eles não são delatores. São testemunhas. Diante deste quadro, o senhor tem, reiteradamente, feito uma defesa enfática do seu secretário de Transportes, Laurence Casagrande. Esta defesa que o senhor faz é coerente com o seu discurso de combate à corrupção?
Geraldo Alckmin: Absolutamente coerente. Quero falar aqui com quem está nos assistindo. Eu assumi o governo em 2011, o governo do estado de São Paulo, nomeei o promotor de Justiça. Aliás, mais do que promotor, um procurador de Justiça do estado, para secretário de Logística e Transporte do estado. Ele escolheu Laurence Casagrande, que é um homem sério, correto, para presidente da Dersa. Ele foi o presidente da Dersa, fez uma belíssima obra. O Rodoanel está terminando, houve um questionamento ao longo da obra em relação a questão de rochas que apareceram, ele corretamente pediu para que o IPT se pronunciasse. Aí, o concessionário, a concessão não concordou. O contrato, essa obra é financiada pelo BID, prevê uma junta de arbitragem, a junta de arbitragem foi montada com três pessoas, professores da escola politécnica da Universidade de São Paulo, um indicado pela empresa, um pela Dersa e um independente. Os três decidiram que aquele volume de rochas não era previsível, que deveria ser pago. O BID concordou, eu acho que nós temos...
Renata Vasconcellos: Candidato, vamos falar agora de segurança pública, que é um tema que aflige muitos brasileiros. A maior facção criminosa do Brasil nasceu em São Paulo e se espalhou pelo país. Inclusive, atravessando fronteiras. Para fora, para outros países. Em que a sua política de segurança falhou?
Geraldo Alckmin: A política de segurança de São Paulo é um exemplo.
Renata Vasconcellos: Não há falhas, na sua opinião?
Geraldo Alckmin: Nós tínhamos, nós temos os melhores policiais do Brasil, a melhor polícia do Brasil, a melhor tecnologia do Brasil. Tínhamos, em 2001, 13 mil assassinatos por ano. Reduzimos para 12, 11,10, 9, 8, 7, 6, 5, 4…
Renata Vasconcellos: Mas muitos especialistas...
Geraldo Alckmin: No ano passado, 3.503 para 45,5 milhões de habitantes. São Paulo é maior que a Argentina.
Renata Vasconcellos: Mas o que que o senhor diz, então, sobre essa queda na taxa de homicídios, muitos especialistas que estudam o assunto dizem que ela se deve mais ao fato dessa facção criminosa ter eliminado os rivais, dominado o crime no estado, do que propriamente à ação da polícia. O senhor refuta essa análise?
Geraldo Alckmin: Mas é inacreditável alguém dizer que 10 mil pessoas deixam de ser mortas por ano e que a culpa disso, ou melhor, a proposta disso é o crime que fez. Ele não, é a polícia que fez.