Prevaleceu o individualismo na votação, desrespeito às direções partidárias, e os projetos do executivo vão ficar mais difíceis de serem aprovados
Alguns veículos de comunicação se disseram surpresos com a votação da rejeição de contas do exercício 2010, do ex-prefeito João Henrique, por este ter amealhado 25 votos, quantidade idêntica a que obteve quando ainda estava no poder e presenciou, também, a rejeição de suas contas, ano 2009.
A rigor, não houve surpresa alguma para quem acompanha os trabalhos legislativos, uma vez que os vereadores, no geral, atuam em defesa de seus interesses politicos e pessoais e não se sintonizam com a cidade, não obedecem as direções partidárias, muito menos levam em conta as improbidades já apontadas pelo TCM nas gestões de JH. Há exceções entre os edis.
Daí que, como JH e sua base politica na Câmara trabalharam pesado para obter 29 votos, por pouco não conseguindo a aprovação das contas, há várias leituras na Casa Legislativa, uma delas dando conta de que, como o prefeito ACM Neto não teria movido uma palha orientando seu pessoal no sentido de votar contra JH, a situação correu solta e isso facilitou o trabalho do vereador Geraldo Jr (PTN), o principal articulador de João.
Não foi só um trabalho politico de Geraldo e dos 24 vereadores que confirmaram sua gratidão a JH, por ajuda em obras e serviços prestados nos bairros, mas, também, um jogo pesado de convencimento, tanto que, dos 21 vereadores que juraram de pés-juntos que votariam pela reprovação das contas, 3 deles disseram sim na hora de colocar os votos na urna.
Como a votação foi secreta e urna não fala, ficam as dúvidas sobre quais desses vereadores teriam mudado de lado, hoje, no day-after, apontando até para edis tidos como da oposição.
O mesmo poderia se dizer dos partidos. O PP, pelo menos diante das declarações de Mario Negromonte em A Tarde, JoãoHenrique, nem pensar. No entanto, os dois vereadores do PP votaram com João. No PTN, a direção partidária foi desconhecida. Em bloco, votos para João. No PMDB, meio-a-meio. No PDT, meio-a-meio. Na base puro sangue de ACM Neto, 90% pró-João.
A segunda leitura que se faz da votação de ontem aponta para visíveis dificuldades que o prefeito ACM Neto terá pela frente para aprovar a Reforma Tributária, seu primeiro grande teste na Casa Legislativa, pois, aconteceu um engrossamento de pescoço de parte de sua base, e, agora, ou negocia politicamente, ou nada para ninguém.
Há exagero como se frisou que a Câmara é "henriquista" (25 votos representa a maioria simples), mas, esse poder de fogo de JH não pode ser menosprezado e juntando-se oposição, infiéis, muristas, vira-casacas e aqueles que prezam a "gratidão" as dificuldades para aprovações de projetos do executivo vão aumentar.
A tese hoje circulante por vereadores da base puro-sangue de que a votação dos 25 foi uma resposta à oposição (leia-se parte do PT, PSB, PcdoB, PV, PSDB, PSOL) não cola.
O trabalho do líder do governo Joceval Rodrigues vai aumentar bastante, a imagem de ACM Neto sai desgastada desse episódio, e diria, até, que a oposição ganhou mais musculatura, agora, associando, definitivamente JH a Neto.
A terceira leitura que se faz está relacionada com a imagem da Casa Legislativa que, com todas as dificuldades, cumpriu seu papel rejeitando as contas de um ex-prefeito que deixou a cidade aos pandarecos, uma dívida de aproximadamente R$600 milhões, desorganizações nos serviços (sequer os elevadores entre as cidades alta e baixa funcionavam), caos na saúde pública e assim por diante.