A Bahia se movimenta
1. A pseudo-crise entre o governo e a base aliada no Congresso, que se agravou na última semana com a troca de líderes no Senado e na Câmara e ameaças de uma pretensa rebelição, de qualquer modo, levou aliados da presidente Dilma Rousseff a procurarem o ex-presidente Lula da Silva em busca de aconselhamento e ajuda. O novo líder do governo no Senado, Eduardo Braga (vide foto) chegou a visitar o ex-presidente no Hospital Sírio Libanês.
2. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) foi a São Bernardo do Campo encontrar-se com o petista, no momento em que a cúpula deste partido está insatisfeita com o tratamento dado pela presidente Dilma. Há informações precisas de que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) e o ministro Gilberto Carvalho, secretário geral, também estiveram com Lula.
3. O clime conflituoso, de certa forma, paralisa o Congresso, e põe na espera indefinida a votação do Código Florestal, o fundo de pensão dos servidores, a lei do petróleo e a lei da Copa. A presidente Dilma está popular e saiu-se bem na queda dos ministros e de outros que defenestrou do poder, caso de Afonso Florence, por exemplo, e o tropeço econômico de 2011, com crescimento do PIB em 2.7%, pouco foi sentido pela população.
4. Mas, tudo tem um limite e alguns sinais foram dados também no Congresso, primeiro com o pronunciamento do senador Fernando Collor lembrando que se deu mal por subestimar o Poder Legislativo sendo apeado do poder com um impeachement; e depois, com a fala da senadora Lídice da Mata, PSB, aliada do governador Eduardo Campos, mas, sobretudo do governador Wagner, a qual recebeu sinal de que poderia criticar a soberba da presidente Dilma em alijar a Bahia do seu Ministério.
5. Evidente que o governador Wagner não baterá de frente com a presidente, dada a sua amizade e porque são do mesmo partido, porém, sinalizou que o PT, a sua agremiação partidária, não pode compactuar com esse desequilibrio federativo, o RS tendo uma fatia enorme no bolo ministerial, e um estado como a Bahia, onde a presidente obteve 2.7 milhões de votos de frente de José Serra no segundo turno, fique a ver navios.
6. Essa iniciativa de Wagner abriu a porteira para que sua base no Congresso protestasse de forma pública, uma insatisfação que está latente e contida porque deputados e senadores são em sua maioria do PT e os outros acompanham religiosamente o sentimento político do governador. Se no plano nacional, a crise política (prerido dizer pseudo-crise) se instalou com as mudanças dos líderes a partir da derrota de Dilma na indicação de Bernardo Figueredo para ANTT, a rigor, tal conflito, ainda está limitado a cargos e favores, na Bahia, a queda de Gabrielli e Florence foram demais.
7. Pode-se, no entanto, esse ambiente se ampliar com outros sub-temas e querelas paroquias, como a que está acontecendo em Itabuna, com o deputado federal Geraldo Simões e o líder do PT na Câmara dos Deputados, Jilmar Tatto, os quais entraram com requerimento de audiência com o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, para reafirmar a posição da bancada baiana de instalar a sede da Ufesba em Itabuna. Se mudar para Porto Seguro, como sinalizou Mercadente, diz-se que haveria uma rebelião e Simões destaca que a eleição petista em Itabuna, 2012, estaria sepultada, perdida.
8. Também na Bahia se sabe que o ex-ministro Geddel Vieira Lima tem se articulado nas hostes do PMDB no sentido de que o partido não perca fôlego, ainda mais às vésperas das eleições municipais, cujo desempenho, se for pífio por agora, compromete bastante o cenário de 2014. E Geddel, por sua experiência, vê o PT com a espada de Dâmocles na cabeça dos peemedebistas.
9. Vê-se, portanto, que esse movimento politico atual tem muitos tentáculos daí que o ex-presidente Lula ter sido ouvido e participado de alguns aconselhamentos. Não se sabe se teria falado alguma coisa a presidente Dilma, nem se Wagner já o teria procurado. O certo é que Lula voltou a ser o balizador da política palaciana.