O poder dos camarotes e o direito de arena
1. Um dos temas mais discutidos sobre o novo modelo do Carnaval de Salvador, o direito de arena para beneficiar as entidades menores, as "moquecas", os afoxés de bairros e assim diante é qual o peso que essas entidades têm, na atualidade, nessa festa a cada ano mais mercantilizada e controlada por grupos empresariais, centralizadas na holding Central do Carnaval.
2. Na época em que Arquimedes Silva controlava a Associação dos Blocos Carnavalescos e afins, o "velho" era extremamente habilidoso e não perdia eleição na entidade. Diz que, toda vez que se sentia ameaçado por algum concorrente criava 5 ou 6 afoxés nos bairros, registrava tudo ao seu modo, e faturva a eleição. Foi assim até a sua morte.
3. Democracia no Carnaval de Salvador, salvo rarissimas exceções, caso do Filhos de Gandhy, nunca houve. As entidades têm donos: ex-Internacionais, de Bulhosa; Eva, de Martins; Olodum, de João Jorge; Ilê, de Vovô; Camaleão, da familia Nery; Corujas, de Ivete; Araketu, de Vera; Filhos do Congo, de Nadinho; Os Comanches, de Jorginho. É tudo igual: blocos afro, de índio, de trio.
4. Ao longo das últimas décadas, desde que Daniela Mercury instalou um camarote na Barra, a situação só fez piorar. Piorar, claro, para a maioria, pois, uma minoria (já são 70 empresas de camarotes) levam o grosso da moeda da festa, incluindo alguns "dendês no sangue" (empresários e promoteres que só visitam Salvador no Carnaval.
5. Estima-se que a organização camarotizada movimena em faturamento bruto algo em torno de R$300 a R$400 milhões. As cifras não são precisas porque não há controle efetivo, registra-se muita sonegação, o ISS é sub-apreciado por estimativa, muita coisa é sonegada e os controles só são maiores para as empresas que comandam essa fartura.
6. Hoje, discutiu-se muito essa e outras questões numa audiência na Assembleia Legislativa que, graças a iniciativa do deputado Alan Sanches (PSD) trouxe o tema ã Casa. Não houve muitos avanços porque só quem estava presente foi a "banda pobre" da festa. Mas, ainda assim, é consenso de que, as entidades por mais pobres que sejam têm um peso relevante no Carnaval, discute-se a dimensão cultural desse valor imaterial, e devem ter mais apoios.
7. O tema é de uma complexidade enorme e precisa, de imediato, se alguém se dispusear a resolver votar um projeto de lei na Câmara de Vereadores que discipline o Direito de Arena e estabeleça um fundo de investimentos. Apartir daí, coisa que dificilmente acontecerá a tempo para o Carnaval 2012, avança-se nas outras questões de administração do fundo, dos valores e da competência cultural de cada entidade.
8. Não se pode é discutir esse tema agora, à véspera do Carnaval, fazer muita marola, voltar a comentar o assunto na semana da festa, e morrer o tema na quarta feira de cinzas para voltar ao assunto em dezembro de 2012. Ou faz já, ou ficará nessa lenga-lenga eterna.