A morte do delegado Clayton Leão e a repercussão política
O assassinato do delegado Clayton Leão, titular da 18* de Camaçari, tem uma intensa repercussão política e provoca um estrago enorme na imagem do governo da Bahia. E, por tabela, no governador Jaques Wagner. Além disso, revela que apesar de entendimento diferenciado do secretário César Nunes, da Segurança, o crime está mais audacioso, preparado e atuando sem temer a Polícia. Ou seja, o crime organizado, para usar uma expressão do meio policial, se instalou na Bahia e age em diferentes áreas: no tráfico de drogras, em assaltos a bancos, extorções e sequestros relâmpagos para fazer dinheiro e utilizar recursos na soltura de presos, investimentos imobiliários e outros procedimentos.
O crime do delegado Clayton não pode ser visto como uma fatalidade, um acaso, uma ousadia esporádica de bandidos porque se soma a outros tantos, centenas de homicídios, milhares, que vêem ocorrendo na Bahia numa escalada crescente nos últimos 3 anos e 5 meses, desde que Wagner assumiu o governo, embora se reconheça que o governo não está paralisado e promove ações em defesa dos cidadãos e no aparelhamento do corpo policial como um total e em suas estruturas de apoio e logística, A questão é que, até agora, os indicadores da violência só crescem e casos e casos vão acontecendo numa rotina que parece não ter fim.
Evidente, pois, que, quando ocorre um fato como o assassinato de um delegado pelo crime organizado, na sala de estar da Polícia, atingindo um dos seus homens graduados que atua no combate ao crime e ao tráfico de drogas na região mais dinâmica e industrial da Bahia, passa uma nítida sensação ao homem comum, ao cidadão classe média, da falta de proteção, de inércia, apatia e tudo mais. Drescença no governo. O que se ouviu falar com mais frequência no dia de ontem foi a seguinte frase: - Se estão matando a Polícia o que será de nós.
A reação no mundo político foi imediata, da análise jurídica visando um pedindo de intervenção federal na Bahia, com uso da Força de Segurança, à crítica contundente dos adversários do governador, Paulo Souto e Geddel Vieira Lima, os quais, batem numa mesma tecla situando que falta atitude por parte do governador Wagner. Souto relaciona 14 mil homicícios em 3 anos e 5 meses, com 11 mortes violentas ao dia; e Geddel assegura que há descontrole e falta coragem para enfrentar o problema. Até o senador ACM Jr, normalmente discreto, comentou que a Bahia vive momento de abismo.
De fato, ainda sem se chegar a essa condição de precipício, de fundo do poço, vive-se na Bahia atual uma situação muito preocupante no âmbito da segurança pública. Lembro que, no início do governo Wagner, os representantes dos três poderes mais importantes do Estado - Executivo, Legislativo e Judiciário - assinaram um documento (Agenda Bahia), com direito a solenidade em salão nobre, definindo ações integradas no campo da segurança, as quais, nunca foram executadas, salvo melhor juizo em 20% do que foi acordado.
Antes da assinatura desse pacto aconteceram várias reuniões com as equipes de Paulo Bezerra (então secretário de Segurança), Marília Muricy (então secretária de Justiça), Marcelo Nilo (presidente da Assembleia) e Benito Alcântara (então presidente do TJ) e mais representantes do MP, Defensoria Pública e outros entes quando foram traçadas as diretrizes no combate ao crime, na tentativa de combater a violência, nas formas de capacitação, nova LOJ (Lei do Ordenamento Jurídico) e assim sucessivamente. Pouco se fez.
O governo tem uma conduta revelada apenas parcialmente eficiente porque está amparada na qualificação e quantificação das Polícias (mais armas, equipamentos e pessoal), inteligência e enfrentamento. Ora, sem uma ação integrada, sem mecanismos de controle jurídico mais duros (o secretário queixa-se com frequência que a Polícia prende e a Justiça solta), e sem que o governador chame a sí essa responsabilidade, comandante de toda operação, nada feito. Agir, já.