Colunistas / Política
Tasso Franco

AS CHUVAS E A POLÍTICA

Prefeito de Salvador precisa ser mais sincero com população
13/04/2010 às 08:21
Salvador ainda terá pela frente mais um dia de chuvas. Nada tão assustador ao que acontece no Rio de Janeiro com a tragédia anunciada no Morro do Bumba, em Niterói. O lixão de Salvador, em Canabrava, felizmente foi aterrado e se transformou num Parque Sócio-Ambiental evitando que dores dessa natureza acontecessem na capital baiana. Mas, o que se percebe, hoje como ontem, e aí não se pode imputar a este ou aquele governo, e sim a um conjunto de não ações ao longo da história da cidade que permitiram a ocupação desordenada de várias áreas do território que, se chegou a um ponto, impossível de ser resolvido a médio-prazo.             E aí não se trata de planejamento porque essas áreas ocupadas de forma aleatória pelas famílias mais pobres nunca tiveram qualquer tipo de ordenamento, salvo aquele organizado pela própria população invasora desses espaços, e sim, no momento, de um plano mínimo de prevenção ou emergência. Toda vez que ocorrem chuvas, como estas do início de abril, os governos nas três esferas correm atrás dos prejuízos tentando, de alguma forma, minimizar o sofrimento das pessoas. Ações preventivas diante da dimensão do problema - 500 assentamentos subnormais em Salvador - são mínimas. Placas têm demais; obras, de menos.

            Além do que, essas questões nunca foram prioritárias na pauta dos administradores municipais, estaduais e federais. E muito menos ainda das empreiteiras que têm poder de lobby nas esferas dessas três poderes, os quais, priorizam investir em outros segmentos, mais rentáveis, menos trabalhosos e com maior visibilidade.

           Posso dar exemplo de duas grandes obras em curso na cidade do Salvador, a Via Portuária (R$380 milhões) e o Canal do Imbuí (R$60 milhões), que, embora relevantes, aplicam algo em torno de R$440 milhões uma dinheirama que resolveria uma parcela expressiva da infraestrutura do Subúrbio Ferroviário, área densamente povoada e que abriga algo em torno de 500 mil pessoas.

            Agora, convença alguém de fazer essa troca! Nem os governantes querem; nem as empreiteiras. Salvador tem problemas crônicos, ampliados a cada ano, sem solução à vista e não adianta governantes darem declarações em emissoras de rádio dizendo que a situação está melhorando, que a cidade está resistindo às chuvas melhor do que outrora, porque isso não condiz com a verdade, e representa uma enganação. A reurbanização da invasão Nova Constituinte, em Paripe, se arrasta há quase 20 anos.

            Que prioridade é esta! Que melhora é esta! A Invasão das Malvinas, que aconteceu na segunda quadra dos anos 1980 e depois passou a ser chamada de Bairro da Paz, em área bastante valorizada da cidade, se fizermos um comparativo com a Nova Constituinte é uma "maravilha" e, ainda assim, sofre de inúmeros problemas, desde a falta de médicos no Posto de Saúde a obras de infraestrutura.

            Então, meus caros políticos, não queiram enganar o povo. Digam assim: "A situação é grave, requer mais investimentos nas áreas da pobreza e nós vamos algum dia fazer". Pelo menos é mais sincero.