Waldyr comparece a homenagem ao neto de Tancredo na Assembleia
A presença do ex-governador da Bahia, Francisco Waldyr Pires, na solenidade de entrega do título de Cidadão Baiano para Aécio Neves, governador de Minas Gerais, representa uma gratidão do político baiano com o presidente Tancredo Neves, avô do homenageado. Quem quis acrescenter a essa generosidade de Waldyr uma representatividade do PT, dada a ausência de deputados deste partido na Assembleia Legislativa, apenas tentou encobrir uma incivilidade, mas, uma coisa não tem nada a ver com a outra. Até porque, embora hoje Waldyr esteja no PT, tem carreira política longeva, nascida em 1954, e elegeu-se governador da Bahia, em 1986, pelo PMDB.
Vem daí a gratidão. Waldyr era Procurador Geral da União no governo deposto de João Goulart e exilou-se na França durante o período do golpe militar de 1964. Com os movimentos de redemocratização país retorna ao Brasil no final de 1970, época do governo Garrastazu Médici, com a Bahia administrada pelo governador Luis Viana Filho e ACM prefeito nomeado para Salvador. Em 1971, ACM ocupa o lugar de Viana no governo e Waldyr vai residir no Rio e se dedicar a vida privada no ramo da construção civil, associado a família Avena.
O MDB mambembe e parcialmente adesista dava os primeiros passos com a finalidade de estruturar um verdadeiro partido de oposição na Bahia. A luta pela anistia política dos desterrados pelos atos institucionais dava os primeiros passos e sua esposa Yolanda Pires, depois vereadora em Salvador, se engaja nela. Em 1974, ano eleitoral só para o Congresso, Luis Viana vence Clemens Sampaio, MDB. É um ano dramático para a família Waldyr com a perda de um dos seus filhos, Wlademir. Ano de reflexão em Goiânia. Em 1975, a ditadura nomeia o reitor da UFBA, Roberto Santos, governador da Bahia.
Em 1978, o MDB consegue alguns avanços com a anti-candidatura Rômulo Almeida ao Senado disputando com Lomanto Júnior. Em 1979, Waldyr recupera os direitos políticos com a Anistia. E, entre 1979 e 1981, já com ACM dando as cartas no governo da Bahia, Waldir organiza a reconstrução do MDB no Estado, juntamente com a turma da Ala Jovem, Tendência, Novos Tempos e outros. No início dos anos 1980, com a reforma partidária, o PP de Tancredo Neves e Roberto Santos, se incorpora ao MDB e constitui o PMDB. Em 1982, embora tivesse sido indicado pela convenção do PMDB candidato a governador, Waldyr trabalha a candidatura Roberto Santos na tese de que dividiria as forças governistas, engalfinhadas na pré-disputa Clériston Andrade x Mário Kértész.
ACM faz Clériston candidato mas este morre num acidente de helicóptero. Comandando uma máquina poderosa ACM elege João Durval governador e Luis Viana para o Senado, este disputando com Waldyr. É nesta campanha que, Waldyr, embora derrotado ao Senado, difunde a mensagem do PMDB por toda a Bahia e o partido consegue bancadas expressivas na Assembleia e na Câmara Federal. Estava, pois, assentadas as bases para 1986, eleições para governador que Waldyr Pires venceu Josaphat Marinho, o candidato preferencial de Durval, engolido por ACM.
É aqui que entra Tancredo na vida de Waldyr. Com a redemocratização, a campanha pelas Diretas Já e as eleições pelo Colégio Eleitoral que sacramentou a vitória de Tancredo, ACM e Durval embarcaram na campanha de Mário Andreazza que disputava com Paulo Maluf a indicação do nome governista. Com a vitória de Maluf e após a derrapada do então ministro da Aeronáutica, Délio Jardim de Matos, que criticou ACM num discurso durante inuauguração de obras no Aeroporto de Salvador, este grupo adere a campanha Tancredo Neves e, numa solenidade no Palácio de Ondina o bloco PDS "tancredou".
Waldyr, que estava engajado desde a primeira hora na campanha Tancredo nada pode fazer ou se opor porque o importante era garantir a vitória do mineiro no Colégio Eleitoral e os votos dos deputados baianos, orientados por ACM seriam valiosos, como de fato foram. Eleito Tancredo, três baianos compunham seu Ministério: deputado federal Carlos Santana, PP, robertista, articulador da campanha Tancredo na Câmara, ministro da Saúde; Waldyr Pires, ministro da Previdência e Assistência Social; ACM, ministro das Comunicações. Era uma coisa inimaginável. Mas, aconteceu.
Com a morte de Tancredo sem governar, José Sarney assume o governo, em abril de 1985, e mantém toda a estrutura governamental organizada por Tancredo e Ulysses Guimarães. Em setembro/outubro de 1985, visando à sua pré-campanha a governador da Bahia, Waldyr lança uma campanha publicitária garantindo que havia zerado o deficit da Previdência no país. Participei juntamente com Cláudio Barreto, hoje na Agência Eurofort, da difusão do mote jornalistico "Waldyr zerou a Previdência", o que representava um fato histórico dado a cultura geral de que esse Ministério era inadeministrável e representava um saco sem fundos.
É claro que ACM caiu de pau em cima de Waldyr usando sua máquina de comunicação afirmando que era uma mentira daquelas bem cabeludas. A campanha colou fortemente no país, especialmente na Bahia, óbvio, e Waldyr partiu para a segunda etapa do projeto, a desestruturação da base carlista, cooptando Ruy Bacelar, então no PFL, Jutahy Magalhães e Nilo Moraes Coelho para integrar seu projeto e a chapa majoritária. Foi o golpe de misericórdia em ACM. Quando as urnas abriram, em 1986, Waldyr teve a maior vitória que um governador já conseguiu até hoje, em termos numéricos, com mais de 1.500.000 votos de frente.
Daí a presença de Waldyr na solenidade que homenageou o neto de Tancredo na Assembleia Legislativa. Waldyr poderia ter ganho a eleição na Bahia sem ter sido ministro de Tancredo e sem a visibilidade do "Deficit Zero da Previdência"? É provável que sim. Waldir poderia ter ganho a eleição sem ter cooptado Nilo, Jutahy e Ruy? Também é provável que sim. Mas, em político, palpites depois de urnas sacramentadas não valem. Por isso, só pra fechar a crônica, o governador Wagner está se alinhando com forças políticas à moda Tancredo/Waldyr.