A manifestação está ligada diretamente à política
Foto: BJÁ |
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Representação do vaqueiro durante a festa do São João de Teco, na Bela Vista |
A Vaquejada de Serrinha perdeu parcialmente suas características originais. Nascida em 1968 num curral improvisado para corridas do "valeu boi" da Fazenda Santa Cecília, de Valdete Carneiro, com primeiro circuito organizado um ano depois, já com apoio de Walter Fernandes, Ernesto Ferreira, José Alves, Piroca, etc, e conotações políticas administradas pelo irmão de Valdete, deputado estadual Plínio Carneiro da Silva, eleito em 1968, durante o governo Carlos de Freitas Mota (1967/1971) a manifestação se originou para criar um espaço nas relações homem do campo/cidade/lazer e expressar a cultura do vaqueiro.
Mas, independente dessa manifestação cultural, rica sob vários aspectos, a Vaquejada de Serrinha surgiu, também, como símbolo, bandeira ou que outro nome tenha, da política daquele município, exatamente para cessar o poder dominante há anos e que vinha sendo administrado pelas correntes de Nanú Oliveira (deputada Ana Oliveira) e do legendário Manuel Novaes, PR, e pelo prefeito Carlos de Freitas Mota (pai da ex-prefeita Tânia Lomes), o qual, já havia sido prefeito em 1959/1963, com sangue na política desde a República Velha, com seu pai, Antonio Pinheiro da Mota (7º intendente, 1912/1915).
Assim, Plínio viu na Vaquejada uma oportunidade de reforçar o vianismo (do então governador Luiz Viana Filho) no município com ações da Superintendência de Engenharia Sanitária (SESEB), braço político do governo gerenciado pelo filho de Luiz Viana e vencer as eleições municipais de 1970, como de fato venceu, elegendo Aluízio Carneiro (seu irmão e um dos fundadores da Vaquejada) prefeito municipal (1971/73), e dominando a política local durante duas décadas, até 1993, quando foi destronado por Claudionor Ferreira, Ferreirinha.
A Vaquejada foi permeando esses caminhos vivendo entre a cultura do vaqueiro e a política, sofrendo transformações, incorporando novos valores e disputas por espaços, alternância de gestores, até que, na década de 1990, o empresário, fazendeiro e político Wardinho Serra, conseguiu reduzir praticamente a zero os outros circuitos (Josevaldo Lima e de Ernesto Ferreira), com a cidade tendo até três vaquejadas ao ano, e instalou o Parque Maria do Carmo, em 1998, um mega-projeto com infraestrutura invejável, hoje, hegemônico.
No rastro dessa impiedosa transformação, àquela manifestação cultural da época original de Valdete e Ernesto, este um campeão do "valeu boi", da aproximação do homem do campo, do vaqueiro, das relações intersociais, do culto à vaquejada, dos cânticos e aboios, isso tudo foi para o espaço e abriram-se alas para a geração da devoradora axé música, dos grandes shows e de atrações do mundo country e das inovações midiáticas, caso, neste ano, das presenças de Claudia Leitte e do Rapa.
Na atual década, para verem que nunca se dissociou a vaquejada da política, o então candidato a prefeito de Serrinha, Zévaldo Lima, eleito em 2000 e prefeito entre 2001/2005, naquele momento dissidente de Wardinho/Ferreirinha denunciou benefícios da administração Ferreirinha em ações administrativas no entorno do Parque Maria do Carmo, com uso de tratores e servidores municipais. Mas, tudo é apenas um pano de fundo, porque o poder local entre 1983 a 2008 (25 anos) girou entre Popó-Ferreirinha-Zévaldo; e vice-versa, com Wardinho comandando pelas beiradas. Eles, portanto, se entendem.
Esse ciclo vicioso do poder que levou Serrinha a uma condição de atraso enorme, porque esses grupos nunca estiveram interessados no desenvolvimento do município, só foi quebrado recentemente com a eleição do petista Osni Cardoso (2008), o qual, vem fazendo uma administração apenas regular, porque a capacidade gerencial da equipe que montou é bastante limitada e enfrentou, de cara, no plano estadual a crise financeira que se abateu sobre o governo Wagner, de quem é correligionário, diante do fenômeno da economia mundial.
Ainda assim, não se justifica tal marasmo na administração Osni, perdida num emaranhado de gestores juvenis, porque pode se atrelar aos benefícios dos governos Lula/Wagner e conseguir projetos importantes para o município, se essa capacidade gerencial for redimensionada. A expectativa é grande no município. E, se fracassar, como até agora o faz, embora tenha tempo de se recuperar, pode devolver o poder aos antigos donos, os mesmos citados acima com raras modificações.
Osni derrotou Tânia Lomes, em 2008, vice-prefeita de Ferreirinha que assumiu o mandato em janeiro desse ano, a qual, ainda tentou salvar o barco da desistência administrativa do prefeito eleito (Ferreirinha), mas, foi engolida pela onda vermelha e pela vontade que a população local tinha em dar um basta no circulo vicioso Popó-Zévaldo-Ferreirinha, como já acontecerá em 1955 com a bandeira da Esperança de Horiosvaldo Bispo dos Santos, o Lourinho.
Então, voltando a Vaquejada sem desgrudar da política, aquele jovem de 1968, Ernesto Ferreira, o vaqueiro campeão, já tentou inúmeras vezes ser prefeito local (é o vereador mais votado do município há anos) e não consegue sequer reunir em torno de si esses grupos para chegar ao poder. A festa acontece no feriadão de 7 de Setembro e, com política na veia, o governador Wagner disse que estará lá, dançando coladinho com dona Fátima. Pelo menos foi o que falou na AABB na sua última viagem a cidade. É provável que, nesses tempos bicudos, por lá apareçam, também, Souto e Geddel.