Os institutos cometeram muitas falhas nas eleições de Salvador
Agora que a poeira baixou e já estamos na campanha de segundo turno, com novas pesquisas à vista, podemos admitir com base nos números apresentados pelos três institutos nacionais - Vox Populi, Ibope e DataFolha - que aconteceram equívocos nas análises intermediárias e finais. O Ibope, com sua conta de chegar divulgada no dia anterior ao pleito (4/10) e com os números "boca-de-urna", no domingo, foi quem deu o resultado final mais aproximado à realidade das urnas.
O DataFolha, então, apontado como insuspeito pelos candidatos, cometeu uma derrapagem nos números finais, dia da eleição, sem detectar o avanço de Pinheiro no milharal eleitoral de Imbassahy, quando situou o candidato do PT com 22% atrás de Neto com 25% e de João Henrique com 31%. Ainda assim, isso representava votos de estimulada com margem de erro para mais ou para menos de 3%, que situava Pinheiro entre 19% (mínimo) e 25% (máximo). Pinheiro obteve 30.6%.
Outro que errou feio foi o Vox Populi. Nas quatro pesquisas em parceria com A Tarde e divulgadas neste jornal, Neto foi apresentado sempre como líder, até no sábado (4/10), quando tanto o DataFolha; quanto o Ibope já tinham revelado o avanço de João. O DataFolha deu Neto com 24% dia 1º/10 e João com 25% (PMDB líder); o Ibope 26% x 26% para os três candidatos, enquanto o Vox insistiu que João tinha 19%, Pinheiro 23% e Neto 26%.
Impressionante também foi à conta de chegar do Ibope entre as pesquisas de 29/9 e 4/10. Em 29/9, Neto tinha 28%; João 20% e Pinheiro 20%. Imbassahy tinha 13% e Hilton Coelho 3%. No dia 4/10, milagre de multiplicação dos peixes: Neto 26%; João 26% e Pinheiro 26%. Empate cravado e que demonstra, salvo melhor juízo, uma conta de chegar para não ter problema com nenhum candidato. O curioso é que Imbassahy perdeu apenas 4% quando a movimentação do eleitorado, se computarmos os avanços de Hilton (+1), Pinheiro (+6), João (+6) e Neto (-2) daria 11%. Esse Ibope realmente é fantástico.
Os candidatos criticaram os institutos cada qual ao seu modo, exceto Hilton. Imbassahy reclamou do Ibope quando este detectou sua queda de 27% (6/8) para 18% (25/8). O candidato "tucano" entendeu como uma sacanagem do Ibope uma vez que não havia motivos para isso, pelo menos na sua ótica. Há quem entenda que, nesse período foi exatamente o momento em que o marketing político do PMDB detonou a candidatura de Imbassahy, sem que ele reagisse. Confiou demais no eleitor e esperou a compreensão ao seu nome.
João Henrique disse "cobras e lagartos" do Ibope. Falou que esse instituto praticava molecagem, não era confiável (parceiro da TV Bahia), espinafrando seu adversário e filho de um dos donos da TV, por ironia do destino, hoje um dos seus apoiadores no segundo turno. Sobre o Vox, o prefeito nada falou. Temendo A Tarde engoliu a seco até o último momento, embora, o ministro Geddel tenha se expressado de forma dura contra a postura do jornal que editou uma pesquisa com campo atrasado às vésperas do pleito.
Sabe-se nos bastidores, que o senador ACM Jr - um dos donos da TV Bahia e pai de ACM Neto - ficou irado com a conta de chegar do Ibope, no sábado, igualando os três candidatos competitivos em 26%. Mas, nada pode falar de púbico uma vez que sua emissora, afiliada da Rede Globo, é quem patrocinada a pesquisa por determinação da emissora mãe. Pinheiro disse que só confiava nos "números" das ruas e evocava a campanha Wagner.
Ninguém falou nada do DataFolha sob a argumentação pífia de que se trata de um instituto que não "vende" seus serviços e presta sua credibilidade ao jornal Folha de São Paulo, embora tenha cometido o deslize final de colocar Pinheiro fora da margem de erro e, portanto, com impossibilidade de chegar ao segundo turno.
Passou. Agora não adianta chorar "lei derramado". O que se percebeu observando os números finais do pleito é que a ida de Pinheiro ao segundo turno se deveu, basicamente, a queda drástica de Imbassahy nos últimos 15 dias da campanha caindo de 18% para 14%/13%; e no dia da eleição de 14%/13% para 8.36%. Ou seja, Imbassahy perdeu 9.7% do seu eleitorado, o qual, promoveu o voto útil e optou por Pinheiro. Isso significa em termos numéricos algo em torno de 130 mil votos que migraram num período de 15 dias. É claro que nem todos foram para Pinheiro. Mas, a maioria foi.
Então, independente de "militância" petista, boca de urna eficiente do PT (e isso é verdade que aconteceu) e outras observações bobas que se fazem com carlismo e anti-carlismo (até porque uma parte dos votos de Imbassahy tem matriz carlista), esse foi o fenômeno que levou Pinheiro ao segundo turno. Se Imbassahy se mantém até o final na casa dos 13% (votos válidos) o embate final se daria entre Neto x João.
E por que João foi o líder? Porque fez a melhor campanha e todo mundo achava que ele estava "morto". Esqueceram dele e quando abriram os olhos ele já tinha comido 30.97% do milharal.