Tasso Franco é diretor deste site
Urna não é como barriga de grávida que o médico consegue indentificar com longo prazo de antecedência o sexo do bebê. E, cabeça de eleitor é uma das coisas mais difíceis de serem interpretadas, até mesmo pelo mais experiente analista de pesquisas.
Daí que, tomando por gancho um comentário de Cesar Maia com base em observações da diretora técnica do Ibope sobre a volatilidade do voto numa campanha municipal, muito mais rápida do que se imagina, em Salvador, apesar dos indicadores apontando ACM Neto como líder de todas as pesquisas até agora realizadas, nenhum dos quatro candidatos competitivos no pleito da capital está com o passaporte carimbado para o segundo turno.
O que existem são tendências. E, digamos assim, hoje, ACM Neto estaria no segundo turno. Mas, nada garante que estará no dia 6 de outubro. Pertinente, pois, a observação deste candidato, dando conta de que é necessário trabalhar 24 horas por dia até 5 de outubro, sem calçarem sapatos altos, ele e a equipe.
Ninguém se surpreenda, também, se acontecer um segundo turno entre Walter Pinheiro (PT) x João Henrique (PMDB), pois, ambos estão em curvas ascendentes, o que chamamos no marketing político de ondas em maré crescente.
Vamos lembrar alguns episódios das campanhas de Salvador:
Em 2000, Nelson Pelegrino, candidato do PT, patinou com 7% do eleitorado até meados de setembro. A partir do dia 15 daquele mês e ano pulou para 17%. Terminou com 37% dos votos válidos apurados. Foi uma surpresa e, por pouco, não impede que Imbassahy vencesse a eleição no primeiro turno.
Como se pode observar, Pelegrino cresceu 20% em 15 dias.
Na eleição de 2004, João Henrique (PDT) passou os primeiros momentos da campanha pau-a-pau com César Borges (PFL) na faixa de 25%. Depois, com as saídas de Maurício Trindade e Raimundo Varela do páreo e a volatilidade dos votos, João terminou o primeiro turno com 43% dos votos válidos.
Também conseguiu, em pouco mais de 1 mês, colocar na sacola + 20% dos votos.
As questões básicas são as seguintes: por que Pelegrino cresceu em 2000 (de 17% para 37%) e, em 2004, empacou em 21%? Por que quando Varela saiu em 2004, João cresceu assustadoramente e, agora, o apoio de Varela não fez ACM Neto crescer tanto?
No primeiro caso, porque, além da performance de Lídice (10% do eleitorado) na cola de Pelegrino disputando o mesmo segmento político, João Henrique se transformou num fenômeno eleitoral. Pelegrino sequer foi ao segundo turno. No segundo caso, porque Neto embora seja novo (em idade e idéias) representa um segmento velho na política (o carlismo), derrotado em 2006.
Hoje, a situação de Pinheiro é melhor do que a de Pelegrino, em 2004? . Sem dúvida. Porque além de contar com Lídice na vice, tem o apoio do governador (o que não aconteceu com Pelegrino, uma vez que Wagner foi eleito em 2006).
Mas, leve-se em consideração que Pinheiro é menos conhecido do eleitorado do que Pelegrino.
E João pode se transformar no fenômeno de 2004, com 43% dos votos? Não. Mas, pode conseguir votos para chegar ao segundo turno. Os sinais de crescimento de sua candidatura são evidentes.
É claro que cada campanha tem sua história e muitas vezes segmentos do PT costumam citar a campanha Wagner x Souto como paradigma.
Primeiro que campanha de governo é diferente da de prefeito. Segundo que, a tese dando conta de que a vitória de Wagner fora uma surpresa, diante das pesquisas do Ibope, não se sustenta, uma vez que o Ibope nunca disse que Souto iria ganhar a eleição.
Apenas apontou uma tendência no percurso da campanha, como está apontando agora ACM Neto na liderança. Também não se pode dizer que, o que aconteceu com Souto, acontecerá com Neto. São momentos e ambientes diferentes.
Em resumo: o que as pesquisas estão apontando até agora são intenções de votos que poderão ser confirmadas ou modificadas com o decorrer da campanha, especialmente na última semana e no dia da eleição.
Todo político sabe que eleição não se ganha de véspera.
E a migração, a utilidade do voto na cabeça do eleitor que ainda está indeciso só acontece na semana da eleição e/ou até mesmo no momento de votar.