Presidente chega hoje, à noite, e retorna amanhã, à Brasília
Em política nada acontece por acaso. Tudo tem uma razão de ser, um detalhe, um lance perspicaz, um jogo de sutilezas próprio de quem trabalha com cristais.
A visita do presidente Lula da Silva a Bahia em maio chuvoso, nesta quinta e sexta-feiras, apresenta algumas dessas artes da política, imperceptíveis ao grande público, porém, comentadas nos bastidores do tabuleiro da baiana.
Um desses detalhes é a presença do presidente em Itinga, distrito de Lauro de Freitas, município da Região Metropolitana do Salvador, para a solenidade que lançará o PAC da habitação com obras em Lauro e Salvador, e os recursos para a Via Expressa ligando o Porto da capital a BR-324.
Pela lógica, dimensão política e econômica da capital e outros atributos da velha Cidade da Bahia, o mais indicado seria uma solenidade no território de Salvador e não na vizinha Itinga.
Embora ambos municípios, como todos sabem, sejam governados por prefeitos da base do governo federal, há a sutil diferença de que o chefe do Executivo de Salvador, João Henrique, pertence ao PMDB; e a chefe do Executivo de Lauro de Freitas, Moema Gramacho, ao PT.
Nesse momento, faz diferença? Faz. E como faz. O PT ainda não conseguiu se organizar internamente para lançar um candidato de consenso à prefeito da capital, a visita do presidente Lula está até colaborando para que se definida essa unidade, daí que o cerimonial do presidente optou por Itinga.
Vir a Salvador para lançar um programa desse porte, no território do prefeito João Henrique, consequentemente na área de domínio político do ministro Geddel
Vieira Lima poderia suscitar interpretações de toda ordem, sobretudo levando-se em consideração que o prefeito tem um marketing televisivo muito mais ágil e agressivo do que o do governador.
Lula tem anos de experiência em política. O governador Jaques Wagner também possuiu longo currículo nesse segmento. É provável que tenham conversado sobre esse assunto? Só ambos poderiam revelar. Mas, dificilmente vão fazê-lo porque, embora o tabuleiro da baiana, abrigue acarajés, abarás, bolinhos de estudantes e outros petiscos, nesse momento está repleto de cristais.
E como com cristais não se brincam, quer porque podem ser quebrados após pequenas trombadas ou trincados ao menor descuido, a prefeita Moema Gramacho, figura emblemática do PT, servirá de anteparo a prováveis interpretações que venham a ser feitas.
Obviamente que Moema será a beneficiária direta da visita do presidente Lula uma vez que, no seu território, sem definições dos candidatos do PMDB/PP como seus adversários, e agora enfrentando apenas a pré-candidatura de Marcelo Abreu, do DEM, tanto Lula; quanto Wagner se sentirão à vontade.
Nesse tabuleiro de cristais o prefeito João Henrique certamente perderá a oportunidade de servir o seu acarajé com pimenta, pois, a visita do presidente, no seu território, se dará num hospital, ainda assim, sob a direção da Secretaria de Saúde do Estado.
Quanto a visita de Lula a Ilhéus, para o lançamento do PAC do cacau, aí já é outra história. Mais complicada e com cenários visando 2010. Sai-se do tabuleiro da baiana para o tabuleiro da Bahia.