O governo Jaques Wagner enfrenta movimentos grevistas que PT estimulou no passado
A greve dos professores da rede pública estadual do ensino de segundo grau, que durou 55 dias e se tornou uma das mais longas e emblemáticas da Bahia nos últimos anos, deixou no seu rastro algumas lições que devem estar sendo analisadas pelos estrategistas do governo do Estado, pelos líderes entre os professores e pelos pais e alunos.
O saldo apresentou-se como negativo para todos os setores envolvidos com o movimento, em especial, para os alunos, os mais prejudicados. Aliás, como sempre acontece, a corda sempre quebra para o lado dos mais fracos, em qualquer governo, independente de sigla partidária, uma vez que a educação, historicamente, só é prioritária no papel, nas promessas. E, na Bahia dos dias atuais, é a mesma pregação.
Mas, ainda assim, tanto para o governo; quanto à categoria dos professores, em alguns aspectos, esses dois segmentos podem considerar que obtiveram senão vitórias, pelos menos posturas que representaram pontos positivos. No plano do governo, a firmeza do governador Jaques Wagner ao encarar a greve na condição de comandante do Executivo e não de ex-sindicalista engajado em qualquer causa, preservou-lhe a autoridade e a manteve até o fim. No plano dos professores, a categoria saiu da greve fortalecida, respeitada e com o poder de fogo mais temido no Estado.
Outras questões reveladas no decorrer dos movimentos grevistas (leve-se em consideração, nesse caso, também a paralisação dos professores da rede estadual universitária; a paralisação de uma hora do pessoal do fisco; a greve branca dos policiais de Feira de Santana, anunciada pelo deputado capitão Tadeu; os movimentos da Força Invicta; a campanha em outdoors dos delegados de polícia, entre outras) apontam para a vulnerabilidade da Mesa Central de Negociações, fórum de debates dos reajustes e ganhos das categorias de servidores estatais que, se supunha inquestionável, e para as Mesas Setoriais, as quais, teriam funções de corrigir demandas específicas de cada categoria.
Como estratégias foram ações consideradas perfeitas, até porque inovadoras nas negociações em bloco com as categorias estatais. Na prática, no entanto, falíveis como quaisquer outras, uma vez que, a rigor, o que vale para os assalariados são os percentuais oferecidos de reposições ou ganhos nos seus salários, os quais, nem sempre a Secretaria da Fazenda concorda em conceder. E o exemplo recente mais sintomático dessa afirmativa foi o movimento paredista dos professores desejando não os 4.3% a 17.28% parcelados oferecidos pela Mesa Central e aprovados pela Assembléia Legislativa, mas 17.28% para toda a categoria.
A Mesa Central foi irrelevante?
Os professores consideram que sim na medida em que se discutiram, discutiram e discutiram muitas questões, ganhos, percentuais, reposições, níveis, desníveis, etc., mas, nem um tostão foi dado a mais além do que o aprovado pela Assembléia, ainda que, considerando 17.28% para todos os professores não desequilibraria o caixa da Fazenda que, segundo o secretário Carlos Martins, em exposição na própria AL para os deputados, disse que vai muito bem obrigado, com arrecadação acima de média no primeiro quadrimestre de 2007.
E porque Wagner comprou essa briga com os professores, trincou uma relação afetiva de anos?
Por que é governador e não pode abrir precedentes. Em fazendo isso, desmantelaria a estrutura da base salarial do seu governo, pois, se oferecesse um diferencial para esta categoria todas as demais bateriam à sua porta. Aliás, como já bateram (e estão batendo), mas, a porta se encontra devidamente fechada, com a chave do cofre no bolso.
E as Mesas Setoriais vão funcionar além de servirem de banco de dados para se montar uma massa crítica sobre a situação funcional dos servidores estaduais?
Esta é uma grande incógnita. Os fazendários estão na oitava rodada de negociações e o que deseja o pessoal do fisco, muito acima da média normal dos mortais, sobretudo dos paupérrimos professores, exigem até uma mudança estrutural no plano de carreiras, criando um cargo único para agregar num só bojo os auditores fiscais e os agentes de tributos, medida que é considerada inconstitucional, uma vez que a Constituição de 1988, estabeleceu concurso público para todos.
Óbvio que no momento em que o governo ceder a uma dessas categorias, as demais também vão querer avanços. Os delegados de Polícia desejam que seus salários sejam equiparados aos ganhos dos delegados do Estado de Sergipe. Os professores universitários desejam 27% de reposição e outras questões relacionadas à presença nas salas de aula. Os policiais militares de Feira de Santana querem tíquete refeição para não ficarem comendo de "carona" nos restaurantes da cidade. Os terceirizados querem ser efetivados.
A grita, portanto, é geral e natural, sobretudo agora depois que Wagner assumiu o governo (janeiro/2007) sendo depositário das expectativas criadas pelo PT ao longo dos anos na oposição na cabeça dessas pessoas, muitas incautas, e vê-se diante da realidade, diante dos números, diante da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Nessa condição de vidraça, o governador e o PT continuarão recebendo as pedras dos estilingues que tanto exercitaram.