Colunistas / Política
Tasso Franco

A OPINIÃO PÚBLICA MORREU

O teste para a opinião pública será na eleição municipal de 2008
22/05/2007 às 10:06
 Há quem diga, como o jornalista Caio Túlio Costa, presidente do Internet-Group, que reúne IG, Ibest e Br-Turbo, que a opinião pública está morta. Destaca que desde a queda de Fernando Collor do poder em tempo recorde (dez/1992), esse foi o último suspiro da opinião pública brasileira. De lá pra cá, fechou-se a tampa do caixão, sobretudo a partir de maio de 2005.

         Nunca no Brasil houve uma documentação tão relevante quanto aos escândalos envolvendo o governo do presidente Lula da Silva, máfias, sanguessugas, mensaleiros, corrupção endêmica, montanhas de dinheiro e nada aconteceu. O clamor da opinião pública não foi levado em consideração, os envolvidos estão soltos e Lula reelegeu-se.

         O que se passa? Porque a opinião pública, hoje, não está sendo levada em consideração?

Especialistas na matéria dizem que, há excesso de informações no espectro e, como os veículos que foram essa opinião são minoritários (jornais, revistas e internet) é possível se criar versões utilizando-se os veículos de massa (rádio e TV) com a informação que se quer, a chamada informação ao gosto do cliente.

         Como os pigmentos que foram à imagem nos mass mídia são fragmentados eles não permitem uma visualização por inteiro das questões, embaralha-se a cabeça das pessoas e a vida segue, no Brasil, como ela se expõe.

          O exemplo clássico desse conceito estabeleceu-se na última campanha eleitoral para presidente da República (capa da Veja, agosto de 2006) retratando a baiana Gilmara dos Santos Cerqueira, ensino médio, renda familiar de R$445,00  integrante do grupo de nordestinas que decidiu a eleição (8.5 milhões de eleitores).

         Para o pesquisador Carlos Lobão, do Dataqualy, um dos mais respeitados institutos de pesquisa da Bahia, o conceito de opinião pública da forma como era entendido, antigamente, das classes A/B foi para espaço. Hoje, diz, com a democratização dos meios de massa (rádio e TV) isso de modificou e, espacialmente, abrange as classes C/D que são as majoritárias do ponto de vista da quantidade de pessoas.

         No Brasil, as classes C/D somam 67% (36% de C; 31% de D), o mesmo acontecendo na Região Metropolitana do Salvador, com a diferença de que, embora sejam os mesmos 67% (29% são de C; e 38% de D). Ou seja, há mais pobres na RMS do que no Brasil, ou, como se diz tecnicamente em pesquisa, pessoas com menos índices de posse.

         Então, a rigor, não se pode dizer que a opinião pública morreu. Ela está se movimentando em direção a outras classes sociais, também formadoras de opinião, uma vez que, se antes essas pessoas da C/D se espelhavam nas classes A/B, aquela história de querer imitar os padrões dos ricos ou patrões; no plano das questões de natureza política, ideológica, religiosa, isso se modificou.

         Daí, a de se dizer, que o prefeito João Henrique (PDT) não está morto, dado a sua capacidade de orientar os fragmentos da sua mídia focando o que deseja e desprezando, completamente, a opinião pública formal. Tudo o que se passa em Salvador, no momento, pode ser revertido adiante.

         O assassinato de Neylton Souto na Secretaria de Saúde do Município e as suspeitas de ilícitos em contratos da Gestão Plena de Saúde são os mais graves fragmentos, do ponto de vista da comunicação. A oposição não tem forças para criar a CEI e as classes C/D/E, em Salvador, 77% da população, não entendem o fato da forma como ele se deu, capta apenas fragmentos, versões, passíveis de retoques em 2008.

         O mesmo pode se dizer do prefeito de Camaçari, Luis Caetano (PT), preso pela Polícia Federal na Operação Navalha, uma vez que, bem avaliado como se encontra, atualmente, no município, a depender do seu grau de envolvimento com a máfia comandada pela Guatama, poderá dar a volta por cima e se manter competitivo na reeleição em seu município.

         Óbvio que deixará de sê-lo na Bahia, porque enfrentará uma outra mídia, mais agressiva, mais esclarecedora, e o PT não correria esse risco, qualquer que seja o desfecho no STJ.

         Conclusão: na Bahia, em 2008, vamos verificar se a opinião pública vai fechar o caixão ou reagir nas eleições municipais.