Colunistas / Política
Tasso Franco

LEVANTA TUA VOZ BAHIA

As instituições baianas estão com a viola no saco, nada ouvem, nada vêem, nada falam.
14/05/2007 às 11:01
  Desde que o líder sindical Lula da Silva (PT) elegeu-se presidente da República, em primeiro mandato (2003/2006) e, mais recentemente, com sua reeleição acrescida com a ascensão de Jaques Wagner (PT), na Bahia, em 2006, que instituições nacionais com capítulos ou seccionais na Bahia, e outras nitidamente baianas, têm modificado (e muito) seus comportamentos.
Antes, atuantes em defesa dos trabalhadores, de causas sociais e ambientais, dos direitos humanos e outros, se transformaram em coadjuvantes de um processo político que, pelo menos até agora, não modificou a situação da população economicamente ativa.

  Ou seja: os trabalhadores (salvo raras exceções) continuam ganhando baixos salários, a violência só tem aumentado no país, as tragédias ambientais da mesma forma, os problemas sociais se avolumam e as questões relacionadas com os direitos humanos e outros, se situam no mesmo plano das décadas de 1980/1990 ou até bem piores.
  Agora mesmo, tivemos alguns momentos e eventos que revelaram o quanto essas instituições, ordens, organizações, associações e sindicatos modificaram suas condutas.

  No último dia 1º de maio, por exemplo, o que se assistiu em Salvador foi a disputa por grandes platéias em shows promovidos pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), no Farol da Barra, área que os operários abominavam porque era terreiro nobre da cidade; e a Frente Sindical, na Praça Castro Alves, esta com o sorteio de eletrodomésticos para regalar seus associados. De resto, como pôster reivindicatório da categoria, só uma imagem de Che Guevara, aposto acima de um cartaz da operadora de celular Vivo. Viva o Che, pois.

  No mais, tanto CUT; quanto a Força, levaram bandas de pagode e de reaggae para animar a galera, atropelando a data histórica com gritos do Psirico e batidas dos couros do Ilê Aiyê. O presidente da CUT, em pose de artista de TV, chegou a apresentar-se na telinha, em comercial, convocando os trabalhadores para o seu evento.

  O essencial, a luta dos trabalhadores por melhores salários e condições de trabalho, pouco ou quase nada.

  Outros exemplos sintomáticos dessas mudanças de comportamento ocorreram na Bahia, desde janeiro último, quer com o assassinato do servidor municipal, Neylton Souto, no interior da Secretaria de Saúde do Município de Salvador; quer diante da tragédia ambiental que se abateu em localidades do Recôncavo costeiras à Baía de Todos os Santos, com a morte de aproximadamente 50 toneladas de peixes, proibição da pesca e milhares de famílias passando necessidades; quer perante contratações de novos servidores estaduais pelo Regime de Direito Administrativo (REDA); ou no caso da agressão à Orla Atlântica de Salvador pela Prefeitura.

  E daí? Protestos mesmo só da imprensa.

  Aliás, a única que tem se mostrado altiva, sem encobrir este ou aquele caso, mostrando a realidade dos fatos e dando oportunidade a opiniões dos dois lados da notícia, sem, contudo, abrir mão do seu senso crítico.

  No mais, uma vergonha, um amofinamento geral das instituições, um compadrio sem limites, um acoberta daqui e dali sem pudores, que está fazendo com que essas organizações percam credibilidade, percam até a função de existirem.

  A polícia mandou prender uma subsecretária da Saúde de Salvador e uma consultora indicada por um secretário de Estado, envolvidas no crime de Neylton.

E, se o fez, não teria cometido irresponsabilidade. Determinou que as duas fossem para o xadrez porque teria mínimas provas para tal. E o que aconteceu? As mulheres além de serem soltas, vários órgãos da área médica publicaram matérias pagas nos jornais de Salvador as defendendo. Um órgão, inclusive, que é de fiscalização da profissão médica.

  No caso da tragédia ambiental da Baía de Todos os Santos, nem o arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, que é homem de extrema fé em Deus acreditou no que foi divulgado como causa morte dos peixes e mariscos. E, um órgão de defesa ambiental, o CRA, se transformou em órgão assistencialista.

  E os advogados? E os arquitetos? E os ambientalistas? E os engenheiros? E os procuradores? Nada. Silêncio total de suas instituições representativas, neste e nos outros casos.

  O REDA que era o demo, que era lúcifer, que significa belzebu, de repente, não mais do que de repente, se transformou numa coisa boa, digerível, no paraíso tropical, pois, é bom porque gera empregos e aqui na Bahia não existem empregos.

  Assim como a Cesta do Povo que era um ninho de ratos, uma camarilha, agora é boa porque regula preços, vai ser balcão de hortigranjeiros, não vai pagar propaganda de artistas da axé e assim por diante.

  Uma instituição universitária da Bahia, a mais tradicional, a mais respeitada, aquele que formatou as gerações que hoje e em décadas passadas de 1980 para cá dirigem o Estado, são a inteligência baiana, vê seu nome envolvida em contratos que são considerados suspeitos com a Secretaria de Saúde do Município e nada.

  Ninguém diz nada! Ninguém esclarece nada! O saudoso reitor Edgard Santos deve estar dando voltas em torno do salão de reflexão do céu. Santo, santo, santo.

  O governo do Estado nomeou um engenheiro eletricista para a área de comunicação social e a prefeitura colocou uma professora como subsecretaria de comunicação do município.
  Não é fantástico! É. Vamos comer brioches com a saudosa rainha Leolpodina.

  Já anunciaram, também, o cancelamento ao prêmio Jorge Amado e a área cultural do governo não quer nem ouvir falar em bicentenário da chegada da família real ao Brasil.

  E aí, meus senhores das letras, da geografia, da história, da literatura, vão também permanecer calados?

  A Bahia nunca foi submissa a nada, nem na época da recente ditadura militar. Daí que, não pode amordaçar sua consciência e sua inteligência.