Colunistas / Política
Tasso Franco

A CANDIDATURA DE VARELA A PREFEITO

A cidade do Salvador não está preparada para enfrentr uma nova proposta populista
26/02/2007 às 18:37
O radialista Raimundo Varela ensaia, mais uma vez, ser candidato a prefeito de Salvador, em 2008. Trata-se um sonho antigo agora acalentado com a possibilidade de apoio de uma base evangélica da Igreja Universal do Reino de Deus, instituição que controla a concessão da Rede Record, onde o radialista é, também, apresentador de um programa de televisão, crescendo, assim, a olhos vistos uma chance maior de emplacar a sua candidatura e à vitória eleitoral.

Óbvio que entre a possibilidade e a realidade vai uma distância muito grande. Além do que, como Salvador já experimentou um prefeito radialista no modelo populista, Fernando José, (PMDB-1989/92) e aquela administração não foi boa para a cidade e sua população, repetir essa dose com um perfil parecido, caso de Raimundo Varela, não é exatamente o que a população deseja, haja vista que, na atualidade da gestão João Henrique (2005/2008) os sinais até agora são de uma regularidade média baixa.

Daí que uma candidatura Varela, o qual, se utiliza da prerrogativa de apresentar-se como defensor dos pobres e oprimidos, mas, na vida real, põe-se como classe média alta com lancha na marina e flat na ilha de Itaparica, representa tudo aquilo que a cidade não deseja. Quer porque, Salvador e sua gente amadureceram e, ainda que tenha sido surpreendida pelo populismo forense de João Henrique, não pretendem repetir o modelo radialista populista; quer porque os partidos de maior densidade política, hoje, atuam em bloco e certamente não vão dar apoio a uma candidatura nessa direção.

Há de se dizer, e isso é real, que Varela tem votos porque em todas pesquisas preliminares eleitorais sempre pontua com percentuais que variam entre 20 a 30% o que representaria, sem dúvida e em tese, números bastantes elevados. Mas, também, há de se ponderar que, uma coisa é a fase preliminar da campanha e a outra é a propriamente dita, quando começa o embate, quando os pensamentos se alinham numa mesma planície e, como vemos, historicamente, os números de alteram, consideravelmente.

Hoje, Varela é dono de três microfones: na Rádio Sociedade, comentários gerais; na TV 5, também observatório geral; e na TV 5, comentários sobre futebol. Leva, portanto, ainda que jure de pés juntos não ser candidato a prefeito para não cometer infrações à legislação eleitoral, óbvias vantagens sobre os demais nomes que estão se apresentando no âmbito dos partidos e em algumas citações de matérias publicadas na imprensa. Casos de: Nelson Pelegrino (PT), João Henrique, o qual, já se apresentou com postulante à reeleição (PDT); Antonio Imbassahy (PSDB); Gedel Vieira Lima (PMDB), Benito Gama (PTB), Lídice da Mata (PSB), Olívia Santana (PCdoB) e José Carlos Aleluia (PFL).

De forma que são nomes todos com densidade eleitoral para mais ou para menos, salvo os casos do PTB e PCdoB, com percentuais que variam entre 10 e 20% do eleitorado, cada um deles. Ainda é muito cedo para se saber se esses nomes citados enfrentarão a disputa por suas legendas, sem coligações no primeiro turno, ou se já farão alianças nessa fase. Na ponderação dos candidatos a vereador há sempre o desejo de que, cada legenda, na fase de primeiro turno enfrente a disputa, isoladamente, permitindo, assim, um palanque ou campanha onde possam se agregar. A representação da Câmara é assim, fragmentada, com uma miscelânea de partidos.

Mas, também, há quem advogue alianças já no primeiro turno. E, neste caso, estaria, preferencialmente João Henrique, o qual, comanda uma administração onde existe uma coalizão de 15 partidos. Até quando João vai manter essa unidade só Deus sabe. Por seu turno, os integrantes desses partidos vão levando o barco em maré mansa, mas, todo mundo no meio político sabe a maré de março do próximo ano será fatal e o PT, por exemplo, que se aliou no segundo turno, em 2004, com Jacques Wagner no governo e a legenda florescente vai ter candidato próprio, e assim por diante.

Então, o bloco que vigeu no segundo turno de 2004; pode, não necessariamente, ser o mesmo de 2008. Ademais, como inserir Varela nesse contexto se, hoje, ele se encontra num partido nanico e não existem sinais de que as legendas de porte lhes darão espaço, agora e no futuro, mormente dois candidatos (João Henrique e Antonio Imbassahy), hoje, alvos preferenciais de ataques de Varela na TV, e mais o PT que tem um projeto próprio na sua linha de atuação política que passa ao largo do populismo vareliano!

Em política tudo é possível. É só lembrar que Fernando José desbancou Gilberto Gil, no âmbito do PMDB, e depois venceu Virgildásio Sena; e João Henrique veio comendo todo mundo pelas beiradas com seu populismo de liminares e chegou ao segundo turno com mais de 40% dos votos na algibeira, sendo depois consagrado com um percentual superior a 70%. Talvez seja inspirado nesses exemplos que Varela esteja sinalizando, aqui e acolá, sua candidatura à candidatura para assumir a função máxima no Palácio Tomé de Souza.

Até lá, no entanto, há ainda muito chão a ser trafegado e do outro lado do front existem políticos profissionais, gente do ramo da política, os quais, não enxergam com bons olhos pessoas que vêem com idéias mirabolantes, projetos populistas, salvadores da Pátria, amigos do povo, defensores dos pobres e oprimidos, pátio dos miseráveis, quando, a rigor, esse tipo de gente visa exclusivamente o poder.