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ANGELO CANJA LANÇA CARREIRA SOLO COM VERSÁTIL ÁLBUM INSTRUMENTAL

Dia 31 de agosto
Tatiane Freitas , Salvador | 30/08/2021 às 19:21
Angelo Canja
Foto: Luã Borges

Foram 15 anos de espera, mas para o compositor, arranjador, produtor e guitarrista Angelo Canja, “Vem Coisa Boa Pelaí” surgiu no momento certo. Conhecido pela versatilidade em transitar com talento por ritmos distintos como axé music, rock, reggae, blues, pop e até arrocha, o renomado sideman da música baiana lança o primeiro disco autoral da carreira, instrumental e gravado em casa durante a quarentena imposta pela Covid-19. A pandemia inclusive é o tema incidental do trabalho, que chega a todas as plataformas de streaming pelo selo Digital Ruffo amanhã (31).

 

O projeto ainda leva a chancela de ser um dos contemplados pelo “Prêmio das Artes Jorge Portugal 2020 - Premiação Aldir Blanc Bahia”, da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb) com direcionamento da Secretaria Especial da Cultura, do Ministério do Turismo, Governo Federal.

 

Desejado há algum tempo, o álbum nasceu impulsionado pelo desafio e pela necessidade do músico de se recriar e se manter ativo no cenário cultural devastado pelo Coronavírus nos últimos meses. Quase que como uma terapia, Canja aproveitou o contexto para compor muito e ativar parcerias interligadas pela internet. Ao todo são oito faixas que mostram toda a inventividade e verve criativa do artista. As canções passeiam com propriedade por temas e estilos que aparentemente não combinam, mas trazem na guitarra de Canja uma unidade quase única, marcante e transparente.

 

Com a baianidade explícita desde o título, “Vem Coisa Boa Pelaí” tem produção musical e arranjos de Enio Nogueira e do próprio Angelo Canja. Conta ainda com a produção executiva de Rafaela Moreira, projeto gráfico de Luã Borges, mixagem e masterização de Hugo Rodrigues e Victor Vaughan, além das participações de Miguel Freitas (bateria), Lívia Mattos (sanfona), Japa System (percussões eletrônicas) e Igor Gnomo (guitarras). Tudo gravado em home estúdio e na casa de cada um, com produção toda online.

 

“Esse álbum foi como uma ‘discoterapia’ para mim. O momento era de terra arrasada, muitos sentimentos contrastantes, perdas e um clima geral de abatimento por tudo que estava acontecendo.  O trabalho foi criado durante o período de pandemia quando o desafio de estar longe dos palcos e sem atividades trouxe a necessidade de reinventar meu vínculo com a música, resgatando outros aspectos da criação e fazendo ressurgir o modo despretensioso de tocar e criar”, explica, Canja. 

 

Até por isso, as composições remetem a sentimentos e situações vividas nesse período. Desde “Pandemia” (faixa que abre o disco com um trap que dialoga com a eletrônica e o rock, com uma guitarra cortante representando o susto inicial), até “Luz”, a mais calma entre todas, que fecha o projeto com uma alusão à vacina e à luz no fim do túnel. Também criadas de forma espontânea, as outras canções misturam beats, riffs, acordes, solos e harmonias em diferentes texturas originais. Tanto que “Resistência” (participação Japa System) é um samba-reggae com rock para transpor os inevitáveis conflitos em casa (das pequenas coisas) da quarentena. Conflito que também se faz presente em “A Rocha” (com Lívia Mattos e Ênio Nogueira), quase perdida e afobada no tempo da pandemia, reflete uma desconstrução da célula do arrocha, que nunca se forma realmente no arrocha e acaba virando uma cúmbia. Escolhida como a música de trabalho, a delicada “Por Dentro” tenta representar as boas energias, com quebras entre harmonias leves e tensas. Destaque também para “Frevo que Chora”, melancólica e com belo dedilhado em homenagem a Moraes Moreira; “Dodjo”, que busca a sanidade mental em um pop meio dark que destoa totalmente do restante em arranjos; e “Rumos” (com Igor Gnomo), que surpreende no diálogo entre eletrônico com o jazz. 

 

 

“Minha história é de versatilidade, do axé até o rock, sempre perambulei bastante, passei por inúmeras bandas e em todas gravei discos, mas nunca tinha conseguido colocar nada meu para fora. Até pelo momento, o processo foi bem penoso, doloroso, mas no final foi gratificante estar em outro lugar. A ideia é contar histórias de como tempos difíceis podem nos tornar fortes e mais cientes para construir um futuro de coisas boas pela frente”, define Canja.

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