O programa de fomento Carnaval Ouro Negro, da Secretaria de Cultura da Bahia (Secult-BA), vai apoiar, pelo segundo ano consecutivo, o desfiles dos blocos de matriz indo-euro-afro, com matrilínea africana no Carnaval.
São 117 entidades, entre afoxés e blocos afros, de samba, de reggae, de índio e de percussão, que já começaram a receber recursos que variam de R$ 15 mil a R$ 100 mil. No total, o programa está investindo R$ 4,2 milhões, número superior aos R$ 3,6 milhões repassados em 2008 para as 104 agremiações que participaram do primeiro ano do programa.
"Mais uma vez, antecipamos 50% dos recursos antes do Carnaval, garantindo a produção do desfile desses blocos", explica o secretário de Cultura Márcio Meirelles. Na opinião do secretário, o repasse dos recursos do Programa Ouro Negro é um estímulo à organização, administração e estruturação dessas entidades.
"Além de garantir o apoio às entidades carnavalescas de matriz africana no Carnaval, temos estimulado também a busca de sustentabilidade por essas entidades. Elas são parte essencial da festa e são as principais responsáveis pela sua diversidade cultural," completa o secretário.
PERCUSSÃO
Este ano, uma das novidades é que 12 blocos de percussão passaram a integrar o Carnaval Ouro Negro. Os recursos destinados a cada uma das 117 entidades cadastradas pelo programa e também pelo Conselho do Carnaval foram definidos a partir de critérios pré-estabelecidos e acordados por todos.
Os afoxés, homenageados oficiais do Carnaval 2009, receberam R$ 10 mil a mais do que em 2008, através de uma parceria entre a Secretaria de Cultura e o Instituto de Gestão das Águas e Clima (Ingá). "A participação do Ingá se insere na perspectiva de um Carnaval sustentável, em que o cuidado com o elemento água precisa ser difundido na conscientização da população", diz o diretor-geral do Instituto, Julio Cesar de Sá da Rocha.
Um catálogo ilustrado do Carnaval Ouro Negro, bilíngüe, com informações sobre o programa e com o perfil de todos os blocos apoiados, foi elaborado pela Assessoria de Comunicação da Secult-BA, com apoio do Ingá e da Secretaria de Turismo (Setur), que junto com a Bahiatursa e com sua Coordenação de Turismo Étnico, desenvolverá, ao longo de 2009, ações de promoção nacional e internacional do catálogo. Além de promover e dar visibilidade a essas entidades, atraindo novos foliões, a publicação também tem como objetivo potencializar a captação de patrocínio. O lançamento ocorrerá antes do Carnaval, com a presença do Governador Jacques Wagner e dos dirigentes dos 117 blocos que integram o programa Ouro Negro.
Da mesma forma como em 2008, a TVE fará novamente a transmissão do Carnaval Ouro Negro, com ênfase na valorização dos afoxés e dos blocos afro e de samba e afoxés, na Barra, no Pelourinho e no Campo Grande. A participação de comentaristas, como o historiador Jaime Sodré e a antropóloga Goli Guerreiro, vão contextualizar a folia com reflexão e informação.
Democratização dos
recursos e fiscalização
O programa Carnaval Ouro Negro foi criado seguindo orientações do Ministério Público e da Procuradoria Geral do Estado, que, em 2007, listaram uma série de exigências para o repasse de verbas para entidades carnavalescas. O objetivo foi evitar a repetição de problemas de prestação de contas e conflitos no rateio das verbas, registrados no Carnaval de anos anteriores. "A prestação de contas desses grupos tem sido muito bem feita. Das 104 entidades que participaram do programa em 2008, apenas duas tiveram problema com a prestação de contas", comemora o coordenador para ações do carnaval, Edivaldo Bolagi.
Para garantir a aplicação dos recursos, uma equipe da Secult-BA fiscaliza os desfiles e analisa as informações prestadas pelas entidades no momento do cadastramento, como o número de foliões e de saídas nos circuitos, a indumentária, os equipamentos utilizados, entre outros.
De acordo com o coordenador de Carnaval da Secult, as entidades de matriz africana mantêm as tradições carnavalescas populares e negro-mestiças e ao mesmo tempo são a principal força produtora da permanente renovação musical, coreográfica e estética do Carnaval. O programa Carnaval Ouro Negro também valoriza o trabalho das entidades carnavalescas de matriz africana que realizam projetos culturais, durante todo o ano, em suas comunidades, e que encontram no Carnaval a possibilidade de dar visibilidade a suas ações. "Os blocos de matriz africana possuem um forte trabalho social e de desenvolvimento humano através da cultura", explica Bolagi. "Eles são importantes porque utilizam a cultura e o entretenimento como ferramentas para promover o desenvolvimento local."
Curso de capacitação em 2009
Depois da festa, o programa Carnaval Ouro Negro terá continuidade, a partir de abril, com um curso de capacitação voltado para os dirigentes dos blocos, realizado em parceria com o Sebrae. O Curso de Gestão Cultural, lançado em novembro de 2008, está estruturado em cinco módulos e vai fornecer subsídios para a elaboração de projetos, prestação de contas, financiamentos culturais, estratégias de negociação e produção cultural. Além de traçar um plano coletivo visando possíveis empresas patrocinadoras do desfile dos blocos a partir do Carnaval de 2010, o programa vai traçar o perfil de cada bloco para permitir a captação individual dos recursos.
Em dezembro, o Sebrae realizou uma palestra sobre empreendedorismo para diagnosticar o perfil empreendedor das lideranças dos blocos. Diferentemente da grande maioria dos blocos de matriz africana, Olodum, Filho de Gandhy e Ilê Ayê possuem capacidade de gerenciamento que lhes permite a busca por patrocínio privado, dando retorno à marca patrocinadora e atraindo recursos para o bloco. Com o programa Carnaval Ouro Negro, a Secult espera que, ao final do curso de capacitação, outras entidades possam atrair também o interesse de patrocinadores, contribuindo para a maior inserção dos segmentos apoiados pelo programa Carnaval Ouro Negro na economia do Carnaval.