Os critérios, até onde se pode entender tomando-se como parâmetro o Carnaval passado, obedecem a importância e trabalho dessas entidades junto às suas comunidades, os menores recebendo menos, algo em torno de R$15 mil a R$20 mil; e os maiores recebendo mais, entre R$80 mil e R$100 mil o que é perfeitamente natural. Em 2008, não houve reclamações, salvo um ou outro que se sentiu mal enquadrado nesse critério.
É claro que se o governo for abrir às "burras" não há dinheiro que chegue e todo mundo vai querer se classificar como um Olodum e/ou um Filhos de Gandhy. Mas, já que estamos falando de um governo com princípios republicanos, democrático, aberto, e essa tem sido uma fala permanente do governador Jaques Wagner, bem que a Secult deveria colocar um item importantíssimo nas relacões institucionais das entidades, qual seja, de só liberar recursos para aqueles que adotarem as renovações de suas diretorias através de eleições diretas.
Fala-se muito no Carnaval de Salvador, nas raizes de toda natureza, de discriminações, de falta de apoios dos poderes municipal e estadual, do valor que as entidades fora do grupo dos blocos de trios estilo axé têm para a cultura carnavalesca, mas, quando o assunto é democracia nessas agremiações, ninguém quer saber disso de forma alguma. Salvo o Filhos de Gandhy e uma ou outra entidade, a maioria é organizada e dirigida por grupos familiares, imutáveis, e que veem se perpetuando no poder há anos, sem abrir espaços para outros participantes diretivos.
Em outras palavras: os blocos têm donos. E não se fala mais nisso. Não vou citar nomes porque a situação é geral, ampla e irrestrita. São os mesmos que dão as regras todos os anos nas suas entidades, algumas consideradas empresas patrimoniais familiares, e abençoam subsídios do governo e quem mais se dispuser, sem reclamações mais contundentes. Assim que o Conselho de Cultura do atual governo assumiu o comando das diretrizes nesse setor, no estado, falou-se que haveria uma mediação no sentido de reorganizar o fluxo do Carnaval de maneira a atender a todos, de forma democrática e participativa.
Ora, se as entidades não têm democracia, como se daria essa mediação ou interpretação? Não se daria como não se deu até agora, salvo pitacos aqui e acolá de que o Carnaval serve a poucos e deve mudar. Essa, aliás, é uma conversa que vem se arrastando há anos e o poder público não muda, simplesmente porque não é da natureza de sua gestão, e o Carnaval, tanto nos blocos de trios, os chamados blocos das estrelas e os intermediários, quando nos blocos indo-euro-afros (índios, samba, afros propriamente ditos, afoxés, etc) virou um negócio.
Ninguém quer mexer nisso na forma estrutural. Pode haver um protesto aqui; um outro acolá; alguém que se sentiu preterido por falta de patrocínio de empresas privadas, mas, no geral, tá todo mundo satisfeito com essa geléia empresarial geral, uns ganhando mais do que outros, mas todo mundo tirando sua lasquinha. É claro, óbvio, patente, matemático, que muitas entidades têm seus valores culturais e isso, ninguém pode negar. Mas, acabou o sentimento carnavalesco puro, de um grupo de rapazes que foi à avenida e lançou um bloco, como nasceram Os Internacionais e Os Corujas e alguns outros.
Hoje, e já algumas décadas, só se fala em marketing, merchandsing, apoios empresarial e institucional, mídia, exposição na TV, espaços alternativos - camarotes - e uma série de ingredientes onde a cultura fica no terceiro e/ou quarto planos. Algumas dessas entidades estão buscando apoios fora do país como aconteceu com o Olodum e o governo da África do Sul, e o Cortejo Afro e suas relações internacionais com personalidades manjadas desse circuito. A Timbalada, em passado recente, tentou uma aproximção com James Brown, sem sucesso.
Caso o governo do Estado com seu patrocínio do Carnaval Ouro Negro decidisse pelo critério da democracia, de eleições diretas já nas entidades, como se falou recentemente em relação ao Esporte Clube Bahia, pouquíssimos, menos de 5% desses blocos receberiam a ajuda. E seria salutar ao processo de relações institucionais do Carnaval. Mas, ninguém quer falar nisso porque a democracia nessas entidades é um ente institucional para o discurso, para a demagogia. Agora, na prática, na real, não funciona e se trata de uma palavra que ninguém quer ouvir ou debater. Os caretas são bons de gogó para falar de discriminações, fala de apoios e coisas do gênero. Agora, mexer nos seus privilégios, nem pensar.
Está aí, portanto, um grande desafio para o Conselho de Cultura, para a Secult ou para quem se dispuser a colocar esse debate na mesa. Só lembrando: tem um dirigente de uma entidade afro-baiana que está há quase 30 anos no poder, como um paxá.