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CARNAVAL MARCADO PELO SHOW DESPREZOU A CAPOEIRA E A CULTURA LOCAL

Para onde vai o Carnaval?
| 05/02/2008 às 23:24
Grupo do Malê, um dos poucos a reverenciar a capoeira (Foto/Robson Mendes)
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  O Carnaval de Salvador 2008 se encerra desprezando parte da cultura nacional e dedicando-se de corpo e alma ao show-bizz e ao mercantilismo, a exceção de algumas poucas entidades que ainda reverenciam a cultura local.

   Uma dessas entidades foi o Malê Debalê, bloco afro do bairro de Itapuã, um dos raros a homenagear ou lembrar o tema da festa, a capoeira.

    Embora tenha se falado da diversidade musical da festa, o que é uma realidade, pois se tocou da música axé ao reaggae jamaicano, do samba ao afoxé, maltrataram tanto a poesia neste 2008 que foram pescadas em palheiro as boas composições.

   A rigor, não houve um destaque, algo que emocionasse a cidade, como aconteceu com Faraó, Maimbê, Canto da Cidade e outras  peças musicais.

    A única composição que levantou poeira, para se utilizar uma expressão ivetiana, se é que se pode chamar de canção a música Toda Boa, interpretada pelo cantor Márcio Vitor com forte lobby cercando-a de todos os lados, inclusive com apoio da rainha da Axé, Ivete Sangalo, é de uma mediocridade poética de arrepiar os cabelos carapinas de Capinam.

    Mas, o Carnaval tem dessas interpretações, sobretudo quando são utilizados os meios de comunicação e de marketing moderno.

    As canções dos blocos afros sumiram do mapa. Estão confinadas a guetos próprios e cantadas em espaços limitados salvo talvez o Olodum que tem se utilizado da internet para difundir as suas peças musicais mundo ocidental à fora.

    O Araketu que era uma oficina de criatividade se entregou a mesmice carnavalesca dos blocos de trio. O Ilê precisa dar uma repaginada. OsNegões idem-idem. O Muzenza sumiu. 

    DEPOIS 
    DO
    CARNAVAL

    Certamente vão aparecer depois do Carnaval aqueles que defendem mudanças e outras bobagens mais. Uma delas já está na praça posta no sentido de retirar as cordas dos blocos, uma medida politiqueira.

    Outras virão e é possível que novos seminários sejam organizados, mais uma vez para discutir o óbvio.

   O Carnaval de Salvador se transformou num show-bizz, tem apoio da midia nacional e suporte de empresas nacionais e multinacionais, se tornou um produto vendido em vários estados e até em alguns países e modificar essa lógica durará décadas, como todas as mudanças que já aconteceram ao longo da história do Carnaval.

   Estão aí à luz da história numa primeira fase entre 1884/1950 com o advento do trio elétrico; 1950/1970 com expansão do trio e surgimentos dos blocos afro politizados; 1970/1985 com a voz no trio, afirmação dos afros e recuperação dos afoxés; 1985/2007 fase atual da axé música e essa miscelânia de afros, samba, reaggae, pagodes e afoxés.

   Quando virá um novo modelo: só Deus sabe.