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TASSO FRANCO COMENTA: MINISTRO DA CULTURA, DOM JOÃO VI E O 2222

Esse é nosso ponto-de-vista.
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| 03/02/2008 às 12:02

                Estamos vivenciando neste mês de janeiro a passagem dos 200 anos de chegada da Corte Portuguesa ao Brasil. Hoje, os historiadores são unânimes em afirmar que se Dom João VI não tivesse se estabelecido no Brasil por 13 anos  (1808/1821) não existiria o Brasil com a unidade territorial que se formatou e sim quatro brasis, pelo menos. Ou seja, o Brasil seria uma América Latina portuguesa com vários países pequenos ou médios, a exemplo do que aconteceu com a dominação espanhola.

                            
            Também se sabe que, Dom João VI, apesar dos franguinhos que gostava de comer em excesso e de sua ligação quase sacerdotal com a igreja católica, foi um rei que soube se equilibrar no poder num dos momentos mais delicados e de transformação da Europa. Portanto, do mundo ocidental. Ademais, na Bahia, o então príncipe regente assinou o seu ato mais importante (abertura dos portos) e aqui deu o ponta-pé inicial para organização dos cursos superiores no Brasil.

           
          A Bahia, nesse momento e já algum tempo, tem a felicidade de ter como ministro da Cultura, um baiano notório, Gilberto Gil, expressão importantíssima no cenário da música popular brasileira e outros movimentos nacionais, todos de notório saber e divulgação plena.

     
           O que se estranha, nesse instante, é o silêncio de Gil em relação a esse evento que agora se comemora e a pobreza do cenário cultural baiano que, praticamente nada produziu de relevante para mostrar ao país. Em sendo Gil baiano e a Bahia estando inserida no contexto da histórica como peça importante na formatação da unidade nacional, daí que até Dom João VI percebeu isso ao aportar em Salvador, na Baía de Todos os Santos, em 22 de janeiro de 1808, supunha-se que o Minc e os chamados intelectuais locais se movimentassem. Nada.


                Na outra ponta da questão, causa um certo constrangimento pátrio um ministro de Estado se envolver num camarote de Carnaval com patrocínios de empresas privadas. Lí, recentemente, numa coluna social de Salvador que Gil estaria disposto a barbear-se no 2222 com o objetivo de promover uma marca de produto de beleza. E mais faz e já fez, porque seu nome é importante para as empresas, apesar da indiscutível competência gerencial de sua esposa e equipe.


                Fico a imaginar o que seria do ministro da Cultura da Itália promovendo um quiosque de máscaras no Carnaval de Veneza ou do ministro da Cultura da Inglaterra se afeitando no Carnaval do bairro Norte de Londres e qual seria o comportamento crítico da imprensa internacional diante de tais fatos.  


                Na Bahia/Brasil, o fato de um ministro organizar um camarote onde existem patrocinadores de empresas privadas, onde se vende de tudo, causa espécie que uma crítica mais dura e contudente não seja direcionada nesse sentido, obviamente, salvo raras exceções. Ademais, o Ministério Público Estadual que fica se apegando a bobagens, a bagrinhos como foi o caso do Rei Momo Magro, um concurso que, historicamente, sempre esteve mais relacionado a iniciativa privada do que a Prefeitura, poderia se concentrar, por exemplo, no 2222.


                Pode ser tudo legal e ninguém duvida disso. Mas, do ponto-de-vista ético, moral, não cai bem para um ministro, quer seja ele da cultura ou de qualquer outra pasta, se envolver numa peripécia dessa natureza.


                Diria, mesmo, que como a cidade da Bahia passa por momentos de transformações muito sobrenaturais, lembrei-se do finado jornalista Aurélio Velame que profetizava a antecipada chegada do fim do mundo.  Chegou.