- A capoeira tem feito muito pela cultura do nosso povo - argumenta Mestre Bamba - e para se ter a idéia da grandeza dessa expressão artístico-cultural eu cito como exemplo a rápida difusão que a capoeira vem tendo no exterior. São mais de 100 países que vêm adotando a capoeira que começa a se converter em prática esportiva, principalmente nos Estados Unidos onde o número de adeptos vem se multiplicando vertiginosamente, criando oportunidades e, sobretudo, divulgando o nome do nosso Estado que podemos considerar o berço da capoeira.
Mas a difusão, segundo o Mestre Bamba, não fica restrita somente aos Estados Unidos. Atinge também vários países europeus, como a França, Bélgica, Holanda, dentre outros onde estão sendo implantados núcleos de capoeira com a presença de capoeiristas baianos. Bamba acrescenta que a capoeira como tema valoriza e internacionaliza mais ainda o Carnaval da Bahia que agrega mais um atrativo que será convertido com o aumento do fluxo turístico, o que representa mais recursos para o Estado e Município.
Para Bamba, recursos de expressividade é o que não faltam para a exploração do tema e assim ele sugere do ponto de vista da programação visual o uso de imagens de Zumbi de Palmares, a estilização ou customização de abadás e dos outros tipos de indumentárias típicas do Carnaval, iconografias dos mestres locais da capoeira, além do berimbau. Enfim, a temática é riquíssima no aspecto visual, segundo Bamba, que aponta também a diversidade dos ritmos, a sonoridade como elementos que podem ser amplamente explorados.
Paradoxos
A escolha da capoeira como tema carnavalesco do próximo ano, de acordo com o Mestre Bamba, evoca simultaneamente um paradoxo e o valor da resistência. Paradoxo, segundo ele, na medida em que na década de 90 do século XIX houve repressão ostensiva a essa prática consubstanciada em decreto assinado pelo então presidente da República, Marechal Deodoro da Fonseca, que condenava à pena de dois a seis meses de prisão, na Ilha de Fernando de Noronha, para quem fosse flagrado praticando capoeira e aplicação de pena dobrada se o elemento pertencesse a algum grupo e hoje, tema de Carnaval.
Aqui na Bahia, no auge da repressão, segundo relata Mestre Bamba, os capoeiristas levavam baianas para as rodas de capoeira e quando pressentiam a aproximação da polícia eles dissimulavam para uma roda de samba. Com isso o processo de resistência foi se ampliando e a capoeira foi incorporando novos adeptos, novos simpatizantes que davam abrigo aos capoeiristas.
A culminância da resistência, segundo historiadores, foi protagonizada pelo presidente Getúlio Vargas que, ao assistir a uma exibição de capoeira, em 1937 no Rio de Janeiro, descriminalizou-a, decretando-a como esporte genuinamente nacional.