Saúde

APRENDER A OUVIR O CORPO É ESSENCIAL PARA O BEM-ESTAR DA MULHER

Com rotina acelerada e mudanças hormonais ao longo da vida, aprender a ouvir o corpo é essencial para equilíbrio e bem-estar da mulher

Eleve Comunicação , Salvador | 12/11/2025 às 05:29
Dra. Patrícia Sanches
Foto: Divulgação
Segundo dados divulgados pelo IBGE em 2024, as mulheres dedicam cerca de nove horas a mais por semana do que os homens aos cuidados domésticos e familiares. Essa sobrecarga, somada às exigências profissionais e emocionais, contribui para o aumento do cortisol, o chamado “hormônio do estresse” que, em excesso, pode causar ganho de peso, ansiedade, irritabilidade, queda de imunidade e distúrbios do sono.

“O cortisol é essencial para a sobrevivência, mas quando produzido em excesso, desregula todo o sistema. O grande desafio da mulher moderna é equilibrar produtividade e autocuidado, porque viver em alerta constante mantém o corpo em estado inflamatório e acelera o envelhecimento”, explica a ginecologista integrativa, Dra. Patrícia Sanches.

A pressa virou rotina e o preço, muitas vezes, é a saúde. Com o acúmulo de funções dentro e fora de casa, desacelerar deixou de ser um luxo para se tornar uma necessidade. Para muitas mulheres, especialmente após os 40 anos, compreender o impacto do estresse e o papel dos hormônios no corpo é o primeiro passo para restabelecer o equilíbrio. 

“A saúde feminina vai muito além dos hormônios. Ela é resultado de uma integração entre corpo, mente e emoções. Envolve equilíbrio metabólico, intestinal, imunológico e também o modo como a mulher se relaciona consigo mesma e com o mundo”, destaca Dra. Patrícia.

 

Mulheres representam a maioria dos afastamentos 

Dados de 2024, da Previdência Social, mostram que o Brasil registrou mais de 470 mil afastamentos por transtornos mentais, como ansiedade e depressão. Esse dado indica um aumento preocupante de 68% em comparação ao ano anterior, refletindo a crescente preocupação com a saúde mental no ambiente de trabalho.

As mulheres representam 64% desses afastamentos, com idade média de 41 anos, e predominância de quadros de ansiedade e depressão. A sobrecarga é apontada como uma das principais causas do adoecimento: a dupla jornada, que combina trabalho remunerado com tarefas domésticas e cuidados com a família, somada a metas inatingíveis, falta de recursos e horas extras não remuneradas, contribui para níveis crescentes de estresse.

A ausência de uma rede de apoio agrava o cenário. Sem suporte adequado para dividir as responsabilidades do dia a dia, muitas mulheres enfrentam exaustão física e emocional um reflexo direto das pressões impostas pela rotina moderna e da dificuldade de equilibrar múltiplos papéis.

Como desacelerar na prática

Desacelerar, porém, está longe de ser simples. Para muitas mulheres, especialmente aquelas com filhos pequenos, conciliar trabalho, casa e responsabilidades familiares torna o autocuidado um desafio. A chamada jornada dupla faz com que o tempo para si mesma seja frequentemente adiado, e desacelerar passa a parecer um privilégio difícil de alcançar. Ainda assim, reconhecer os próprios limites e buscar pausas possíveis é parte essencial do cuidado com a saúde física e emocional.

“Cuidar de si deve ser um ato diário e de prioridade. Práticas simples como respiração consciente, meditação, sono reparador, alimentação saudável e exercícios regulares ajudam a regular o cortisol. Além disso, ter momentos de prazer, conexão e relaxamento é fundamental. O corpo feminino precisa de pausas para se regenerar e isso também é terapêutico”, explica Dra. Patrícia.

O sono, por exemplo, é um dos pilares mais negligenciados e, ao mesmo tempo, mais poderosos da saúde hormonal. “Durante o sono profundo, há liberação de hormônios essenciais como GH, melatonina e leptina, que influenciam energia, imunidade e metabolismo. Dormir pouco ou mal reduz a produção desses hormônios, aumenta o cortisol e desequilibra todo o eixo hormonal”, reforça.

Outro eixo importante é o intestino, considerado pela ginecologia integrativa um verdadeiro órgão endócrino. “É no intestino que ocorre a metabolização e o equilíbrio de diversos hormônios, incluindo o estrogênio. Quando há disbiose, um desequilíbrio da microbiota intestinal, podem surgir inflamações e sintomas como inchaço, TPM intensa e alterações de humor”, orienta a especialista.

Atenção especial a partir dos 40 anos

Esse olhar mais amplo é especialmente importante no climatério, fase que antecede a menopausa e costuma ocorrer entre os 40 e 55 anos. Ondas de calor, irritabilidade, esquecimento e noites mal dormidas são comuns, mas também representam um convite à reconexão.

“A ginecologia integrativa busca compreender a raiz desses sintomas. Avaliamos não só os hormônios, mas também o estilo de vida, deficiências nutricionais, microbiota intestinal, inflamação e aspectos emocionais. A partir disso, personalizamos o tratamento. O objetivo é que a mulher viva essa transição com leveza, vitalidade e autoestima”, explica.

Para a médica, a medicina do futuro é aquela que enxerga o corpo como um todo: físico, mental e emocional. “A medicina do futuro é personalizada, preventiva e regenerativa. Ela considera a individualidade de cada mulher e tudo que a cerca. Acredito que o futuro da ginecologia está em integrar tecnologia e ciência com uma visão mais humana e acolhedora, que ensina a mulher a conhecer e cuidar do próprio corpo com consciência”, afirma.

No fim das contas, desacelerar não é parar, mas se permitir viver no próprio tempo. É um gesto de presença, um resgate da autonomia e uma forma profunda de cuidado. “Desacelerar é um ato de coragem. Vivemos em um ritmo que nos desconecta do corpo e das emoções, e o preço é alto: burnout, adoecimento, cansaço, ansiedade. Respeitar o próprio ritmo é escolher saúde e longevidade. A mulher que aprende a ouvir o corpo e honrar seus ciclos não envelhece, ela se transforma”, conclui Dra. Patrícia Sanches.