Os microplásticos são resíduos degradados de diversos tipos de plásticos, com menos de 5 milímetros de comprimento. Originárias de fontes diversas como roupas sintéticas, pneus, tintas e escovas de dente, essas partículas estão se amontoando nos oceanos.
Um estudo inédito apresentado ontem, 24, mostrou que nós, seres humanos, podemos estar cheios desses minúsculos pedaços de plástico em nosso organismo. Liderada pelo médico Philipp Schwabl, pesquisador da Divisão de Gastroenterologia e Hepatologia da Universidade de Medicina de Viena, na Áustria, a pesquisa foi realizada em parceria com a Agência Ambiental da Áustria.
O estudo foi realizado com base em coletas de fezes de oito pessoas de oito países diferentes. Em todas as amostras foram identificados microplásticos - de até nove tipos diferentes -, partículas de polipropileno (PP) e polietileno tereftalato (PET), entre outros. Os participantes são habitantes de Finlândia, Itália, Japão, Holanda, Polônia, Rússia, Reino Unido e Áustria.
A presença de microplásticos no organismo humano pode afetar a saúde. Acumulados no trato gastrointestinal, esses materiais têm a possibilidade de interferir na resposta imunológica do intestino - além, é claro, do risco proporcional pela absorção de produtos químicos tóxicos e patógenos pelo nosso corpo.
"Existem estudos com animais que mostram que partículas de microplástico são capazes de entrar na corrente sanguínea, no sistema linfático e de atingir até o fígado. Além disso, estudos com animais também demonstraram que os microplásticos podem causar danos intestinais, alteração nas vilosidades intestinais, distorção da absorção de ferro e estresse hepático."
'Nossa principal preocupação é, especialmente, o que pode significar para pacientes com doenças gastrointestinais', diz médico que conduziu estudo
Os resultados da pesquisa, segundo os autores, sinalizaria que pelo menos 50% da população mundial apresentaria microplásticos nas fezes.
Em média, foram encontrados 20 partículas de microplástico a cada 10 gramas de fezes. "Nossa principal preocupação é o que isso significa para o corpo humano e, especialmente, o que pode significar para pacientes com doenças gastrointestinais", comenta o médico.
"Enquanto as maiores concentrações de plástico em estudos com animais foram encontradas no intestinos, menores partículas são capazes de entrar na corrente sanguínea, no sistema linfático e chegar ao fígado", prossegue.
Os pesquisadores ressaltam que os seres humanos estão expostos a diferentes tipos de plásticos no dia a dia. E isto é decorrente do uso cada vez mais recorrente desse material na indústria, sobretudo a partir dos anos 1950. É uma produção que segue crescendo, anualmente.
"Em nível global, a produção de plástico e a poluição plástica se correlacionam fortemente. Portanto, é provável que a quantidade de contaminação plástica possa aumentar ainda mais se a humanidade não mudar a situação atual", alerta o pesquisador.
Calcula-se que entre 2% e 5% de todo o plástico produzido por ano acabe nos mares, por conta do descarte. Ali, esse material acaba se deteriorando em partículas cada vez menores - os tais microplásticos.
Outra maneira pela qual componentes plásticos chegam ao organismo humano seria porque, seja durante o processamento industrial, seja por conta da embalagem, alimentos também podem ser contaminados com pequenas partículas de plásticos.