Em Uganda, o mosquito local não pica os humanos
BBC , Mundo |
30/01/2016 às 12:02
Ziika Forest, em Uganda, África
Foto: Catherine Byaruhanga
A floresta Zika não é tão conhecida em Uganda. Na verdade, a maioria das pessoas nem sequer sabe exatamente onde ela fica.
No idioma local, zika significa algo como “uma vegetação que cresceu demais, que tomou conta do lugar”.
De fato, há uma densa vegetação no local, com uma ampla variedade de árvores e muitos animais. As únicas pessoas com quem você pode se deparar por ali são o guarda florestal e sua família, que moram em uma pequena casa feita de chapas de ferro.
Foi bem no meio dessa floresta que, em 1947, um novo vírus foi descoberto. Na época, o local servia de palco para pesquisas científicas no leste da África. E, é preciso dizer, ele foi descoberto por acaso. Isso mesmo.
Uma equipe de cientistas de Uganda, dos Estados Unidos e da Europa estava ali para pesquisar uma outra doença viral, a febre amarela.
Enquanto testavam macacos rhesus na floresta, eles se depararam com um novo microrganismo, que batizaram de zika.
Um Aedes que não pica
Mas apesar de ser o “berço” do zika, apenas dois casos de contaminação pelo vírus foram confirmados em Uganda em todos esses anos.
O principal motivo é o que os tipos de mosquito que transmitem o vírus a humanos não costumam entrar em contato com a população local.
“O Aedes que temos aqui, o Aedes aegypti formosus, normalmente não costuma picar humanos”, afirma o virologista Julius Lutwama, do Instituto de Pesquisa Vírus. “Esse é a diferença em relação à América Latina, em que uma subespécie diferente, o Aedes aegypti aegypti, está espalhando o zika vírus.
A maior parte da floresta Zika, que beira uma estrada entre a capital Kampala e o Aeroporto de Entebbe, está sendo destruída por projetos de infraestrutura.
Novas casas com telhados recém-colocados cercam o que sobrou da floresta. É nessa área que os cientistas fazem as pesquisas.
A vários quilômetros dali está o instituto de pesquisa que analisa o vírus. Ali, medidas de segurança são levadas muito a sério, porque o local guarda amostras de organismos perigosos, responsáveis pelo ebola, zika e febre amarela.
E o local também é o único no país onde são realizados testes para zika.
Aliás, para um dos diretores do laboratório, John Kayuma, isso pode estar atrelado ao baixo número de casos de zika confirmados: poucas pessoas são testadas.
“Há uma possibilidade de termos muitos mais casos país afora.”
Em alguns meses, o governo vai começar um estudo para pesquisar o alcance do zika e de outros flavivírus como dengue e febre amarela.
Enquanto isso, a equipe do laboratório mantém um olhar atento aos tipos de mosquitos que circulam em Uganda, para identificar rapidamente caso algum dos eficazes em transmitir doenças entre no país.