Salvador

Projeto leva aulas gratuitas de capoeira a escolas públicas de SSA

A iniciativa envolve desde o aprendizado de conhecimentos gerais sobre a prática da capoeira até golpes regionais e sequências rítmicas
Secom Salvador , Salvador | 27/07/2017 às 15:30
Escola Boca do Rio
Foto: Jefferson Peixoto
A prática de atividade física regular aliada às aulas em sala já faz parte da rotina dos estudantes de quatro escolas públicas de Salvador. Uma parceria entre a ONG “De Peito Aberto” com a rede municipal de ensino oferece aulas de capoeira gratuitamente durante todas as segundas, quartas e sextas, beneficiando cerca de mil jovens e crianças. Entre as instituições selecionadas estão a Escola Francisco Leite, em Águas Claras; Escola Arlete Magalhães, em Castelo Branco; Escola Laboratório (Escolab) da Boca do Rio; e Escolab de Coutos.
Só na Escolab da Boca do Rio, que funciona dentro do Instituto Municipal de Educação José Arapiraca (Imeja), cerca de 300 alunos, do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, participam do projeto, denominado Ginga. Mesmo antes da inauguração formal do espaço, a unidade funciona com 1/3 da capacidade prevista: das 36 turmas que serão contempladas pelo projeto, 12 realizam já desempenham atividades. No caso do Ginga, a iniciativa envolve desde o aprendizado de conhecimentos gerais sobre a prática da capoeira até golpes regionais e sequências rítmicas.
O diretor da unidade, Miguel Ângelo Dourado, explica que a ação é importante para promover a saúde, o bem-estar, além do desenvolvimento intelectual dos alunos. “Não é aula de capoeira pura e simplesmente. Mas ela é introduzida como uma arte, dança, luta e produto cultural que é socialmente referenciado em nossa história e de valor inestimável para a cultura baiana e brasileira. É também um aprendizado que vai da cidadania ao conhecimento, de saber a história dos povos que estavam vinculados à capoeira e de como tudo isso repercute na nossa vida cotidiana”, salienta.
Como critério para participar do projeto, os participantes precisam estar matriculados em alguma escola da rede e ter entre 7 a 17 anos.  Os alunos aprendem a gingar, a interpretar os ritmos como maculelê e roda de samba na introdução, antes de exercitar golpes originados de uma sequência criada pelo mestre Bimba (1900-1974) - fundador da capoeira regional. A duração da aula é de 1h.
O coordenador pedagógico do projeto Ginga, Ireno Fíguer, ressalta o papel da capoeira como atividade disciplinar. “A arte e a cultura têm que estar ligados à educação. Às vezes, os alunos têm uma melhora de rendimento após se sentirem parte de algo ou depois de receberem um estímulo. Tudo isso a capoeira traz. Já houve casos em que pais se aproximam de nós para dizer: 'obrigado, meu filho está mais comportado'”.
O crescimento educacional e comportamental é percebido pela estudante Carol Teles, 17 anos. Ela está no 9º ano e diz que ingressou na iniciativa por acaso. “Vim trazer um primo para participar e eu que acabei ficando. O esporte me ajuda a focar mais nas aulas. O mestre que nos ensina cobra para termos disciplina em todo o lugar”, conta a garota.
A pequena Ana Beatriz Cerqueira Silva, 9, estudante do 6º ano, diz que gosta mesmo é de praticar os golpes. “Aprendi alguns movimentos como 'aú' e ' armada de costas'. Tenho gostado muito, me sinto mais feliz”, afirma. Ser portadora de síndrome de Down não impediu a jovem Laís Pereira, 20, de se juntar aos colegas para praticar capoeira e de se envolver com os instrumentos: “gosto muito de tocar berimbau”.
O instrutor do projeto, mestre Gildásio dos Santos de Jesus, conhecido como mestre Mosquito, ressalta que toda a parte prática é feita de uma maneira equilibrada, respeitando as capacidades e as habilidades motoras de cada criança ou adolescente. Parar participar dos movimentos de capoeira, os alunos têm acesso gratuito a fardamento e ainda aprendem a tocar os instrumentos que integram a roda, como pandeiro, berimbau e atabaque.
O mestre Mosquito também dá aulas, por iniciativa própria, sem vínculo com o projeto Ginga, para moradores que residem próximo ou nas adjacências da Escolab da Boca do Rio. As atividades também são gratuitas e acontecem todas as segundas e quartas-feiras à noite, das 19h às 20h30, dentro da instituição de ensino, há 10 anos. Os discentes são compostos por jovens, adultos e público da terceira idade.