A espécie existe apenas numa pequena área do sertão Nordestino e é uma das aves menos conhecidas e mais ameaçadas do Brasil. A pesquisa é realizada em parceria entre USP, Fundação Biodiversitas, Fundação O Boticário e Avistar.
A arara-azul-de-Lear ou arara-azul-da-caatinga (Anodorhynchus leari) é uma das aves brasileiras menos conhecidas e mais ameaçadas de extinção. Ela ocorre numa pequena área no nordeste da Bahia, na Caatinga, bioma que é o único exclusivamente brasileiro - o que significa dizer que grande parte das formas de vida que abriga - a exemplo da arara-azul-de-lear - não podem ser encontradas em nenhum outro local do Planeta.
Uma das primeiras pesquisas a estudar a biologia reprodutiva da arara-azul-de-lear está sendo realizada na Estação Biológica de Canudos, uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) localizada na Bahia. "Estudamos como as aves se reproduzem, quantos ovos cada fêmea bota, quantos deles eclodem, quantos filhotes sobrevivem e quantos deles voam dos ninhos. Assim, vamos saber um pouco mais sobre a história natural da espécie", explica a bióloga Erica Cristina Pacífico de Assis, pesquisadora e orientanda de mestrado de Luís Fábio Silveira, o responsável técnico pelo projeto.
O projeto é realizado desde janeiro de 2008 e é resultado da parceria entre várias instituições: os pesquisadores são da Universidade de São Paulo, os estudos são realizados na reserva privada da Fundação Biodiversitas, e o financiamento é feito pela Fundação O Boticário de Proteção à Natureza e pela Avistar Brasil.
Ninhos nas alturas
Para estudar a biologia reprodutiva da arara-azul-de-Lear, os pesquisadores precisam ir às alturas. Eles utilizam técnicas de rapel para subir em paredões de arenito de até cem metros. Ali, em cavidades naturais de até 17 metros de profundidade, as aves colocam seus ovos e protegem seus filhotes dos predadores.
Desde o início do projeto, foram identificados 28 ninhos de arara-azul-de-lear nos paredões da Estação Biológica de Canudos. Dez deles foram selecionados para estudo e os filhotes ali presentes foram capturados, tiveram amostras de sangue coletadas para estudos genéticos, foram marcados individualmente com anilhas e passarão a ser monitorados até o seu primeiro vôo.
Os pesquisadores também querem saber para onde as aves se deslocam quando saem do ninho e qual é a distância percorrida. Para isso, vão precisar do apoio da comunidade. "Vamos orientar as pessoas a nos avisarem se encontrarem as aves. Esse processo de conscientização é importante porque a arara-azul-de-Lear se cansa com facilidade, quando está aprendendo a voar, e pode permanecer vários dias pousada na mesma árvore, sendo fácil de ser capturada por uma pessoa de má fé", diz Erica.
A relação com a Caatinga
Até a década de 70, a arara-azul-de-Lear era pouco conhecida cientificamente - pois foi por muito tempo confundida com a arara-azul-grande que ocorre no Pantanal - e ficou perto de ser extinta, chegando a ter apenas cerca de 100 indivíduos na natureza. Atualmente, existem mais de 600, o que, apesar de demonstrar a recuperação da população, ainda é um número pequeno.
Para que essa quantidade aumente, é fundamental colocar em prática ações para a conservação da espécie e, para se definir como fazer isso, é preciso saber mais sobre as características da ave. Os resultados do projeto sobre a biologia reprodutiva da arara-azul-de-lear irão servir justamente para contribuir para diminuir as lacunas de conhecimento e possibilitarão identificar o que precisa ser feito para proteger a ave. O que se sabe de antemão é que é preciso reduzir os principais fatores que ameaçam a espécie: a captura de filhotes para caça e tráfico de animais e a degradação do seu habitat, a Caatinga - apesar de sua riqueza, menos de 1% da Caatinga está protegido por unidades de conservação, enquanto mais da metade foi alterada.
Embora o projeto seja focado na arara-azul-de-Lear, inúmeros outros animais e plantas serão beneficiados. Um exemplo disso é que o estudo já evidenciou uma relação direta entre a ave e a manutenção da Caatinga. "A arara-azul-de-lear é famosa por ser predadora de cocos da palmeira Licuri. Durante o trabalho, pôde-se observar com freqüência a presença das minúsculas sementes de cactos nas fezes das araras, o que indica que elas podem ser importantes dispersoras de cactos, o símbolo da sobrevivência no árido ambiente da Caatinga", destaca Erica.
Apoio a projetos
Além deste projeto com a arara-azul-de-Lear, a Fundação O Boticário, desde a sua criação em 1990, patrocinou outros 1.175 estudos sobre espécies e ecossistemas, sendo que mais de 40 deles foram realizados na Caatinga. Para acessar a lista completa dos projetos financiados pela Fundação O Boticário, visite a seção "Apoio a Projetos" do site http://www.fundacaoboticario.org.br/.