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Rosa de Lima

ROSA DE LIMA ANALISA A A "ENEIDA" OBRA PRIMA E CLÁSSICO DE VIRGÍLIO

A "Eneida" é um clássico da literatura antiga e que representa a expressão política do Império Romano que nasceu com Otaviano 27 a.C.
24/03/2023 às 10:14
       Por dever de ofício leio o poeta Virgílio. Reconheço, leitor cativo e leitora educada, que é muito dificil entender as entrelinhas de sua prosa poética, quer porque no seu tempo de vida 70 a.C. mais se declamava do que se escrevia e quando transpostas essas falas da oralidade para o papel, em latim, distavam muito do pensamento escorreito; e por outro lado ainda predominava a cultura politeista abençoada por deuses, ninfas, duendes e seres sobrenaturias - e Virgílio é um mestre no uso desses personagens - o que torna a compreensão ainda mais penosa. 

  Daí que, assim penso, sua obra está reservada para os estudiosos, os professores dos cursos de linguística e os intelectuais refinados, bem distante das massas. Nada impede, no entanto, de qualquer pessoa medianamente aculturada possa lê-la. Eu, por posto, usei o iphone em pesquisas para complementar conhecimentos e utilizei as notas e o glossário que foram colocadas à disposição pelo tradutor nas páginas derradeiras de sua obra mais popular e famosa no mundo ocidemtal das letras e do pensamento filosófico a "Eneida" (Editora Autêntica, tradução, introdução e notas de João Carlos de Melo Mota, 450 páginas, capa dura, R$87,00 - BH 2022, projeto gráfico Diogo Droschi).  

  Suei a camisa não tanto quanto o professor Melo Mota, o qual passou 7 meses e alguns dias para traduzi-la e ainda teve uma revisão da tradução de Guilherme Contijo Flores, e diria que é um livro onde estão mesclados disputas no fio da espada, amores, em especial a Lavínia filha do rei Latino, inúmeros combates, fortes doses de misticismo, exposição das forças do tempo da natureza - ventos, tempestades, trovões, terra e mar - a beleza e a força humana, enfim, todo um caldo de cultura que resultou na formatação da Itália. 

  Lembrando que Virgilio escreveu seu poema para ser lido ao imperador Augusto, segundo Thomas R. Martin, "Em Roma Antiga - de Rômulo a Justiniano" no turbulento periodo final da República de Júlio César, assassinado em 44 a.C. e que resultou numa guerra civil entre os herdeiros do trono - Otaviano, Lépido e Marco Antônio - até que Otaviano sagrou-se vitorioso em 27 a.C. vencendo a esquarada de Marco Antônio + Cleóptra (amantes) em Ácio a.C, no Noroeste da Grécia, e assume a nova República (o Principado) como imperador, nascendo, assim, o Império Romano quando intitulou-se o Augusto.  

  É relevante destacar esses episódios porque Públio Virgílio Marão viveu exatamente neste período que os historiadores classificam como de Ouro da Literatura latina, Augusto incentivando as artes e as letras quando também se destacam os poetas Horácio e Ovídio, e foi nesse momento que Virgilio se tornou o poeta augustano mais popular em Roma justamente em função do poema "Eneida", escrito para agradar o imperador. 

 Trata-se de um épico inspirado na poesia homérica (de Homero, Odisseia), o qual narra a lenda do troiano Eneias, ancestral mais remoto dos romanos em ganhos e perdas em batalhas. Alguns historiadres independente da linguística consideram essa obra também um código moral e uma advertência a Augsuto no sentido de ter misericórdia dos conquistados e, ao mesmo tempo ser impiedoso com os arrogantes. Nos parece que, no final da "Eneida" quando "Eneias" mata Turno impiedosamente, este já vencido e imobilizado, o faz por vigança à morte de Palante - filho de Evandro e seu compaheiro de lutas - para expressa o fim da "arrogância" (Turno).  

  No leito da morte em 19 a.C. diz-se que Virgilio pediu a amigos que quimassem o poema, porém, Augusto determinou que fosse preservado. A "Eneida" é composto por 12 livros (ou capitulos em termos atuais) cada um deles com uma narrativa iniciando-se com o naufrágio em Cartago, Enéias derrotado em Troia e pedindo ajuda a Dido - fundadora e rainha de Cartago.  

  Em prefácio João Angelo Oliva Neto, da USP, ajuda os leitores com anotações bem didáticas explicando que Virgílio "conta a viagem que Eneias, derrotado, fez de Troia à Itália". O autor se utiliza da ficção e de sua criatividade poética povoando os campos de batalha e os mares com naufrágios, traições, monstros, deuses, uma passagem no mundo dos mortos, tudo sob o comando de Eneias, daí surgindo o nome do livro "Eneida".

  É na "Eneida" - e não na "Ilíada", de Homero, "que lemos o incrível episódio do cavalo de Troia", confessa Oliva Neto, uma passagem da história que até hoje ainda é um mistério diante de uma discussão interminável se esse episódio realmente existiu e até onde se localizada Troia, provavelmente na Turquia. O que observa Oliva Neto é que a "Eneida" é uma das três epopéis (as outras são "Ilidada e "Odisseia", de Homero) mais importantes da antiguidade greco-latina, "mas foi ela o poema mais influente no que se costuma chamar Literatura Ocidental".

 
   Na introdução, mais para os eruditos e os estudiosos da obra virgiliana, o professor Melo Mota, faz revelantes considerações sobre o que classifica de "tradução da obra máxima da latinidade" sem entrar no debate com nenhuma tradução já estabelecida, "por mais sólida e profunda que seja" até porque - segundo ele - não existe uma tradução definitica, mas "uma travessia, uma passagem que pode, aliás, ser repetida ou não, da mesma forma (em duplo sentido); em outra situação possível, tomariamos outros caminhos, novas versões".

  Faz, então, comentários sobre generalidades e opção do vocabulário, sem adotar escopos de outras traduções (por comparação) citando, por conseguinte, "não fazendo leitura de caso pensado" da tradução de "Eneida", de Odorico Mendes (a mais cconhecida e antiga no Brasil) oferecendo uma tradução própria organizada "por efeito de nossa própria experiência". Ou seja, algo novo: "O que fizemos foi acompanhar Virgílio, com simplicidade, em sua marcha sintáticae em seu não-compromisso com a exuberância das palavras", revela Mota.

  Evidente que essa introdução de Melo Mota, mais reservada à estudiosos, até para o leigo tem valor adiconal no entedimento da "Eneida" e este evitou usar os substantivos, adjetivos e verbos por seus equivalentes exatos no português (pulvulento, apopinquar, etc) adotando uma filosofia da moderação com precisão do ritmo sintático entre fonte e alvo. Isto é, tentou ser o mais simples possível na tradução para facilitar a vida dos leitores leigos. Dá explicações sobre o título e subtitulo da obra, o Virgilio fonético, as aliterações incluindo um resumo estatíticos (ninteressante só para estudiosos do latim) e até sobre a métrica. 

  Conclusão (a dele): "Transpondo-nos para o universo da comunicação de qualquer natureza, existe alguém a quem se escreve ou se diz o que quer que seja, por mais formal, ou científico, que seja o escrito. E o destinatário é o elo importante entre o conhecimento e o cientista que, querendo ou não é o comunicador". Em miúdos: Melo Mota oferece algumas ferramentas adicionais em linguística para o que traduziu (tanto para estudiosos da Eneida; quanto para os leigos", seja o melhor em compreensão.

  A "Eneida", de fato, e agora falando como leiga ainda que, com alguma experiência em crítica literária, é dificilima de ser lida e entendida, como já dito na inicial diante de tantas citações de conteúdo politeista. Vamos, em resumo, falar um pouco de cada livro: no livro 1, Virgilio registra o naufrágio de Eneias em Cartago e seu pedido de socorro a rainha Dido; no livro 2 a presença do cavalo de Toria (...rompemos os muros, istom é, muralhas da urbe abrimos. Todos se ligam à obra e põem objetos deslizantes na base das cordas e cordas de espota ao pescoç, estendem. Fatal, por muros, entra a máquina, farta de armas...); no livro 3 inicia a viagem rumo à Itália (...prosseguimos pelo mar, perto dos vizinhos de Caráunio, de onde a rota, à viagem a Itália é brevissima por agura...".

  No livro 4, participa de jogos fúnebre; no 6º participa da descida ao mundo dos mortos (hades, o inferno) ...tal região o gráo Cérbero ao latir de três bocas faz ressoar, deitado imenso na caverna de frente, vendo já o pescoço crepo de cobras...; no livro 7, chega a Lácio e é recebido pelo rei Latino; no 8, promove aliança com Evandro (...ninfas, laurências ninfas, donde o nascer do rio, e tu, Tibre, Pai, com seu curso sagrado recebei a Eneias e afastai-o dos perigos por fom...); no livro 9, chega ao campamento troiano; no 10, façanhas de Enéis e a morte de Palante, filho de Evandro (...há um dia para cada um, breve e irrecobrável é o tempo...). no 11º combates e vitórias de Enéias; no 12º a luta contra Turno e a conquista de Lavínia, filha de Latino (...venceste, e o vencido estender as mãos contemplaram os Ausônio. Lavínia é a tua esposa, não leves a ódio além...) e Eneias, o pio, se vinga a Turno pela morte de Palante. (...Palante, Palante, em meu golpe, te sacrifica e vinga esse teu sangue criminoso. Dizendo isso enfia o ferro no peito à frente, com ardor...) consumando a morte de Turno.

  A "Eneida" como vês é de uma leitura complexa. Quando Virigilo situa seu herói Eneias (...busco por pátria a Itáliae a raça de Jupiter sumpremo...em dez vezes duas naus me embarquei no mar da Frígia, mostrando a deusa mãe a rota, predições dadas segui, mal sobram sete, rompidas por ondas e Euro...a ele não mais se lamentar suportanto Vênus. Decodificando: Júpiter - rei dos deuses; Vênus - deusa do amor, mãe de Enéias; Euro - vento do Leste. Então, o leitor, precisando ter conhecimentos mínimos dos deseus romanos e gregos daquelas época, da geografia e dos enunciados poéticos para entender (um pouco) a obra de Virgilio.