Que tal bater um papo com seu avô que morreu no século XIX? Isso será possível? Sem dúvida
Quando lançado em 2011 o livro "Muito Além do Nosso Eu", do paulistano Miguel Nicolelis, foi considerado o melhor estudo da ciência daquele ano. O que era considerado apenas ficção científica e víamos no cinema e líamos em livros - escrever e se comunicar apenas com a força do pensamento - está se tornando uma realidade no século XXI, e uma prova disso aconteceu na Copa do Mundo de 2014, no Rio de Janeiro, quando o brasileiro Juliano Pinto deu o ponta-pé inicial dos jogos usando o exoesqueleto e movendo seu pé para chutar uma bola usando a força de sua mente.
Nicolelis não foi ao delírio porque o cientista de uma maneira geral é discreto e sabe que as conquistas e os avanços da ciência são lentos, porém, duradouros e irreversíveis.
É possível que no seu Eu interior, Miguel Nicolelis um apaixonado palmeirense, tenha, de fato, alcançado o nirvana, a luz, porque se tratou de um feito extraordinário para a humanidade, uma prova material/científica executada pelo Projeto Andar de Novo, da união do cérebro com as máquinas e as conquistas da nova neurociência, um dos campos da medicina mais fascinantes e que mais avançam no decorrer deste século XXI e tende a efetivar muitas novas conquistas.
É um tema extremamente complexo pois envolve o ser - se é que podemos chamar assim - mais fantástico do corpo humano que é o cérebro com seus neurônios - células especiais que só existem nesta parte do corpo humano - as sinápses - conexões elétricas - e os processos químicos gerados a partir dos denditros, células da Glia e outros mecanismos do cérebro.
O que Nicolelis narra em "Muito Além do Nosso Eu" (Crítica, edição revista e ampliada, 2015, composto para a Editora Planeta, R$55,00 nos portais, 495 páginas, com extensa bibliografia) é exatamente essa trajetória dos avanços da neurociências até chegar a interfaece cérebro-máquina, campo que se prevê uma expansão ainda muito ampla, uma vez que os meceanismos de funcionamento de parte do cérebro ainda são desconhecidos e representam o campo fértil para a psiciologia científica (e um pouco de empirismo) e na ciência pura, aplicada, com experimentos testados e aprovados, ainda em processo de aprendizagen, aperfeiçoamento e evolução.
O livro de Nicolelis é complexo em sí, de dificil entendimento para um leitor normal, ainda que ele escreva da forma mais didática e racional possível para que essa compreensão seja a melhor possível. Mas, há muitos termos técnicos e o leitor precisa ter alguns conhecimentos da neurociências para poder acompanhar a narrativa. Para quem é do ramo - da ciência, da tecnologia computacional, da medicina, da psiquiatria, da psicologia - é um livro apaixonante, ainda que não se possa devorá-lo de um gole, exigindo até mesmo para essas pessoas muita atenção na leitura.
De toda sorte, para ambos os leitores - o leigo e o cientista - trata-se de uma obra fundamental para se entender o que se passa com os estudos da neurociências, os experimentos, as pesquisas, o desafio de entender a sinfonia cerebral, o autocontrole, o monstro que vive escondido no cérebro, o homem cujo corpo era uma avião e a narrativa da trajetória de Santos Dumont com suas máquinas voadoras, um estudo minucioso e bem analisado por Nicolelis, o qual está envolvido com esse tema desde quando se formou em medicina pela Universidade de São Paulo, na década de 1980, teve impulso orientador do Dr. César Timo-Iraia e integra desde 1994 o corpo docente da Duke University, Carolina do Norte, EUA, onde fundou o Centro de Neuroengenharia, seu diretor até hoje.
E o que nos conta Nicolelis no que classifica da quase unanimidade de aceitação da teoria da relatividade, "o conceito de relativismo permanece sendo o centro de uma controvérsia extremamente acirrada no mundo científico" e o pensamento relativístico tem gerado um intenso debate, envolvendo visões contraditórias o que a prática da investigação científica de fato significa.
De acordo com o prêmio Nobel Sheldon Glashow, os cientistas "afirmam que existem verdades universais que são eternas, objetivas, fora da história, socialmente neutras e externas à mente humana, e que a catalogação dessas verdades define o objeto das ciências naturais".
A psicóloga Maria Barghramian, em A Concepção da Natrueza sobre um físico, comenta sobre as verdades universais eternas: "Desde o inicio estamos envolvidos com o debate entre a natureza e o homem, no qual a ciência desempenha apenas uma parte, de modo que a divisão rotineira do mundo entre subjetivo e objetivo, interior e exterior, corpo e alma, não é mais adequada a nos leva a dificuldades"
O matemático Kurt Gold em debate sobre a teoria da relatividade propôs uma possível nova solução para as equações da relatividade de Einstein: "A possibilidade de viajar de volta no tempo poderia ser considerada real e plausível num universo relativístico, formado por um continum espaço temporal gerado pela geometria reimaniana. Noutras palavras: viajar de volta no tempo.
"Muito Além do Nosso Eu" - em síntese - representa a equação (possibilidade real) dos avanços da neurociências associados às novas tecnologias permitir um toque numa bola acionando os pés de um deficiente físico somente com o pensamento (como já aconteceu na Copa), avançar com os exoesqueletos permitindo a associação homem-máquina levando as pessoas inabilitadas a andarem, e, num futuro (ainda sem definição de data) conversar por pensamentos com outras pessoas que estejam distantes, mesmo você no Brasil e a outra pessoa na Europa.
E, mais, sensacional, vajar de volta ao tempo.
Que tal, bater um papo mental com seu avô que morreu no século XIX. Não duvide da neurociências e leia esse impressionante livro de Miguel Nicolelis.