Literatura
Rosa de Lima
16/06/2021 às  10:37

ROSA DE LIMA VIAJA NO TEMPO EM MUITO ALÉM DO NOSSO EU,MIGUEL NICOLELIS

Que tal bater um papo com seu avô que morreu no século XIX? Isso será possível? Sem dúvida


   Quando lançado em 2011 o livro "Muito Além do Nosso Eu", do paulistano Miguel Nicolelis, foi considerado o melhor estudo da ciência daquele ano. O que era considerado apenas ficção científica e víamos no cinema e líamos em livros - escrever e se comunicar apenas com a força do pensamento - está se tornando uma realidade no século XXI, e uma prova disso aconteceu na Copa do Mundo de 2014, no Rio de Janeiro, quando o brasileiro Juliano Pinto deu o ponta-pé inicial dos jogos usando o exoesqueleto e movendo seu pé para chutar uma bola usando a força de sua mente.


   Nicolelis não foi ao delírio porque o cientista de uma maneira geral é discreto e sabe que as conquistas e os avanços da ciência são lentos, porém, duradouros e irreversíveis.

   É possível que no seu Eu interior, Miguel Nicolelis um apaixonado palmeirense, tenha, de fato, alcançado o nirvana, a luz, porque se tratou de um feito extraordinário para a humanidade, uma prova material/científica executada pelo Projeto Andar de Novo, da união do cérebro com as máquinas e as conquistas da nova neurociência, um dos campos da medicina mais fascinantes e que mais avançam no decorrer deste século XXI e tende a efetivar muitas novas conquistas.

   É um tema extremamente complexo pois envolve o ser - se é que podemos chamar assim - mais fantástico do corpo humano que é o cérebro com seus neurônios - células especiais que só existem nesta parte do corpo humano - as sinápses - conexões elétricas - e os processos químicos gerados a partir dos denditros, células da Glia e outros mecanismos do cérebro.

   O que Nicolelis narra em "Muito Além do Nosso Eu" (Crítica, edição revista e ampliada, 2015, composto para a Editora Planeta, R$55,00 nos portais, 495 páginas, com extensa bibliografia) é exatamente essa trajetória dos avanços da neurociências até chegar a interfaece cérebro-máquina, campo que se prevê uma expansão ainda muito ampla, uma vez que os meceanismos de funcionamento de parte do cérebro ainda são desconhecidos e representam o campo fértil para a psiciologia científica (e um pouco de empirismo) e na ciência pura, aplicada, com experimentos testados e aprovados, ainda em processo de aprendizagen, aperfeiçoamento e evolução.

   O livro de Nicolelis é complexo em sí, de dificil entendimento para um leitor normal, ainda que ele escreva da forma mais didática e racional possível para que essa compreensão seja a melhor possível. Mas, há muitos termos técnicos e o leitor precisa ter alguns conhecimentos da neurociências para poder acompanhar a narrativa. Para quem é do ramo - da ciência, da tecnologia computacional, da medicina, da psiquiatria, da psicologia - é um livro apaixonante, ainda que não se possa devorá-lo de um gole, exigindo até mesmo para essas pessoas muita atenção na leitura.

   De toda sorte, para ambos os leitores - o leigo e o cientista - trata-se de uma obra fundamental para se entender o que se passa com os estudos da neurociências, os experimentos, as pesquisas, o desafio de entender a sinfonia cerebral, o autocontrole, o monstro que vive escondido no cérebro, o homem cujo corpo era uma avião e a narrativa da trajetória de Santos Dumont com suas máquinas voadoras, um estudo minucioso e bem analisado por Nicolelis, o qual está envolvido com esse tema desde quando se formou em medicina pela Universidade de São Paulo, na década de 1980, teve impulso orientador do Dr. César Timo-Iraia e integra desde 1994 o corpo docente da Duke University, Carolina do Norte, EUA, onde fundou o Centro de Neuroengenharia, seu diretor até hoje. 

   E o que nos conta Nicolelis no que classifica da quase unanimidade de aceitação da teoria da relatividade, "o conceito de relativismo permanece sendo o centro de uma controvérsia extremamente acirrada no mundo científico" e o pensamento relativístico tem gerado um intenso debate, envolvendo visões contraditórias o que a prática da investigação científica de fato significa. 

  De acordo com o prêmio Nobel Sheldon Glashow, os cientistas "afirmam que existem verdades universais que são eternas, objetivas, fora da história, socialmente neutras e externas à mente humana, e que a catalogação dessas verdades define o objeto das ciências naturais". 

   A psicóloga Maria Barghramian, em A Concepção da Natrueza sobre um físico, comenta sobre as verdades universais eternas: "Desde o inicio estamos envolvidos com o debate entre a natureza e o homem, no qual a ciência desempenha apenas uma parte, de modo que a divisão rotineira do mundo entre subjetivo e objetivo, interior e exterior, corpo e alma, não é mais adequada a nos leva a dificuldades"

   O matemático Kurt Gold em debate sobre a teoria da relatividade propôs uma possível nova solução para as equações da relatividade de Einstein: "A possibilidade de viajar de volta no tempo poderia ser considerada real e plausível num universo relativístico, formado por um continum espaço temporal gerado pela geometria reimaniana. Noutras palavras: viajar de volta no tempo.

   "Muito Além do Nosso Eu" - em síntese - representa a equação (possibilidade real) dos avanços da neurociências associados às novas tecnologias permitir um toque numa bola acionando os pés de um deficiente físico somente com o pensamento (como já aconteceu na Copa), avançar com os exoesqueletos permitindo a associação homem-máquina levando as pessoas inabilitadas a andarem, e, num futuro (ainda sem definição de data) conversar por pensamentos com outras pessoas que estejam distantes, mesmo você no Brasil e a outra pessoa na Europa.

   E, mais, sensacional, vajar de volta ao tempo. 

   Que tal, bater um papo mental com seu avô que morreu no século XIX. Não duvide da neurociências e leia esse impressionante livro de Miguel Nicolelis. 


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