Foi um domingo glorioso, com reza, frevo , champagne e cerveja
Sempre depois do Carnaval, eu e dona Céu, minha digníssima consorte, tiramos uns dias de descanso em Cacha Pregos, a praia da Classe C Emergente na Ilha de Itaparica, uma vez que trabalhamos muito na festa ao Momo, agora com mais de 15 dias graças ao nosso alcaide festeiro.
A mulher tem uma vontade enorme de ir à ilha de Comandatuba, Una, ou a praia do Espelho, em Trancoso, mas, sempre digo a ela que "quem nasceu periquito nunca vira papagaio", dai que o melhor mesmo é se contentar com a ilha de Itaparica, com permantene falta d´'água de beber, cujo nome, por sí só, indica coisa de pobre.
Imagina se Gabriele Büchen vai passar um fim de semana em Cacha Pregos e curtir Aratuba! Ou se Sêo Bigan Guanes, que agora diz que reza todos os dias para afugentar a 'besta', vai tomar champagne em Berlinque!
E minha véia, em Cacha Pregos, aproveitou esse descanso para praticar a arte do tricô, ensinamentos práticos que recebeu de sua mãe, mas, até agora, só conseguiu fazer uns dois quipás, aquela boina ou touca que os judeus usam nas suas cabeças, dizendo ela que, não são quipás e sim bases para porta-jóias. E mostra-me que, as duas peças juntas, com arremates e uma alça se transformam num porta-jóias.
Pilheriei: - Pelo tamanho, não cabe nem uma anel da madame Pedro Álvares Cabral.
- Essa senhora compra jóias de R$1 milhão a peça, imagina, se vai usar um dos meus porta-jóias? - sorriu.
- Compra com nosso dinheiro, com o dinheiro dos impostos do povo brasileiro, com o capilé da corrupção - me exaltei fazendo um discurso político.
- Que ela fique lá no xilindró porque esse porta-jóias vou presentear minha amiga Tina Copo que está fazendo aniversário em maio.
- De emergente para emergente, saboreei.
No inicio da semana que passou voltamos a nossa residência na Caixa D'Água e já estamos no batente, de novo, no Pelourinho, eu vendendo minhas tocas e meus quadros em tacos; e ela fazendo tererês e crochés.
Na sexta-feira, quando cheguei em casa, a mulher estava em polvorsa: - Ví na televisão que frigorificos estão vendendo carne contaminada, linguiça recheada com papelões, miudos de cabeça de porco e frangos com produtos cancerígenos, de um ácido que nunca vi falar, um tal de sórbico, potencialmente cancerígeno, e estou na dúvida se mantenho a nossa feijoada de domingo ou jogo tudo que comprei em carnes e linguiças no lixo - avisou-me.
- Tá louca mulher. A gente come nossa feijoada há anos e nunca teve nada. Não é agora que vamos ter algum problema, frisei.
- Esse país está uma podridão. Quando digo que quero morar na França você fica fazendo pilhéria comigo - disparou Céu.
- Já falei a você que a única França que vê vai conhecer é a Rua da França, no Comércio, a não ser que você ganhe na loteria. A propósito, jogaste? - perguintei.
- Joguei, mas, o prémio tá baixo. Só quero ganhar muito pra ir embora dessa nojeira onde se fala em roubo, corrupção, mortes e tudo de ruim. Agora mesmo o governo aumentou o botijão de gás em 9.8% quando a inflação eles dizem que está controlada em 4.5% - comentou furiosa.
- É por isso que v deve fazer a feijoada para três dias, pra gente comer no domingo, na segunda e na terça, só requentando, o que economiza o gás - frisei.
- Isso já fazemos há anos. Como também voto do deputado Doido de Candeias porque é o único que defende a gente nessa questão do gás, comentou.
- Então fale com ele para fazer a marcha do gás ao invés da marcha para Jesus - adicionei.
- Neste final de semana tinha convidado duas amigas para vir comer aqui, donas Kaline Berimbau e Rafa Enfa, e temo que não queiram comer a feijoada diante dessas noticias na televisão, comentou desconversando sobre a marcha do gás.
- Vocês diz a elas que vai fazer uma feijoada orgânica, com produtos orgânicos.
- Você não está sugerindo que ponha papelão para robustecer a linguiça que comprei no Mercado da Sete Portas? - arregalou os olhos.
- Se for do papelão reciclável, daquela caixa de sapatos do Tigre dos Calçados, não vejo nada demais - frisei para provocar.
- Era só que faltava você compactuando com esses malandros donos de frigoríficos que usavam papelões nos embutidos.
- Só estou dando uma sugestão de um produto orgânico porque sei que suas amigas são metidas a chiques e podem não querer comer feijão com carne vermelha e o chouriço da banca do Mané, que eu garanto que são bons produtos, dos melhotes, artesanais.
- Sei lá, depois dessas denúncias na TV dá medo de comer a carne do Mané ou a carne da Zoni, daquele ator bonitão que falava que "carne confiável é Priboi, justificou Céu indo ao nosso quintal colher umas folhas de hortelã, único orgânico que produzimos.
- Pronto, v coloca folhas de hortleã maceradas com o papelão da caixa de sapatos e nossa feijoada vai ficar verde vegano e suas amigas vão adorar - pilheriei mais uma vez.
- Já que v tá fazendo graça pegue o papelão da caixa da TV que v guardou no quarto e faça um churrasco bebendo Mikol - irritou-se Céu.
- Deus me livre e guarda. Essa cerveja Mikol está dando caganeira. Quem a bebeu no Momo até hoje se borra.
- Toma! É pouco. Eu como só degusto champagne estou livre desse mal - sorriu céu.
- Champagne Frida feita com maçã agrointoxicada! Só rindo! É por isso que v anda dando aqueles trovões.
O certo, porque não vi todo o preparo da feijoada que no domingo último servimos as amigas de Céu, é que saboreamos toda o panelaço orgânico e as meninas adoraram.
Dona Kalina inclusive comentou: - Céu, sua feijoada está plenissima de sabor.
- Hortelã orgânica e um produto especial que usei deu esse sabor - gabou-se ela.
Quando ia dizer as moças que era papelão da caixa de sapatos da Tigre de Ouro, Céu abafou minha voz cantarolando o frevo abafa 'Cabelo de Fogo', do Carnaval do Recife e ficamos todos cantando na sala e tomando Frida e Mikol e pedindo chuvas a São José, o santo do dia.
Hoje, que eu saiba, ninguém recorreu a uma das UPAS de Netinho.