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Tasso Franco , Salvador |
15/09/2025 às 18:36
Prateleira de farmácia com fraldas cobra obra do muralista Carlos Bastos
Foto: BJÁ
MIUDINHAS GLOBAIS:
1. Pense em absurdos: acontece em Salvador da Bahia. A rua mais antiga do Brasil - a Direita do Palácio - mudou para Rua Chile; o largo do Pelourinho tem o nome de um escravocrata; a Praça Cayru mudou de nome para uma personalidade que, na real, não existiu; o mural de Carlos Bastos, 1961, do maior muralista baiano e um dos mais representativos do país que se situa num prédio do Comércio, ex sede do Banco Econômico, está coberto com prateleiras de cremes, shampoos e outros objetos de toucador.
2. Alguém pode nos dizer o que vai acontecer? Se o dono da farmácia que alugou o espaço onde está situado o painel vai retirar as prateleiras? Ou se vai ficar como se encontra?
3. Outras obras de arte estão em situações críticas ou assemelhadas. Bem, a ministra da Cultura é baiana, a cantora Margareth Menezes, a qual poderia dar uma opinião, uma ajuda, o que lá fosse. Sabe-se que o MinC não tem muitos recursos. Mas, no caso do mural isso não pesa.
4. Lembro que quando o teto do Teatro Castro Alves pegou fogo, inicio de 2023, o secretário da Cultura, Bruno Monteiro, foi a Brasília procurar Margareth e pedir um auxílio. Retornou de mãos vazias. O governador Jerônimo Rodrigues decidiu que o estado faria a obra e está realizando um investimento de mais de R$150 milhões. Obra lenta, morosa, e se diz que em meados de 2026 reinaugura. Os baianos ficarão 3 anos sem seu maior e melhor teatro.
4. Em relação de Carlos Bastos este artista marcou época na cidade do Salvador e tem obras magnificas a principal delas o mural no plenário da Assembleia Legislativa, belíssimo, polemizado, mas, felizmente no local e conservado. E espera-se que seja mantido eternamente.
5. Felizmente, a atual presidente da Casa, Ivana Bastos, mandou retirar uma imensa bíblia e uma arca de aliança que havia também no plenário uma imposição sem o menor sentido da época do pastor evangélico e deputado Isidório. Comenta-se que representantes do Poder Judiciário em alta escala quando recebiam alguma homenagem na ALBA e viam "aquilo" se sentiam incomodados e com razão. A Casa Legislativa não é religiosa e sim um Poder de Estado das leis.
6. O bairro Comércio tem outras obras de arte que ainda vou mostrar para vocês. Provavelmente, a mais importante é o quadro de João Cândido Portinari, óleo de 5.80 m x3.82 m, 1952, representativo do desembarque da família Real na Bahia. No Cortejo tendo à frente D. João VI e Carlota Joaquina sendo recebidos por um nobre e um religioso, cercados por populares e soldados. Ao fundo mar azul com caravelas e paisagem da Bahia.
7. À esquerda, populares agrupados numa espécie de cais onde se vê parte de uma caravela aportada, destacando-se a figura de uma baiana com tabuleiro na cabeça assistindo à chegada de cortejo tendo à frente a família real. A multidão se junta em perspectiva para o fundo.
8. No centro da composição, altos mastros com bandeiras de diversas cores voando. À direita, multidão agrupada e pouco mais ao fundo, parte da cidade no sopé de um morro, destacando-se uma igreja. No fundo, mar azul com três caravelas em diagonal da esquerda para a direita e da frente para o fundo, junto à linha do horizonte. Céu azul com algumas nuvens.
9. O mural encoberto de Carlos tem muita coisa parecida com o quadro de Portinari, evidente, noutro estilo, porém, com baianas, mar, caravelas, escravos, nobres, pescadores, a cara da Bahia do século XIX e a pujança representativa do Comércio.