Política

OS DOIS ANOS DO GOVERNO JERÔNIMO RODRIGUES E A QUIETUDE BAIANA (TF)

A Bahia sempre deu a Lula mais do que Lula dá a Bahia, mas o conformismo apaga essa realidade
Tasso Franco , Salvador | 01/01/2025 às 12:43
Jerônimo Rodrigues, bem intencionado e trabalhador, sem estratégia maior para o estado
Foto: SECOM gov
  O governador Jerônimo Rodrigues está completando 2 anos de mandado. Seu governo é de continuidade dos anteriores do petismo: Jaques Wagner (2007/2014) e Rui Costa (2015/2022), ainda sem uma identidade própria. Não se sabe se o governador ainda vai imprimir essa identidade ou se seguirá como se apresentou nesses dois anos iniciais, sem uma marca que seja sua, até para se diferenciar de Wagner (o mais político dos governadores) e Rui (mais administrativo).

   Jerônimo não é uma coisa; nem outra. Nem tarimbado político como Wagner treinado numa escola do lulismo e com passagem na Câmara Federal; nem Rui que. não sendo afeito à política civilizatória (nos últimos tempos tem melhorado) se esmerou no administrativo e no que definiu como "Correria", sinônimo de dinamismo, até para contrapor ao que a oposição dizia de Wagner, o "Wagareza". Jerônimo, para a oposição, é “Zerônimo”. Se não mudar terminará seu mandato com esse significado. Claro, a situação, a base governista (nem toda) acha que é um bom gestor.

   O governador Jerônimo, em parte, tenta ser Rui percorrendo o estado de ponta-a-ponta (já esteve em mais de 300 municípios) inaugurado pequenas e médias obras, as mais significativas os colégios em tempo integral lançados por Rui quando ele era secretário da Educação (mas que têm, ainda, a marca Rui) e nada inovador ou estruturante em quaisquer das áreas. 

   Veja que, hoje, no recall do PT dos 17 anos de governo, as obras mais expressivas são relacionadas ao governo Wagner, a planta das eólicas, metrô e viadutos na capital e o projeto Neojibá, da Cultura. Rui foi espacial, mas não deixou marca tão visível quanto Wagner e tentou avançar com os projetos complementares do metrô SSA, da mineração e do Porto Sul, mas não conclusivos. Sua obra mais importante, estrutural, está na saúde com os hospitais regionais de grande porte.

   Nos parece que, de Jerônimo, o que há mais importante é a BYD e o projeto que poderia lhe dar visibilidade no plano político e social, o Bahia sem Fome, que não é do agrado nem de Rui; nem de Wagner seus mentores uma vez que se a Bahia já sendo governada pelo PT já 17 anos como justificar que ainda existiam 1.800.000 pessoas passando fome como apregoou JR no lançamento do programa. Hoje, se diz que houve uma redução de quase 50%, porém, os números do IBGE não são confiáveis, desde que o instituto ganhou viés politizado com Márcio Pochmann.

   São calos de difícil remoção. Wagner tentou remover um desses calos que ele dizia ser a "herança maldita" de ACM/Paulo Souto, o analfabetismo - mais de 2.000.000 no estado - lançou um programa de erradicação do analfabetismo, mas, não obteve êxito relevante. E foi ficando por isso mesmo. Hoje, é provável que esteja no mesmo nível uma vez que a maioria dos analfabetos é de adultos.

   A estratégia no campo educacional mudou e investe-se em escolas em tempo integral, um bom programa, e que se melhorar a qualidade do ensino (ainda ruim) poderá dar bons resultados mais adiante. As escolas são boas fisicamente, mas, faltam professores e técnicos em informática, esportes e atividades de cultura. Os índices do IDEB Bahia são baixos em relação ao Brasi, sobretudo entre 2007/2021, e tem melhorado somente a partir de 2023.

  A Cultura, no governo JR é zero ou quase isso. Há uma esperança de que, a partir de meados de 2025, o TCA volte a funcionar e que os projetos da Lei Paulo Gustavo tenham alguma visibilidade e que, também, Margareth Menezes, ministra da Cultura, faça uma graça com a Bahia. 

   Passando uma pincelada na Cultura brasileira a Bahia que sempre pontuou em várias áreas está praticamente fora de tudo, em visibilidades nacional e internacional: no cinema, na literatura (salvo Itamar Jr), no teatro, nas artes visuais (salvo Bel Borba), na música (salvo os eternos Caetano, Gil e Bethânia que moram fora), museologia (vários museus decadentes e/ou fechados), na dança, na antropologia (salvo Antônio Risério), nas publicações de arte. 

  Sobrevive a Neojibá, um excelente projeto, mas, ainda muito doméstico. O balet do TCA ninguém nem ouve mais falar. Museus e bibliotecas decadentes: as do Mosteiro de São Bento (melhor da Bahia) e do Costa Pinto, fechadas, a dos Barris necessitando de investimentos. E a Casa da Bahia (IGHB) tendo sua verba governamental suspensa. E JR (se não rever) pode pagar um preço alto por isso.

   O calcanhar de Aquiles do governo JR é a segurança ou a falta dela. De fato, Jerônimo não pode ser responsabilizado de todo uma vez que recebeu essa herança dos seus pares petistas que deixaram (não propositadamente) que o crime organizado se estabelecesse no estado de forma ampla e o trabalho das Forças de Segurança (PM, PC, PF, etc) para desmontar essas estruturas têm sido permanentes e árduos, quase um enxugamento de gelo, mas, que tem dado alguns resultados positivos apesar da insegurança reinante no estado.

   A Bahia é um estado complexo com território no meio do Brasil, mar e terra, divisões com vários outros estados e extensas zonas de pobreza onde o tráfico de drogas tem campo aberto para prosperar. A quantidade de roças de maconha que a PM erradica só na região do São Francisco é impressionante, mas, não acaba. 

  Agora, recente, o governo Lula através do Ministério da Justiça quer limitar as ações da PM e isso é assustador. Há, inclusive uma campanha sorrateira (da velha mídia e nas redes sociais) para desmoralizar as PMS, como se os policiais fossem às ruas, aos locais de vários domínios do tráfico e outros para dialogar com uma população pacífica e ordeira. O policial vive, no Brasil, em qualquer região, num estresse alto nível quer em serviço ou na folga. E tem sido filmado e fotografado como algoz.

   No Campo da Saúde o governo tem seu melhor programa estruturado pelos governos petistas com a construções dos hospitais de base nas regiões e a requalificação de outros, como o Clériston, em Feira. Estranha-se que, até os dias atuais, não consiga resolver o problema da regulação. Parece-nos uma coisa de deficiência de gestão. A SESAB, em parte, desde tempos anteriores do petismo, sempre foi politizada, um trapézio para políticos. Só não deu certo com Fabio Vilas-Boas porque errou no plano das relações sociais. Foi um bom gestor.

  O turismo é um fiasco, O Centro de Convenções da Bahia, em Salvador, desabou em 2017 e até hoje não se construiu um novo. E, pasmem, nem os destroços retiraram do local. Daí que Recife e Fortaleza com estruturas melhores passaram a perna na Bahia, no turismo. Não fosse o CCS construído pela Prefeitura e inaugurado em 2020, a situação seria ainda pior, e o esforço que a PMS faz para promover o turismo na capital, a principal porta de entrada do estado.

  A Bahia de Jerônimo não tem projeto estratégico estruturante novo. Falta, ao que parece, técnicos que pensem o estado. Os que existes são os mesmo de sempre, a FIOL/mineração/Porto Sul; ninguém fala mais do projeto do São Francisco Carinhanha-Malhada que seria novo pólo agrícola, nem modernização da infra em estradas e portuária, salvo alguma coisa da iniciativa privada como o complexo hoteleiro no Baixios e o Motopiba, que abrange 4 estados, o polo agrícola do Oeste da Bahia.

   O governo, como diz a oposição, não tem pés nem cabeça. A Bahia deu a Lula o que Lula não dá a Bahia e a delegação política é volumosa, porém, não eficiente como se espera dela. Três senadores discretos e uma base governista baiana no Congresso calada, pouco eficiente, esperando que as coisas aconteçam. Com isso, a Bahia tem perdido espaços e estados do Nordeste como Pernambuco e Ceará avançados mais. Paciência, estamos, literalmente, quedos. (TF)