Ministro integra exatamente o poder central da "ilha da fantasia", mas há um imenso núcleo periférico as cidades satélites em sofrimento
Tasso Franco , Salvador |
05/06/2023 às 10:06
Rui Costa ministro da Casa Civil
Foto: DIV
As declarações ofensivas do ministro Rui Costa a Brasília, a capital do país com seus 3.1 milhões de habitantes, geraram um sentimento de indignação sobretudo para quem conhece o DF e seu entorno com seus milhares de problemas, assentamentos subnormais, vida difícil com milhões de migrantes de todo o país, especialmente do Norte e Nordeste, o que não representa "a ilha da fantasia" descrita com ardor pelo ex-governador da Bahia.
As declarações de Rui foram infelizes e certamente não é o que pensa o presidente da República e a direção do PT uma vez que este grupo político administra o país desde 2003, Lula em terceiro mandato e Dilma com mandato e meio, salvo os períodos de 5 anos e meio de Michel Temer e Bolsonaro. Ora, se há essa "ilha da fantasia" descrita por Rui, os governos petistas nada fizeram para modificá-la. O que, convenhamos, não é bem assim.
É ainda cedo para se saber qual o objetivo delineado por Rui Costa para dar declarações tão fora do contexto, ele que vinha sendo criticado pela mídia nacional diante sua atuação junto ao Congresso, ele e outros companheiros do núcleo forte do governo, a ponto de Lula ter assumido pessoalmente as articulações para não amargar uma derrota na MP que garantiu a continuidade da sua equipe do governo e, agora, do "Arcabouço Fiscal", pois, afirmativas partindo-se de um político são normalmente pensadas, arquitetadas com todo o cuidado.
Imaginar que poderia ofender o DF e passar batido, isto é, receber só apoio de correligionários sobretudo da Bahia em afagos e aplausos, sem uma contrapartida e duras criticas em contestações, parece-nos pouco provável uma vez que Rui é um político experiente foi 8 anos governador da Bahia e atua num dos cargos mais importantes da República. Portanto, os desdobramentos que estão ocorrendo a partir de suas declarações, em especial do governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB) que o classificou de "completo idiota" seriam de esperar.
O que poderá acontecer daqui para frente é imprevisível de se saber. Rui Costa prometeu na sua polêmica fala em Itaberaba, na Chapada Diamantina, que "vai lutar com todas suas forças" para mudar o panorama da "ilha da fantasia", mas duvida-se muito que venha a obter algum êxito. Primeiro que, de fato, existem duas Brasílias bem distintas. A primeira, a glamurosa, e que poderia ser enquadrada como "a ilha da fantasia" é exatamente a que Rui Costa é inquilino, atualmente, a Brasília do Poder, do Congresso, dos Ministérios, dos Tribunais de toda natureza, etc, e que os assentados nesses espaços não desejam mudar nada; e a outra é a Brasília do entorno e das cidades satélites.
Ora, recentemente, vimos que a esposa do presidente recomendou adquirir móveis (sofás e outros) para o Palácio do Planalto a preços elevados o que teria desagradado Rui; que o os ministros (não só Rui) recebem salários altos e jetons variados, que a Câmara dos Deputados aprovou projeto de Decreto Legislativo (PDL) 471/22, da Mesa Diretora, que reajusta o subsídio dos membros do Congresso Nacional, do presidente e vice-presidente da República e dos ministros: a partir de 1º de janeiro, iguala o subsídio atual (R$ 33.763,00) ao subsídio dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), atualmente em R$ 39.293,32.
A partir de 1º de abril de 2023, os valores aumentaram para R$ 41.650,92 (6%), passando para R$ 44.008,52 em 1º de fevereiro de 2024 (5,66%) e para R$ 46.366,19 a partir de 1º de fevereiro de 2025 (5,36%). O reajuste total, nos quatro anos, perfaz então 37,32%.
Vê-se, pois, que a tarefa de Rui para modificar essa imensa estrutura é impossível. Se ele é um dos integrantes dessa engrenagem ou renuncia para "lutar o bom combate" como dizem os Dom Quixotes ou se acalma e convive com ela. (TF)