Política

A DIFÍCIL MISSÃO DE SALVAR O PELOURINHO SEM VONTADE POLÍTICA (TF)

Pelourinho vira gueto e local frequentado por turistas com a população da capital de costas para o patrimônio da humanidade
Tasso Franco , Salvador | 29/04/2023 às 12:08
Guerreiros do Pelourinho: Clarindo Silva e Aninha Franco
Foto: BJÁ
      A sustentabilidade do Pelourino, área do centro histórico de Salvador entre o Terreiro de Jesus e a Praça José de Alencar com suas ruas transversais e o São Francisco e adjacências representa um grande desafio para as autoridades da cultura da União, Estado e Município de Salvador. Aliás, sempre representou - é assunto recorrente de muitas décadas - desde quando os comerciantes endinheirados se mudaram para o São Bento, Avenida do Estado - em especial o corredor da Vitória - e o local se transformou em área de comércio e serviços e zona de prostituição.

  Com a requalificação da área no inicio dos anos 1990 no governo ACM com apoio da União e da Fundação Roberto Marinho deslumbrou-se um novo momento com novos e bons restaurantes, praças para espetáculos de música e teatro, ainda que surgiram muitas críticas diante da retirada de parte da populção residente, as pessoas mais pobres e que davam vida ao local. 
  
  De toda sorte, é o que ainda existe, na atualidade, em termos de reforma mais ampla, necessitando novos investimentos para não degradar de vez, retornando ao que era nas décadas de 1970/1980.
  
  Todo mundo sabe que desde que o PT assumiu o governo do Estado, com Jaques Wagner, em 2007, tudo o que fosse relacionado a ACM deveria ser esquecido ou posto em "banho Maria". O Pelourinho que tinha essa marca de ACM foi um dos alvos. 
  
  Quando Márcio Meireles tomou poesse como secretário da Cultura no governo Wagner houve um sopro de esperança para o Pelourinho, ele que tem uma ligação muito forte com o local, e lançou-se um projeto chamado "Rocinha do Pelourinho: Nova Esperança" de reassentamento da população, a então primeira dama Fátima esteve por lá, o investimento seria de R$6.5 milhões, mas nada foi adiante. Logo depois, fechou-se a Livraria dos Autores Baianos e assim seguiu a toada.

  O Pelourinho vai vivendo, vai videndo como diz o refrão de uma música aos espasmos. Faz-se uma coisinha aqui, outra acolá e chegou-se a um ponto, como agora, que a violência campeia, os baianos com maior poder aquisitivo deram as costas ao Pelourinho, as autoridades da cutura, idem, e o local está novamente em decadência. 

  Clarindo Silva que é dono da Cantina da Lua, local emblemático da resistência no Pelourinho, há mais de 50 anos atuando no local como ativisita, cronista, empreendedor e defensor perpétuo do Pelourinho diz que já presenciou, ao longo do tempo, altos e baixos nessa área do centro histórico, e, salvo o projeto de revalização do patrimônio arquitetônico dos anos 90 nada mais foi feito de forma integrada para dar vida ao Pelourinho.

    "Muita gente está a dizer que nosso problema está na falta de segurança, o que não é verdadeiro. Existem casos de violência como sempre existiram, a mais ou a menos, mas, há policiamento e relativa ordem. Nosso problema maior está no social, na proteção e amparo as familias que vivem no Pelourinho, e no abandono do segmento cultural. A cidade fez 474 anos recentemente e o grande show deu-se na Barra. Vamos comemorar os 200 anos da Independência da Bahia e ninguém vê falar de nada no Pelourinho. Então, no dia da festa, em 2 de Julho, tem um desfile e pronto. É isso, falta-nos um calendário anual de cultura e eventos, a volta da terça da benção, a abertura das igrejas, enfim, uma sacudidela na área de cultura", comenta em nossa conversa.

   Na verdade, a cidade está de costas para o Pelourinho. Ou seja, a população que tem poder de consumo frequenta os grandes shoppings nas zonas de expansão fora do centro histórico e não pisa os pés no Pelourinho, salvo exceções. Diria que há um medo generalisado de ir ao Pelourinho e toda vez, como recentemente ocorreu, que há uma exposição na midia de assalto e violência contra os turistas, os romenos ensanguentados, isso faz com que haja ainda um maior distanciamento. 

   O Pelourinho segue, portanto, como lugar frequentado por turistas, essencialmente, e por uma comunidade de afro-baianos que ainda dá vida ao local. Há, ainda, alguns projetos relevantes como a Escola do Olodum, as ações do Filhos de Gandhy, de alguns produtores culturais na área da música, como Badá, investidores abnegados mais recentes como os restauranbtes "Ó Paí Ó" e "Roma Negra" mas vermos madames com sacolas de grifes a andar pelas ruas do Pelô, em compras, como se vê em Lisboa, Madrid, Paris, etc, isso não existe.

   O Pelourinho se transformou um gueto e retirá-lo dessa condição abrindo as suas portas para a cidade do Salvador, já vivendo desde no final da década de 1970 com a implantação do Iguatemi e os hotéis de Ondina noutro caminho é uma tarefa das mais difíceis. É preciso ter vontade política e isso não há. Felizmente, o prefeito Bruno Reis, deu um sinal de que vai fazer alguma coisa. É de se esperar que seja um projeto duradouro e que olhe para os campos social e da cultura. Sem essas duas pernas firmes nada vai avante. (TF)
  
  (Em tempo) Sugestões que podem ajudar: mudar o nome da Praça José de Alencar (um escravocrata) para Largo do Pelô; instituir uma feira de objetos antigos no Terreiro de Jesus aos domingos; retormar a terça da benção; retomar Jerônimo no Passo; organizar visitas programadas de alunos da rede municipal; apoiar a roda de capoeira do Terreiro; pockets shows e apresentações teatrais nas praças Tereza Baptista e outras; apoio a palhaçaria e artistas de rua; envolver o Olodum e o Gandhy.