O jornalismo militante e a esquerda não perdoam o jornalista norte-americano
Tasso Franco , Salvador |
19/01/2023 às 14:38
jornalista norte-americano Glenn Greenwald
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Ovacionado pela esquerda brasileira ao divulgar, em 2019, conversas por mensagem de texto atribuídas ao ex-juiz Sergio Moro (União Brasil-PR), ao ex-promotor Deltan Dallagnol (Podemos-PR) e a outros integrantes da operação Lava Jato obtidas a partir de invasão hacker a aparelhos celulares, o jornalista norte-americano Glenn Greenwald não goza mais das honras de boa parte da esquerda, segundo matéria da Gazeta do Povo.
Fundador do site de notícias The Intercept, simpatizante do presidente Lula (PT), defensor da tese de que o impeachment de Dilma Rousseff (PT) teria sido um “golpe” e crítico contundente de Jair Bolsonaro (PL), o jornalista, que é casado com o ex-deputado federal David Miranda (PSOL) e mora no Brasil há 17 anos, tem credenciais de sobra para agradar a esquerda brasileira. No entanto, Glenn é um defensor ferrenho do texto constitucional sobre a liberdade de expressão a ponto de elevar tal defesa para além de seus próprios posicionamentos políticos, o que levou ao racha com a militância do seu polo ideológico.
O americano tem usado sua influência internacional – que ganhou sobretudo por reportagens que apontaram a existência de programas secretos de vigilância global do governo dos Estados Unidos – para denunciar ao mundo medidas autoritárias e inconstitucionais do Judiciário brasileiro.
Em sua conta no Twitter, que soma quase dois milhões de seguidores, ele denuncia que há um regime de censura e cerceamento de direitos em vigência no Brasil sob o comando de Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Para ele, além das repetidas censuras, prisões e medidas cautelares impostas a críticos do Judiciário, o ministro vem tomando decisões abusivas que ferem o devido processo legal.
As declarações do jornalista na rede social chegaram inclusive ao dono do Twitter, Elon Musk, que classificou como "extremamente preocupantes" as medidas em curso por iniciativa do ministro. Pesa contra Moraes uma série de acusações de autoritarismo direcionado especialmente a apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas que já se voltaram contra figuras de esquerda que ousaram criticar o magistrado.
Gleen tem ecoado, especialmente, duas reportagens do News York Times, principal site de notícias norte-americano, publicadas no final do ano passado apontando arbitrariedades do magistrado. “Como notou o News York Times, um sinal de quão tirânico o poder de Moraes se tornou é que as pessoas têm medo de criticá-lo publicamente. Mesmo um executivo sênior do Big Tech só o fez no anonimato. Muitos juristas brasileiros não querem falar abertamente por medo”, tuitou Greenwald nesta segunda-feira (16).
Mas as críticas não se restringem ao ministro e também estão direcionadas a veículos de imprensa que têm silenciado frente aos abusos e, em algumas ocasiões, celebrado tais medidas. Por fim, o alvo do jornalista volta-se à militância chamada “progressista”. Para Glenn, o apoio massivo da esquerda brasileira à conduta de Moraes revela “a própria face autoritária de parte dessa ala ideológica”. “Quanto mais essa parte da esquerda mostra sua verdadeira face, melhor”, tuitou ele nesta terça-feira (17).
Como resultado, Glenn entrou na lista-negra da militância e tem sido rotulado, dentre outros termos, de “bolsonarista”, fascista e terrorista. Usuários da rede social alinhados à esquerda têm, também, defendido o uso de violência contra o jornalista e até mesmo sua deportação do país. Nesta terça-feira (17), ao comentar os ataques recebidos, o americano chegou a se referir aos autores dos ataques como “sociopatas”. “Como disse Marina Silva, não foi Bolsonaro quem inventou o ‘gabinete do ódio’. Foi o partido contra o qual concorreu em 2018. Tudo isso pelo crime de questionar o rei Alexandre de Moraes”, desabafou.