O mercado existe e deve ser respeitado ou então não se usa os mecanismos do mercado
Tasso Franco , Salvador |
14/11/2022 às 07:38
Presidente eleito Lula da Silva
Foto: Ricardo Stucker
Anuncia-se que o presidente eleito Lula da Silva e comitiva viajam para a COP27 - Conferência do Clima - pertencente ao empresário José Seripieri Júnior, com matrícula registrada nos Estados Unidos. Fundador da Qualicorp e dono da Qsaúde, a aeronave da marca Gulfstream tem autonomia para voar direto ao país árabe e partiu hoje, de São Paulo, Guarulhos.
Amigo do petista há anos, Seripieri promoveu neste ano diversos encontros e jantares reservados entre Lula e outros nomes do empresariado. No período eleitoral, o dono da Qsaúde também fez doações generosas à campanha petista. Preso pela Lava Jato em julho de 2020, em operação que apurava repasses em caixa dois para a campanha do senador José Serra, Seripieri fechou delação premiada, homologada pelo STF em dezembro daquele ano.
Ora, viajar em avião de um empresário amigo não representa nenhum escândalo desde que o petismo não criticasse - como esculacha o mercado. No fundo, para quem não sabe ainda o que é o mercado e seu significado mais abrangente (trata-se do conjunto das empresas a maioria delas integrantes das bolsas de valores e que regulam e se orientam no plano fiscal pelas ações governamentais, porém têm autonomias próprias) e a Qualicorp é uma delas. Ou seja, Lula está usando um avião do mercado, ao que se comenta, teria sido fretado.
Sobre discurso recente de Lula que estremeceu o mercado, a presidente nacional do PT reforçou que "o mercado não tem que se preocupar", porque já "conhece quem é Lula, sabe como ele trabalha com as finanças públicas e a responsabilidade que tem". Ela ressaltou que o compromisso social do novo governo fez parte da campanha eleitoral, ou seja, não deveria causar surpresa no mercado. "Jamais vamos abrir mão de ter a responsabilidade social em primeiro lugar".
O mau humor do mercado ocorreu após o discurso de Lula no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) em Brasília, local sede da comissão de transição de governo. O presidente eleito fez críticas à "estabilidade fiscal", ao defender que é preciso colocar a questão social na frente de temas que interessam, segundo ele, apenas ao mercado financeiro.
Após o fechamento da cotação do dólar ontem, Lula ironizou a reação do mercado financeiro devido à fala sobre o teto de gastos feita por ele mais cedo. "O mercado fica nervoso à toa", iniciou Lula, com leve sorriso no rosto. "Eu nunca vi um mercado tão sensível como o nosso. É engraçado que esse mercado não ficou nervoso durante quatro anos do governo Bolsonaro.
O ex-deputado Jean WYllys publicou no twitter: Quem é Mercado? O que é o Mercado? Que “sujeito” ou “entidade” é essa cheia de maus humores? Alguém me apresenta? Alguém me aponta? Há um totem para ele onde se dessangra pobres como sacrifício? Por favor! Está na hora de a gente colocar esse “deus” em seu devido lugar, né?
Já o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), mais cauteloso, rebateu as críticas do mercado financeiro à fala do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na manhã de quinta feira (10/11). Alckmin discursou na parte da tarde do teatro do Centro Cultural do Banco do Brasil, no Setor de Clubes Esportivos Sul, onde está sediada a equipe de transição e disse:
"O presidente Lula, no mesmo discurso, falou da questão social e falou da questão fiscal. E explicitou de maneira clara… Ele já foi presidente. Assumiu um governo com uma dívida sobre o PIB [Produto Interno Bruto] de 60%, e baixou para 40%. E teve resultado positivo, superavit primário todos os anos. Se alguém tem responsabilidade fiscal é o presidente Lula. Isso não é incompatível com a questão social", respondeu Alckmin ao ser questionado sobre a reação do mercado.
O importante é que o mercado (um ser abstrato, mas nem tanto) existe e como tal deve ser respeitado. E a prova cabal disso é que Lula e comitiva poderiam viajar em aviões de carreiras para o Egito (que integram o mercado mais abrangente) optaram por viajar no avião de um empresário amigo (que integra um mercado mais seletivo ainda). Pode ter sido fretado - como afira o Globo.com - mas não deixa de ser do mercado. (TF)