Não apareceu liderança nova e ACM Neto terá que abraçar essa missão que o eleitor lhe confiou
Tasso Franco , Salvador |
09/11/2022 às 09:02
ACM Neto durante a campanha
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Leio em alguns veiculos de comunicação da imprensa baiana que o futuro de ACM Neto é incerto. Trata-se, obviamente, de um disparate sem o mínimo fundamento na política. A população baiana em sua minoria - ainda que Neto tenha conseguido 47.21% dos votos (4.007.023) contra a maioria que elegeu Jerônimo Rodrigues com 52.79% dos votos (4.480.464) o colocou na condição de lider da oposição no estado. E este é o papel que desempenhará doravante, salvo se aposentar-se da política, compulsoriamente, o que não dá sinais nessa direção.
A política baiana e vamos nos restringir aos últimos 60 anos sempre se fundamentou em dois polos: em 1962, Lomanto Jr, o municipalista, força da centro direita, venceu Waldir Pires, o comunista, força da centro esquerda. Havia uma terceira força? Não. Veio o período militar (1964/1984) e os governadores foram nomeados. Não conta. Com a abertura, nos anos 1980, exatamente quando surge o PT (1982), João Durval elegeu-se governador com 60.60% dos votos contra Roberto Santos (PMDB). O PT lançou Edval Pasos o qual só teve 25.113 votos (0.94%). Portanto, tivemos, em 1982, ACM apoiando Durval após a morte de Clériston Andrade e do outro lado o PMDB.
Na eleição de 1986, mais uma vez o confronto se deu entre as duas forças políticas predominantes no Estado, o PMDB com Waldir Pires e aliados; e o carlismo (ACM + Durval) e Josaphat Marinho candidato pelo PFL. O eleito foi Waldir Pires e o PT o apoiou apenas para governador e não para o Senado. Waldir fez uma composição com a direita para se eleger e arrastou consigo os eleitos senadores Rui Bacelar e Jutahy Magalhães. Waldir não conclui o mandato e passou ao vice-Nilo Coelho.
Em 1990, ACM (PFL) volta ao governo pela terceira vez eleito com 50,71% - nas duas outras vezes fora governador nomeado pelos militares - Roberto Santos (PMDB) ficou em segundo, com 32,1%, seguido por Lidice da Mata então no PCdoB (9,54%), Luiz Pedro Irujo PRN (3,5%), Sérgio Gabrielli PT (3,47%) e Antonio Mendes, do PMN, com 0,68%. Veja, portanto, que a polarização se deu entre o PFL x PMDB. A chapa Lidice-Salete quase leva a eleição para um segundo turno. O vice de ACM foi Paulo Souto; o de Roberto, Murilo Leite; e o do PT, Uberdan Santos.
O barco seguiu adiante: em 1994, é eleito Paulo Souto no primeiro turno. A polarização se deu contra João Durval, a essa altura no PMN; Jutahy saiu candidato pelo PSDB; e Nilo Coelho pelo PMDB; Alvaro Martins pelo PRN. No segundo turno, Paulo Souto obteve 58.64% e João Duraval 41.36%. Essa foi a eleição - em primeiro turno - com menor polarização; o que só veio a acontecer no segundo turno.
Nas eleições de 1998, surge, então, um novo protagonsita na politica baiana, o PT com a candidatura de Zezéu Ribeiro, ainda assim, sem assombrar o eleito em primeiro turno, César Borges, tendo na vice Otto Alencar e 73.24% dos votos, eleitos em primeiro turno. Zezéu obteve 15.86% dos votos; João Durval foi candidato do PDT (12.9%) e Delma Gama (Prona) 2.12%. Vê-se, que o novo polarizador contra o PFL comandado por ACM deixou de ser o PMDB e passou a ser o PT.
No pleito de 2002, essa polarização cresceu bastante com a candidatura de Jaques Wagner, o qual obteve 38.5% (mais de 2 milhões de votos) sendo eleito Paulo Souto com 53.7% (2.8 milhões). O PMDB, caido, foi com Prisco Viana (apenas 4.2% dos votos); e o PSB com Itaberaba Lyra (2.3%). Os demais tiveram poucos votos: Da Luz, Ricardo Grey, Zacarias (PSTU) e Antonio Eduardo (PCO), este último teve apenas 3 mil votos.
Então, os leitores podem perceber, que a polarização dava-se desde 1988 entre PT x PFL. Lembrando, ainda, que em 2002, Lula foi eleito presidente e teve na Bahia 61.38% (um percentual maior do que Paulo Souto); José Serra teve 39.7%.
Aí estava o x da questão e Wagner chegou ao poder com o PT, em 2006, contra exatamente Paulo Souto. Wagner fora ministro do Trabalho do governo Lula se aliança com a direita e vence Souto no primeiro turno com 52.89% dos votos. O vice de Wagner foi o deputado Edmundo Pereira, PMDB, indicado por Geddel. E o candidato ao Senado, João Durval. Ou seja, Wagner se aliançou com a centro direita para chegar ao poder. E chegou.
ACM morre em 2007 e o carlismo é sepultado com ele. Wagner é reeleito em 2010 com facilidade: Votos válidos (excluindo brancos e nulos): Jaques Wagner (PT): 4.100.848 (63,83%); Paulo Souto (DEM): 1.033.571 (16,08%); Geddel Vieira Lima (PMDB): 999.908 (15,56%); Bassuma (PV): 253.522 (3,94%); Marcos Mendes (PSOL): 31.705 (0,49%); Sandro Santa Bárbara (PCB): 4.969 (0,07%). Veja vocês onde foi parar Geddel/Edmundo! Na opoaição a Wagner. A polarização seguiu a mesma com a diferença de que, o vice de Wagner era o carlista Otto Alencar, o qual migrou para o PSD, em 2011.
Creio que a partir daí os leitores estão com a memória fresca e se lembram com foi fácil Wagner eleger seu sucessor, em 2014, Rui Costa, com 54.53% contra Paulo Souto (de novo) que obteve 37.39%. A essa altura o PT tinha abocanhado várias lideres do finado carlismo, alguns parlamentares e prefeitos, e entronizou João Leão na vice.
A pergunta que se faz é a seguinte? Por que Paulo Souto, reconhecidamente, mais um técnico do que um político, se candidatou tantas vezes a governador? A resposta é simples: porque não não surgiram novas lideranças e a mais promissora delas, Luis Eduardo Magalhães, morrera de infarto, em abril de 1998 (quando estava sendo preparado para ser governador) o que abalou bastante seu pai tanto emocionalmente como politicamente. Otto, que poderia fazer esse papel (de Souto), migrou para Wagner. Os demais não tinham estofo e ACM Neto era ainda muito jovem. Dedicou-se a ganhar a eleição em Salvador, o que conseguiu, em 2012.
Rui foi reeleito, em 2018, na mais fácil eleição de todos esses anos, com a oposição esfarrapada e obteve 76% dos votos vencendo José Ronaldo. Rui fazia uma boa gestão (2015/2018) sua aliança com a centro-direita estava fortalecida e ACM Neto, então prefeito da capital e anunciado como pré-candidato ao governo, exercendo seu segundo mandato percebeu que seria derrotado e correria o risco de não fazer o sucessor na Prefeitura. José Ronaldo, ex-prefeito de Feira foi para o sacrificio. Neto, em 2020, conseguiu, fazer o deputado Bruno Reis seu sucessor.
Em 2022, a disputa se deu entre Jerônimo Rodrigues (PT) com ACM Neto no União Brasil (UB). As chances de Neto eram melhores do que as de Zé Ronaldo, em 2018, porém, ainda dificéis, pois a base governista se manteve unidade salvo a saída de João Leão e parte do PP. A outra parte, dos municípios menores, Rui segurou. E alguns deputados pepistas que pareciam apoiar Neto, apoiavam fortemente Jerônimo. A corrente mais forte da direita no apoio a Jerônimo, os senadores Otto Alencar e Angelo Coronel, PSD, se manteve fiel a base governista tanto que os deputados mais votados nas eleições foram do PSD, dois deles, filhos de Otto e de Coronel.
Um fato adicional fortíssimo e que complicou a vida de ACM Neto foi a candidatura de Lula. Veja que Lula já era majoritário na Bahia desde 2002 e de lá pra cá só fez crescer até quando o candidato do PT foi Haddad, a presidente, em 2018, este obtendo (até mais do que Lula) 74% dos votos dos baianos no segundo turno.
Sem candidato a presidente, na outra ponta estava João Roma com Jair Bolsonaro, ACM Neto fez uma campanha estrategicamente falando muito dificil, pisando em cristais, e sendo um candidato que poderia governar tanto como Lula; quanto com Bolsonaro. Isso era real, porém de dificil explicação para o público. Ouço integrantes do PT e do PSB dizer que Neto estava de "sapato alto", "que Neto foi soberbo", "que Neto sempre foi Bolsonaro" e outras bobagens sem sentido.
Ademais, Jerônimo - um candidato reconhecidamente fraco, até por Lula - era o 13 e Lula também o 13. Isso foi uma mão na roda para seu marketing e a campanha política nas ruas fazer essa associação, o 13/13, o voto dobrado, e isso prejudicou demais ACM Neto, ainda que ele tivesse (como teve) muitos votos com Lula , no 13/44.
A campanha petista na TV o associou a Bolsonaro, o que não era verdade, conseguiu bloquear vários programas da UB que tivesse criticas a Rui e ao petismo na TV, e isso foi um dos fatores fatais contra Neto. Veja que Lula, sabendo da força de Neto no estado e que tinha votos casados com ele, não fez uma crítica ao candidato da UB e só veio a Bahia, apoiar Jerôpnimo, uma vez e no final da campanha numa visita ao santuário do Bonfim.
Observe que Lula obteve 72.12% dos votos dos baianos no 2º turno muito mais do que os 52.7% de Jerônimo; e Bolsonaro 27.88% muito menos do que teve ACM Neto 47.21%. Isso significa dizer que ACM Neto teve votos com Lula no 13/44 e também com Bolsonaro no 22/44. Até em Salvador, Lula obteve 71% dos votos contra 58.95% de ACM Neto e 41.05% de Jerônimo.
Ou seja, Lula (o fenômeno eleitoral) teve mais votos do que Neto na capital e em todos os lugares que Neto ganhou nas grandes cidades, inclusive em Lauro de Freitas, considerado um reduto petista onde Neto teve 58.98% conra 41.02% de Jerônimo.
Então, resumindo onde queremos chegar, ACM Neto tem destino certo na política encaminhado pelo eleitorado para ser o líder da oposição no estado, inclusive vencendo em 80% dos maiores colégios eleitorais. - Salvador, Feira, Conquista, Camaçari, Teixeira, Barreiras, Santo Antonio de Jesus, Lauro de Freitas, Eunápolis, Alagoinhas, Porto Seguro, Simões Filho, Itabuna, Juazeiro e outros.
Apareceu outro nome na oposição? Não. Elmar Nascimento, o deputado federal mais votado do UB? Paulo Azi, Adolfo Viana, Leo Prates, Márcio Marinho? Nada. Das lideranças municipais a principal continua sendo Bruno Reis, que deve cuidar de sua reeleição na capital. A segunda é José Ronaldo, em Feira de Santana, provavelmente também candidato a prefeito. A prefeita Cordélia Torres, de Eunápolis, e a prefeita de Conquista, Sheila Lemos, ainda precisam mostrar mais serviços. Na bancada estadual, o UB fez 10 deputados, o mais votado Alan Sanches. Tem algum nome emergente, forte, desta bancada? Zero. Pelo contrário, o lider Sandro Regis quase não se reelege.
Deduz-se, pois, que a polarização na política baiana tende a ser a mesma, ACM Neto e aliados x PT e aliados. Poderia até ser diferente se Bolsonaro tivesse ganho a eleição o que (provavelmente) levaria João Roma para um ministério. Mas, perdeu e João Roma ficou só com o discurso. Criou um legado, é verdade, com terceira via mais dificil de ser alavancada, em 2026, salvo se o governo de Lula for um fiasco. (TF)