Acontece a partir de 8 de novembro
Da Redação , Salvador |
02/11/2022 às 13:44
Obra de Anderson AC
Foto: DIV
Anderson AC., um dos novos nomes da arte brasileira contemporânea, realiza exposição sob o título Alvorada, a partir do dia 8 de novembro, às 20 horas, na Paulo Darzé Galeria (Rua Chrysippo de Aguiar, 08, Corredor da Vitória, CEP 40081.310 - Salvador - Bahia – Brasil, Tel.: (71) 3267.0930 Cel.: (71) 9918.6205 - www.paulodarzegaleria.com.br - email: paulodarze@terra.com.br), com temporada até o dia 10 de dezembro.
Seu trabalho utiliza de diversas linguagens como a pintura, o grafite, a colagem, a arte postal, o vídeo, a fotografia digital, a literatura, o uso de imagens e documentos familiares, vestígios, deslocamentos, documentos, relatos e imagens, memórias e registros pelos quais se desdobra numa constante intervenção artística para a criação das composições estéticas que servem de suporte para seus trabalhos, onde cria, desenha, cola, pinta, fotografa, interfere; onde questiona e discute processos, como um espaço de concepção, reflexão e desenvolvimento destas ideias; onde revela um conceito elaborado de vivência através da memória e da sobreposição de linguagens artísticas, na qual o caráter itinerante do processo de documentação dos fatos cotidianos cria o espaço de experimentação através de um diálogo entre arte e vida, de um cotidiano transformado em arte. Em seus projetos, o artista parte de algum objeto antigo em busca da construção de séries de trabalhos; são os objetos/portais, fios condutores que criam relações entre passado e presente, permitindo ao artista abordar questões históricas, não apenas a partir de uma mera e simples escolha, mas de questões impostas pelo destino, o que cria uma real ligação entre arte e vida, constituindo a ideia de que nada está solto no universo: tudo está ligado.
A crítica
Para o crítico Marcelo Rezende, na apresentação escrita para o catálogo, a obra e Anderson AC., há nos retalhos de “Alvorada” um caráter de arqueologia e memória, e as figuras pintadas sobre esses fragmentos de tecido transitam entre uma série de processos ainda inacabados, flutuando sobre conflitos jamais plenamente resolvidos. Decididamente, esses objetos pictóricos não se resolvem apenas nas imagens visíveis aos olhos, porque demandam uma outra sensibilidade. Não se trata de exaltação das formas, não se trata apenas do que esses objetos mostram, mas sobretudo do que irradiam em nome da reconstrução de uma cultura agora em pleno colapso.
Para curadora da mostra Thais Darzé, “se antes a intenção de Anderson era expor o rasgo, na sua dimensão simbólica de ferida aberta, dores e violências, as “tessituras” foram incluídas como processo de cura desses ferimentos e dores do passado, sem deixar de assumir as cicatrizes e marcas que essas violências causaram em sua vida pessoal, além da dimensão histórica e social dessas mazelas. A palavra tessitura, nesse contexto, tem o significado atrelado à constituição de um tecido, sua textura, a tessitura da tela e as novas tramas adquiridas após serem remendadas. Essa série tem uma ideia de superação dessas dores, mazelas e holocaustos históricos, constituídos através dos processos de colonização e escravização de povos africanos. Se, nas pinturas anteriores, o rasgo tinha o papel de denunciar e deflagrar, agora as tessituras têm a função de curar, superar e transformar essas feridas históricas, não apenas ligadas à sua realidade pessoal, mas de todo um histórico imposto ao povo negro. É tempo de seguir em frente, é “Alvorada”, o primeiro raio da manhã”.
Trajetória
Anderson AC, nasceu em 1979, em Salvador/Bahia. Vive e trabalha em Salvador. Expondo regularmente em festivais, bienais, trienais e mostras coletivas significativas, esteve na 7ª edição do SP-Arte, no pavilhão Bienal, Ibirapuera São Paulo. Tem na sua trajetória a participação no coletivo de grafite 071crew, onde realizou várias intervenções urbanas na cidade, duramente os anos 2000. A partir de 2007 começou a se apresentar em mostras coletivas, com destaque para a Original Vandal Style, única exposição do coletivo, e as exposições 3 Pontes na II Trienal de Luanda;
Arte Lusófona Contemporânea, no Memorial da América Latina; em São Paulo; Afetos Roubados no Tempo, no Centro Cultural da Caixa, em Salvador; e Muros, coletiva que reuniu 11 grafiteiros baianos na galeria do Ferrão, no Pelourinho, também em Salvador. Realizou uma residência artística em dois locais relacionados com suas origens - primeiro em Luanda, Angola, durante a II Trienal, que teve como temas as Geografias Emocionas – Arte e Afetos; e depois em Évora, Portugal, onde realizou sua primeira exposição individual. Duas outras mostras foram realizadas em São Paulo, Galeria Sosso, e, em Strasburgo, França, na galeria do Conselho da Europa. Sua última exposição individual foi a primeira em Salvador, e se chamou O diário de bordo ou O livro dos dias, no ACBEU (Associação Cultural Brasil-Estados Unidos), em 2017. Em 2019 apresentou a mostra Pintura Muralista, num dos pilares da resistência artística visual da arte negra no Brasil, o Museu Afro-Brasil em São Paulo.