Política

BOLSONARO LEVOU A MELHOR NO DEBATE DA BAND E LULA PERDE EMOCIONAL (TF)

Debate muito bom da Band com tempo administrado pelos candidatos
Tasso Franco , Salvador | 17/10/2022 às 08:58
Dois estilos com gravatas quase iguais
Foto: Maria Isabel Oliveira
     O debate da Band realizado ontem, às 20hs, entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula da Silva (PT) com confronto tête-à-tête em dois blocos de 15 minutos com tempos administrados pelos candidatos foi marcado por acusações mútuas de "mentirosos", um classificando o outro com essa adjetivação; pandemia da Covid, orçamento secreto, petrolão, ditaduras latinoamericanas, Auxílio Brasil, enterro da sogra, cara-de-pau, desemprego, salário mínimo, Paulo Guedes, agronegócio, etc, etc, de tudo um pouco do país. 

  Houve queixas de alguns internautas dando conta de que os candidatos não abordaram temas mais substanciais da economia e da vida brasileira, mas debate sempre foi nesse tom com acusações de parte-a-parte e é disso que o eleitor e o telespectador gostam. Lula, em determinado momento do debate estava parecendo Ciro Gomes, muito professoral e calçando um sapato-alto dizendo que será eleito e vai fazer isso e aquilo, até uma reunião com governadores logo na primeira semana de empossado, o que não foi bom para ele. 

  Bolsonaro com seu jeitão tosco e pouco movimento com as mãos - ficou inclusive muito tempo com os braços presos às costas - soube, no entanto, conter seu emocional mais do que Lula, o qual perdeu esse equilíbrio no bloco mais valioso do debate, o terceiro, permitindo que Bolsonaro o espremesse com as questões do petrolão e a quebradeira da Petrobras, a ponto de não conseguir administrar o tempo à sua disposição permitindo que Bolsonaro ficasse com quase 6 minutos para falar sozinho e tripudiar em cima dele. 

  Se Lula conseguiu ser mais convincente no primeiro bloco abordando o tema sensível da pandemia da Covid colocando Bolsonaro nas cordas e o presidente tendo dificuldades em sair delas, com respostas pouco convincentes, derrapou feio no terceiro bloco e Bolsonaro deu-lhe o troco com sobra. Além disso, nas considerações finais, Bolsonaro esteve mais propositivo do que Lula e soube passar o recado aos eleitores como planejado.

  Causou, inclusive, surpresa entre colunistas e especialistas em marketing político o desempenho do presidente com seu jeitão desengonçado manter-se equilibrado do inicio ao fim diante de um ex-presidente acostumado a debates e assembleismos. Era esparado que Lula, por sua grande experiência em debates, provocasse alterações no humor e no emocional de Bolsonaro e o que se viu foi o contrário, com um Lula confuso diante do tema petrolão e a quebradeira da Petrobras.

  Debate, em si, não há vencedores e vencidos uma vez que a campanha está extremamente polarizada e quem votou em Lula no primeiro turno segue fanaticamente com ele; o mesmo se dando do lado de Bolsonaro. Mas, há ainda os indecisos e aqueles que não seguem à risca as ondas vermelha (do Lula) e verde amarelo (do Bolsonaro) e foi nesse ponto que Bolsonaro levou a melhor.

  A surpresa da noite foi Bolsonaro reservar lugar de destaque a seu ex-ministro e ex-desafeto Sergio Moro, coadjuvante de peso no atual embate com Lula por ter sido o responsável, como juiz, pela prisão do petista em 2018. Moro, com quem Bolsonaro reatou nesse segundo turno, foi escalado como um dos assessores com cadeira dentro do estúdio da Band. E, isso, até psicologicamente, afetou Lula.

  De seu lado, Lula levou Marina Silva e manteve no seu entorno a mulher de Lula, Janja, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, o vice, Geraldo Alckmin e os ex-ministros Aloizio Mercadante e Edinho Silva.

  No lado bolsonarista, além de Moro, estavam no estúdio os ministros Ciro Nogueira e Fábio Faria, o secretário Fabio Wajngarten e o ajudante de ordens Mauro Cid, além do filho responsável pela estratégia digital do presidente, Carlos Bolsonaro.

  Foi a partir de sinais feitos por Carlos e Wajngarten, aliás, que Bolsonaro se deu conta no primeiro bloco que a extensão demasiada do debate sobre a condução da pandemia lhe prejudicava, e mudou de assunto a pedido dos aliados.

 Lula, por exemplo, não fez referência ao assunto que dominou as redes sociais nas horas anteriores ao encontro, a declaração de Bolsonaro de que havia pintado um clima, com adolescentes venezuelanas que migraram para Brasília. Pouco antes, o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, havia determinado que o PT retirasse do ar vídeos da entrevista e não usasse mais a declaração. Invertendo a expectativa, coube ao próprio presidente levar o assunto ao debate, inclusive elogiando a decisão de Moraes.

 Lula evitou o assunto, mas usou um pequeno broche, cujo significado logo começou a circular pelas redes sociais: era o símbolo do Dia Nacional do Combate ao Abuso e à Exploração contra Crianças e Adolescentes.

  Ademais, Lula usou uma gravata com as cores da bandeira nacional abandonando o vermelho a marca petista; e Bolsonaro uma gravata verde chamativa. 

  A Band está de parabéns pelo formato e excelente debate com apresentadores sóbrios e que pouco interferiram. (TF)