A primeira semana em Paris é sempre de conhecer o terreno em que está se pisando, astuciando as coisas com atenção, marcando pontos de referência, experimentando o pão de padarias diferentes, enfim, se ambientando no novo local em que se está vivendo.
Assim, já conhecia por imagens à distância o gato da vizinha "veludo noir", a madame dona do gato que apareceu na "terrasse" para analisar algo no seu laptop em mesa protegida por um sombrero rosa, a senhora que fumava um cigarrinho todas as manhãs em sua varanda - vizinha num prédio mais distante -, a sapateira reconchuda da loja artesanal, a qual já cumprimentara com um aceno de mão quando fui a padaria, e do alto de nossa "cobertura" ficava admirado um sinalizador de luzes que não parava de piscar dia-e-noite num imenso prédio à nosa vista, a Torre de Monteparnasse.
Falei para a madame Bião de Jesus que, no sábado, iriamos conhecer essa torre cujo descritivo na internet era de um dos locais mais altos da cidade donde se tinha uma vista em 360 graus. Seria, também, uma oportunidade de irmos até Monteparnasse, o bairro boêmio e diversificado em negócios e serviços, local, também, de uma das maiores estações ferroviárias da cité, onde se situa a torre, andando pela Vaugirard, rua que só conhecíamos até o Novo Hotel onde a madame dobrava à esquerda em direção a ecole Acoord.
A madame achou a idéia boa, porém, temia por atos terroristas, em voga nas grandes cidades europeias. Eu também estava preocupado, claro, e disse que adotaríamos algumas precauções, embora não soubesse quais.
O certo é que partimos antes do meio dia do sábado para conhecer a torre e sobrevoar Paris com nossos olhares. Evidente que, não sendo um Victor Hugo, francês de magistral pena e conhecedor da cultura parisiense a fundo, morador da Place Royale no século XIX (hoje, Vosges) o qual descreveu a Paris do século XV observando a cidade a partir da torre da Catedral de Notre Dame e produziu uma das mais belas sínteses sobre a localidade dividindo-a em três agrupamentos urbanos, a velha ilha de la cité (onde nasceu a ville); a Universidade (Sorbone) que cobria a margem esquerda do Sena desde Tournelle até a Torre de Nesle; e a cidade - a maior parte - à margem direita do Sena até a atual Tuileries, sendo o ponto culminante desta área as portas de Saint-Denis e Saint-Martin.
Na trajetória até Monteparnasse fomos conhecendo com mais vagar as lojas existentes na Rue Vaugirard, uma das mais extensas de Paris, na esquina com a Dombasle, situam-se a CamaIeu - cama e mesa e moda feminina; a Pharmacie com posto para teste da Covid instalado no passeio próximo a estação Convention, do metropolitano; a esquerda, uma loja de confecções masculina, uma de bijou e uma floricultura; adiante o bistrô Dupont (que, depois, se tornou o nosso preferido); um bazar situado a "droite" depois da estação do metrô Convention de venda de roupas usadas e sapatos de segundos pés; o coreano vendedor de malas, uma pizzaria com mesas na rua, uma refinada loja de sapatos masculinos, duas Nikolas - especializadas em venda de vinhos e uísques; um bar pé-sujo e tabacaria próximo a estação Vaugirard; a Zapa, parente, ao que suponho da Zara; a André calçados; os supermercados Aldi, Carrefour e Assuam; a perfumaria Nacib; a bijou Aghta; a Promod roupas femininas; um jardim após a paróquia de Saint Lambert; passamos pelo Instituto Pasteur até o largo onde se situa a estação Pasteur do metrô donde se tem uma vista fantástica da Torre Eiffel.
Maisdiante, a Vaugirard seguiu a esquerda em direção a Rue Rennes, onde a cruza, e ao Jardim de Luxemburgo, e nós seguimos adiante em linha reta até Monteparnasse
Um dos pontos turísticos mais visitados em Paris é, sem dúvida, o distrito de Monteparnasse onde se encontram a estação de trens que atende a região Sudoeste da França - Tours, Bordeux, Lion, Saint-Malo, etc - chamada de grandes linhas; e a área metropolitana - os arredores como falam os franceses - a Torre de Monteparnasse o segundo edifício mais alto da cidade 210 metros de altura, o cemitério de Monteparnasse onde algumas personalidades estão sepultadas, uma infinidade de bistrôs e lojas de todos os tipos, em especial, uma imensa loja da Galeria Lafayete.
Além do que, Monteparnasse está próximo de Saint-Germain des Prés, dos Jardins de Luxemburgo, de Saint Suplicy e do Palácio de Inválidos onde está sepultado Napoleão Bonaparte
Diria que é um local bem interessante e do alto da Torre de Monteparnasse - derivado de Monte Parnaso - edifício construído a partir de 1969 até 1973 e que foi durante muitos anos o mais alto da cidade, do seu topo e da cobertura, tem-se uma visão de 360º graus da cidade observando-se do alto todos os monumentos identificáveis, a Torre Eiffel, Notre Dame, o Louvre, o tramo da estação de trens, as grandes avenidas e o traçado da "cité" com seu casario uniforme preservado o que dá uma dimensão do valor que a história representa para os franceses.
Antes de subirmos perguntei a madame: "Ainda estás com medo?".
- Um pouco. A gente nunca sabe o que vai acontecer e fico pensando nas Torres Gêmeas de Nova York, falou com certo desdém, o que mostrava confiança.
Seguimos em frente. Adentramos ao prédio e fomos revistados num portal de segurança com detectores de metais, compramos os ingressos (20 euros cada) e um jovem apontou o elevador que tomaríamos dizendo que ele nos deixaria no topo. Deu um friozinho na barriga e lá chegamos.
Nesta parte envidraçada do topo a vista da cidade é deslumbrante, em todas as direções. Lembrei-me, mais uma vez da descrição de Victor Hugo do tempo de Carlos V e falei para a madame: - Estamos, agora, no século XXI, ano de 2022, e Paris não tem mais as torres e portas de Tournelle, de Nesle, de Billy e du Bois que limitavam a sua dimensão. É uma grande cidade, inteiriça.
- Não me venha com erudição. Vejo a nossa frente a Torre Eiffel, 'minha linda', o campo de Marte, a cúpula dourado do Palácio de Inválidos e uma grande avenida à direita que me parece a Rue de Rennes para Saint-German-des-Prés.
- Falei para que v tivesse uma maior compreensão. Salvador também teve suas portas, ao Norte, de Santa Catarina; e ao Sul, de Santa Luzia, isso no século XVI, contemporâneas das torres de Paris citadas por Victor Hugo, e mais não tivemos que em Paris teve, o Sena banhando cinco ilhas dentro dos muros: Louviers, Vacas, Notre Dame, a Atravessador das Vacas e a Cité, estas últimas onde está a Ponte Neuf que já visitamos, frisei com mais doses de erudição.
- Certo, nobre escritor, o que percebo com meu olhar deste ponto que estamos dobrando minha cabeça, são as gruas que se movem no trabalho de restauro da Notre Dame, diante do incêndio de 2019, as torres de Saint Suplice e mais à direita o Jardim de Luxemburgo.
- Tambném à vista fica o La Défense o centro financeiro da cidade, área nova com imensos prédios espelhados, hoje, com centros de convenções e áreas de shows, comentei.
Bem, depois de ficarmos por 1 hora neste local seguimos para a cobertura, a céu aberto, subindo uns 70 degraus de escadas. Na cobertura, que os franceses chamam de "terrasse" é como se estivessemos ao alcance do céu, flutuando.
Para ter acesso a essa dois locais da torre com 56 andares de escritórios corporativos de toda natureza há um conjunto de elevadores, isolado da área comercial do prédio, só para atender os turistas e visitantes locais com portaria especial, detectores de metais, vigilantes por todos os lados, e paga-se a quantia de 20 euros (adultos), 15 euros (estudantes) e 9 euros (crianças).
No topo envidraçado e na cobertura há dois bares e um restaurante, loja de souvenirs e locais de contemplação na "terrasse" com cadeiras espreguiçadeiras e lounges o que dá para a pessoa curtir o quanto quiser em tempo a cidade do alto. Não há uma delimitação de tempo para se ficar na torre, em média, os turistas ficam entre 2 e 3 horas, no máximo.
Os ingressos são vendidos no local ou pela internet e nos finais de semana há sempre mais gente o que a fila de espera pode ser demorada. Melhor é ir no meio da semana. Depois do passeio no alto da torre você pode, então, curtir alguns dos bistrôs de Monteparnasse, conhecer a estação dos trens que é imensa e tem lojas e restaurantes, ir ao cemitério local que fica próximo e percorrer as ruas do comércio em direção ao Sena.
A Gare Montparnasse ou Estação Montparnasse é um terminal ferroviário para as ligações oeste e sudoeste do país, bem como para as ligações de TGV para Tours, Bordéus, Rennes e Nantes. Dispõe também de uma estação de metropolitano e de escadas rolantes de alta velocidade nos acessos.
Inaugurada em 1840, já passou por várias modernizações. Em 1969, a antiga estação foi demolida e a Torre Montparnasse foi construída no local. Em 1990, foi construída uma extensão para abrigar a estação do TGV Atlantique.