Política

PARIS AO SOM DO BANDOLIM, CAP 3: SACERDÓCIO COM NOTICIA E CONVENTION

Vida de jornalista é um sacerdócio com a notícia
Tasso Franco , Paris | 29/08/2022 às 10:00
Jornalista TF, em Paris, atualiza o Bahia Já
Foto: OG

Vida de jornalista é um sacerdócio com a notícia. Não temos temos trégua salvo quando estamos dormindo ou fora do ar por algum motivos. Voar sobre o Atlântico em noite de breu entre Salvador e Paris, óbvio, temos uma pausa. Ao pisar n'algum solo, seja no aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, na escala para Orly; ou na capital francesa o passarinho do twitter canta, o wattsApp nos desperta. 

  A notícia é uma chata de galochas e não tem hora pra acontecer ainda mais no mundo globalizado e plugado. Steeve Jobs quando criou o iPhone havia avisado que mudaria a forma da gente viver e ver o mundo. E, hoje, passados alguns anos do lançamento do aparelhinho que nos acompanha em todos os lugares e 14 da morte do seu criador, vê-se essa realidade plena.

  Quando cheguei a Orly no domingo à noite partindo de Salvador no sábado, de casa, às 20h, estava fora do ar há mais de 24h e fi-lo de propósito dando uma trégua a mim mesmo ao não atualizar meu site BahiaJá durante todo esse tempo deixando para meus poucos colaboradores fazerem esse trabalho e queria mais era brindar a chegada à capital francesa, em paz, sem transtornos em voo sobre o mar tenebroso, e degustar um rouge com camembert. - Vamos ao brinde foi o que disse a madame Bião, minha esposa, e ao meu filho Tasso Filho e a minha nora Vitoria Giovanini. 

  Ainda assim, extrai do meu espírito forças para acomodar o laptop numa mesinha acanhada no pequeno apartamento que havia alugado deixando a missão de atualizar o site na segunda-feira pela manhã.

  Alguém poderia dizer que Paris é fascinante. Por isso, preferi brindar à cidade na chegada preterindo a notícia. Não passou isso por minha cabeça em relação a qualquer deslumbramento, até porque mal conhecia a rua onde moraria. Na segunda, sim, fui ao trabalho no meu microcosmo, vasculhar o universo da informação.

  O relógio adiantou mais 24 horas e ao meio dia da terça-feira, Agapito, que conhecem na inicial como Tasso Filho, pegou-me na Dombasle para buscarmos a madame Bião na ecole. Meus passos - digo a vocês em confidência - são curtos pelos longos janeiros da vida e chegamos a Acoord às 13h. La Giovanini havia voado para Roma a fim de cumprir obrigações de estudante concluinte em arquitetura e fomos os três cumprimentar a Eiffel. Sim, um ritual saudando "minha linda" como a descreve a madame.

  Depois rumamos ao metrô para uma aula do professor Agapito mostrando a madame como chegar em casa mais rápido a partir de uma estação da linha 6 a La Motte Piquet-Grenelle (bem pertinho da Acoord) até a Pasteur e daí em transbordo até a Convention, a linha 12, próximo de nossa casa. A madame ouviu toda explicação com devidas anotações mentais, mas, observei pelo seu semblante que preferia fazer esse percurso via Cambrone e Vaugirard, a pé. 

  O certo é que desembarcamos na Convention no quadrilátero dos bistrôs e como o nobre Agapito retornaria a Milão, onde morava nesta época, decidimos escolher um deles para almoçar. Pus à mão na testa como um adivinhador de pensamentos e escolhi, na intuição, aquele que me pareceu o mais atraente, por sinal, com o mesmo nome da estação do metrô e da rua que dá no Sena, Convention.

  Creio que não há necessidade de dizer que Paris é a capital mundial dos bistrôs - cafés restaurantes pequenos quase sempre com o chef proprietário presente no balcão e/ou na cozinha - e que são uma marca registrada da cidade, com modelos espalhados pelo mundo. Salvador já teve dois famosos na Barra, mas, ambos fecharam. E o Berro D'água recentemente reabriu e também fechou.

  A história revela que, com o fim do absolutismo e a guilhotinada em 1792 extinguindo a monarquia na França surgiram os restaurantes populares em Paris. Muito dos chefes e cozinheiros que trabalhavam na cozinha do rei Luis XVI e nos principados do interior ficaram desempregados. A solução encontrada foi abrir novos restaurantes, sobretudo em Paris, onde já existiam alguns deles voltados para trabalhadores portuários, profissionais liberais e outros.  

  Sem empregos e sem recursos mais substanciais com as economias que tinham criaram pequenos restaurantes nos bairros com poucas mesas e serviços orientados diretamente pelo chef da cousine - o dono - e familiares. Conta-se que, o nome, em sí, advém do inicio do século XIX na ocupação russa pós Napoleão Bonaparte, a partir de 1812, quando oficiais russos vinham tomar um 'drink' na casa da “La Mère Catherine” e gritavam «Rapido!», «rapido!» (Bistro em russo). Surge, então, o nome «Bistrot». Hoje, popularizado para bistrô.

   Os parisienses passaram a ter o hábito de tomar café, almoçar e jantar nos bistrôs e com o surgimento de uma classe média industrial, do crescimento da cidade, do turismo a partir da Torre Eiffel (1900) foram surgindo restaurantes maiores e mais chiques para atender uma clientela mais exigente. Hoje, Paris tem milhares de restaurantes - ultimamente muitos asiáticos e italianos ocuparam espaços - mas, os bistrôs seguem como os mais queridos e disputados. 

   Esses pequenos restaurantes têm comidas deliciosas, são lugares agradáveis e permitem um papo intimista. E, não cobraram caro.

   O Covention - com mesmo nome da rua e da estação do metrô linha verde - tem um ambiente aconchegante e sentamos num cantinho decorado com prateleira contendo livros antigos bem próxima a poltrona de couro, que muito aprecio. 

  Uma área que pareceu-me privé com uma visão da parte externa e até do movimento de pessoas na rua.

  Agapito, que não nega sua raiz baiana solicitou uma caipirinha dizendo estar com saudade da terrinha; yo em homenagem a minha neta Luna pedi um Jack Daniel's para beber a moda Macallan - pequenos goles sem ice - e la madame um Chardonnay blanche.  

  O que se faz num bistrô? Conversar baixinho, degustar as bebidas com vagar, observar as pessoas, a decoração, o clima da casa, ouvir música e saborear uma boa comida. 

  Yo decidi experimentar o Poke Ball Hawai, um dos principais pratos da cozinha havaiana - salmão cru cortado em cubos, arroz, abacate, molho de soja, óleo de gergelim, alga e pimenta. La madame, sempre elegante, optou por um linguine jour com manjericão e o doutor Moncada - outro apelido de Tasso Filho - pediu um risotto coquilletes uma vez que morando em Milano se acostumou aos italianos por sabor e fartura. 

  Foi um tarde longa, de muita conversa, lembranças e do apreciar a boa mesa. Nos despedimos de Tasso Filho quase em lágrimas, ele em direção a Milão e o casal de enamorados eternos para a Domblase.