Nesse embate, o presidente Bolsonaro levou a melhor, nitidamente, emparedou Lula com a pergunta sobre corrupção, o qual não se saiu bem na resposta e, além disso, durante todo o debate manteve-se numa postura defensiva, apático e sem vibrações.
O que teria acontecido com Lula para se comportar dessa maneira, bem diferente de como se apresenta nos eventos de salões e nos comícios, é de se estranhar. Até seus aliados disseram que o ex-presidente poderia ser mais propositivo, mais firme e ir para o confronto com Bolsonaro na ofenmsiva.
Bolsonaro fez críticas ao petista, citando a delação do ex-ministro Antonio Palocci e acontecimentos da Lava Jato. Bolsonaro disse que o governo Lula foi feito "à base de roubo". Lula rebateu o presidente. "Deixei o país com a economia crescendo a 7,5%. Esse é o país que o atual presidente [Bolsonaro] está destruindo. Portanto, o governo que eu deixei é o que povo tem saudade, e esse país vai voltar a ser assim".
Em outro momento, Bolsonaro foi ainda maios duro com Lula. "O seu governo foi marcado pela 'cleptocracia', ou seja, um governo feito à base de roubo; e essa roubalheira era para conseguir apoio dentro do Parlamento, não era apenas para o ex-presidente Lula", disse. Que moral tu tem para falar de mim, ex-presidiário? Nenhuma moral.
Nas considerações finais, Bolsonaro foi na goela de Lula citando sua relação de amizade com regimes ditatoriais como os da Venezuela e Nicarágua, seu apoio a Fernandes e a falida Argentina, aos socialistas da Colombia e do Chile, ironizou o cristão Alckmin cantando o hino "a internacional" socialista de Pottier, e Lula mesmo obtendo direito de resposta, ao se utilizar dele, perdeu-se na fala e deixou-a sem conclusão.
Spbre a fome, Bolsonaro rebateu um questionamento de Ciro Gomes (PDT) sobre uma declaração em que minimizou os números de brasileiros passando fome. Em sua resposta, o atual chefe do Executivo disse que "cada um interpreta a informação como acha melhor". Em seguida, criticou a recomendação para fechar comércios durante a pandemia, e disse que o país tem "uma das menores inflações do mundo". "Esses mais pobres que estão passando necessidade, alguns passam fome, sim, não nesse número exagerado. Querer fazer demagogia com números aqui fica complicado. Isso é inadmissível".
Bolsonaro, ao que se viu, sustentou sua performance em três pontos básicos: relembrar casos de corrupção das gestões petistas, reforçar que o PT inicialmente votou contra a criação do Auxílio Brasil — ao se opor à PEC dos Precatórios, e repetir a todo o momento que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mente, acusando o petista de uma conduta que geralmente é atribuída a ele por disseminar fake news.
O presidente só "perdeu a linha" quando contestou a jornalista Vera Magalhães. A colunista do GLOBO fez uma pergunta sobre o quanto a desinformação propagada pelo atual presidente na pandemia contribuiu para o baixo índice de vacinação no país. Em resposta, Bolsonaro dise:
— Vera, não podia esperar outra coisa de você. Acho que você dorme pensando em mim, tem alguma paixão por mim. Você não pode tomar partido num debate como esse, fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro.
Minutos depois, a defesa da jornalista feita pela senadora Soraya Thronicke (União Brasil), em que atribui a fala de Bolsonaro a machismo, também foi avaliado pela campanha bolsonarista muito ruim para o atual titular do Palácio do Planalto. Após esse ponto negativo, Bolsonaro tentou corrigir sua postura citando o trabalho da primeira dama, o Auxilio Brasil, titulo de posses de terra e destacando que as mulheres lhe amam.
No geral do debate, os desempenhos da senadora Simone Tebet e do Ciro Gomes foram os melhores, ainda que Simone tenha focado suas críticaas mais a Bolsonaro, do que apresentar propostas para o Brasil. Ciro, como sempre, professoral e equilibrado em todo debate. O candidato do Novo, Felipe D'Avila defendeu a iniciativa privada e o agronegócio.
Lula ergeu a bandeira da paz para Ciro Gomes e lançou a rede para tentar fisgar Simone Tebet, porém, ambos recusaram seu aceno lembrando que ele é o pai do mensalão e do petrolão, Tabet, em considerações finais disse que "o Brasil é maior do que Lula e Bolsonaro", colocando-os num mesmo saco de gatos.
No debate Lula x Ciro aconteceu o seguinte diálogo:
— Eu tenho um profundo respeito pelo Ciro Gomes. Sou grato ao Ciro Gomes que esteve no governo comigo de 2003 a 2006. Mas o Ciro nesse instante resolveu não estar conosco, sair com candidatura própria, é um direito dele — afirmou Lula.
Em seguida, ele afirmou que, caso ganhe as eleições, irá "tentar ver" se atrai o PDT para seu governo e que trata Ciro com "deferência". E ressaltou que espera que Ciro "não vá para Paris", como fez no segundo turno de 2018.
— Espero que o Ciro fique aqui no Brasil e que a gente sente para conversar — completou Lula. Na tela dividida do programa, a imagem mostrava que o candidato pedetista ria enquanto ouvia o adversário petista.
Ciro respondeu falando sobre uma "contradição moral" de Lula e do PT, que ele equipara à de Jair Bolsonaro.
— Lula se deixou corromper mesmo. Está com Geddel Vieira Lima, está com Renan Calheiros, está com Eunicio Oliveira.
Lula então subiu o tom, diz que foi absolvido em todos os processos contra ele e que "paga o preço" de ser inocente, e elogiou as medidas tomadas pelos governos petistas na área da educação — o tema é um dos prediletos de Ciro Gomes, que usa como modelo o Ceará, governado por ele no início dos anos 1990.