A França acordou nesta segunda-feira, 20, com uma nova configuração na Assembleia Nacional.
A coligação de partidos Juntos (La República em Marcha - LRM, o MoDem e o Horizontes - comandada pelo presidente Emmanuel Macron, reeleito para mais 5 anos de mandato no último dia 24 de abril, conseguiu a maioria simples com 246 eleitos, bem distante da maioria absoluta (289 deputados), o que significa dizer que precisará de alianças novas para aprovar os projetos do governo.
Os alarmistas dizem que a França ficara ingovernável uma vez que a oposição obteve, no total, 231 votos, considerado as forças da esquerda (142) e da direita (89).
É uma situação política complexa e diferente dos 5 primeiros anos de Macron no poder, ele que é um político centrista (ou da centro esquerda light) e agora terá que enfrentar os eleitos da esquerda abrigados na Nova União Ecológica e Social Popular (Nupes), reunindo La France insoumise (LFI), o Partido Socialista (PS), o Partido Comunista (PCF) e a Europa Ecologie-Les Verts (EELV) que elegeu 142 deputados sob o comando de Jean-Luc Mélenchon; a direita do Rally Nacional (RN) com 89, de Marine Le Pen.
Segundo comentário do Le Monde, hoje, "esse movimento de pinça em que a maioria presidencial é capturada é tanto uma desvantagem quanto uma oportunidade para o campo macronista. Uma desvantagem, em primeiro lugar, desde Juntos! é incapaz de ter uma maioria sem aliados. Seus funcionários eleitos terão que se virar para a direita para impulsionar suas reformas. Já o presidente da LR, Christian Jacob, recusou qualquer aliança com os macronistas , que por isso terão de fazer caça furtiva individual".
Historicamente falando a esquerda e a direita na França não se unem e têm projetos e objetivos diferenciados, o que pode facilitar a vida governamental de Macron. Como o presidente vai se sair desse cenário só o tempo dirá uma vez que, além de ter ganho a eleição presidencial no segundo turno contra Marine Le Pen, o Juntos ainda detém a maioria simples da Assembleia Nacional com 246 deputados.
A França - diferente do Brasil onde o presidente eleito comanda toda a máquina governamental - é um regime semipresidencialista. O Presidente da República é eleito por sufrágio universal direto - chefe de Estado. Compete-lhe nomear o primeiro-ministro, que é o chefe de governo, hoje, uma mulher recém nomeada no dia 16 de maio, Élisabeth Borne, a qual deverá ser mantida no cargo, pois, nem Mélenchon; nem Marine conseguiram a maioria absoluta na AN para destroná-la.
O mais que podem fazer - e isso a Marine já está falando - é estabelecer um Pacto Nacional de governabilidade. Mas, é claro, isso depende de Macron. Ele pode, simplesmente, adotar um outro caminho, sem necessariamente, ser o confronto.
A França - também diferente do Brasil onde o presidente Jair Bolsonaro é da direita com apoio do Centrão - o presidente Macron é centrista com apoio de segmentos da esquerda, um centro-esquerda (não no modelo Centrão brasileiro do toma lá; dá cá) e enfrenta uma oposição da esquerda (o Mélenchon seria o Lula francês) e da direita, de Le Pen.
Vê-se que são equações diferenciadas, embora (como no Brasil) a governabilidade depende das relações com a Assembleia Nacional.
Macrom, portanto, enfrentará esse novo desafio em sua carreira política: governar sem a maioria absoluta na Assembleia Nacional. (TF)