Política

TESE DE WAGNER DO BAVI NA ELEIÇÃO DA BAHIA NÃO SE SUSTENTA NA HISTÓRIA

Veja o comentário do jornalista Tasso Franco
Tasso Franco , Salvador | 25/04/2022 às 11:03
Wagner vê Lula como decisivo na Bahia e não é
Foto: AG SEMADO
    O senador Jaques Wagner, em entrevista a A Tarde, voltou a defender a tese de que "a eleição para o governo esse ano vai ser BA-VI, devido a polarização nacional, que impacta diretamente sobre a disputa daqui".

  Mais disse criticando ACM Neto, o candidato a governador pela União Brasil e aliados: "Em política, o pior lado de se ter é não ter lado”. “Alguém que quer ser governador da Bahia pode não ter opinião sobre a questão nacional? Está querendo enganar quem?”  E completou: “Eu não vejo a menor hipótese de o presidente Lula não ser candidato”. 

  A tese defendida por Wagner não se sustenta na história da política baiana. Nem vamos recuar muito no tempo. Mas, observando-se o que aconteceu de 1989 para cá, essa influência foi limitada e até nem existiu. Eleito presidente na primeira eleição em 2º turno no Brasil, Fernando Collor teve 53,03% dos votos e Lula da Silva 46,97%. Uma diferença pequena: Collor 35.089.998 votos; Lula 31.076.364. Na Bahia foi eleito ACM contra Roberto Santos. Nem ACM era Collor; nem RS era Lula.
 
  Seguiu-se a pisada com a eleição de FHC (depois de um mandato tampão de Itamar Franco) empurrado pelo Plano Real contra Lula. Na Bahia, o eleito foi Paulo Souto (PFL) contra João Durgal (PMN), Jutahy Magalhães (PSDB) e Nilo Coelho (PMDB) e Álvaro Martins (PRN). Influência zero no plano nacional. FHC veio a Bahia mais para conhecer uma buxada de bode do que qualquer outra coisa. ACM, sim, ajudou a eleição de Souto.

  Em 1998, reeleição de FHC; e na Bahia, César Borges que venceu Zezéu Ribeiro no 1º turno com 69,91% dos votos contra apenas 15.17% de Zezéu. Ora, Lula teve nesta eleição 31.71% dos votos contra FHC, o dobro do percentual de Zezéu. Borges foi eleito graças ao embalo da administração Souto e a força política de ACM.

  Em 2002, Lula foi eleito presidente. Venceu de José Serra (PSDB), no segundo turno com 61.27% dos votos. E na Bahia? O eleito foi Paulo Souto com 53.69% e Wagner obteve 38.47%. Por que, então, Wagner não foi eleito puxado por Lula uma vez que Souto não era Serra? Porque a eleição estadual se deu dissociada da federal.

  Em 2006, Lula foi reeleito presidente com 60.83% dos votos contra Geraldo Alckmin (PSDB) com 39.17%. Na Bahia, o eleito foi Wagner com 52.89% contra Souto (43.03%).

  O que aconteceu neste pleito? Lula ajudou Wagner apenas em parte uma vez que não acreditava na vitória do PT na Bahia. A vitória de Wagner se deu graças as alianças que fez com antigos 'carlistas' especialmente Otto Alencar (vice-governador na época de César Borges) e ao desgaste do domínio 'carlista'. Quando Wagner ganhou, no 1º turno, Lula foi a público e disse que o galego era retado. Foi Wagner e as alianças baianas que o levaram a Ondina.

  Em 2010, Wagner (Otto como candidato a vice) levou de lambuja com 63,83% contra um Paulo Souto desgastado (16.09%) e o emergente Geddel Vieira Lima (15.56%). No Brasil, a eleita foi Dilma Rousseff contra José Serra. Qual a influência de Lula/Dilma na eleição da Bahia? Zero. Ao contrário: Wagner foi quem ajudou Dilma.

  Em 2014, é eleito na Bahia Rui Costa (54,5%) contra Paulo Souto - de novo (37.39%) e Lidice da Mata (6.62%). Dilma é reeleita (51.64%) contra Aécio Neves (48.36%). Rui Costa foi eleito graças ao apoio e organização política que Wagner fez em torno do seu nome. Não teve nada a ver coma a eleição presidencial.

  A mesma coisa aconteceu em 2018. O eleito no Brasil foi Jair Bolsonaro contra Fernando Haddad; e na Bahia, Rui se reelegeu com facilidade com 75.24% contra José Ronaldo (22.30%, do DEM). Rui deve a Lula e/ou Fernando Haddad sua eleição? Zero. Foi reeleito por méritos próprios e diante da fragilidade do advesário. ACM Neto seria o candidato, porém, se manteve na Prefeitura e o nome (para ir ao sacrificio) foi Zé Ronaldo. Essa foi a eleição mais fácil do PT na Bahia.

  Estamos, pois, em 2022, com os seguintes nomes na disputa com maiores competividadades: ACM Neto (União Brasil), Jerônimo Rodrigues (PT) e João Roma (PL). Jerônimo tem o apoio de Lula, mas, seu grande eleitor é Rui; em seguida, Otto Alencar; e em terceiro Wagner. Lula pode ser relacinado apenas psicologicamente, até porque não se tem certeza se sua candidatura vingará. Roma tem o apoio de Bolsonaro. Neto ainda trabalha a terceira via na eleição presidencial. Mas, se lançou como força política local com alianças nos municípios.

  Ainda é cedo para se ter uma idéia de como esse processo se dará mais adiante. Com a força de Rui Costa, a tendência é Jerônimo crescer porque ainda é desconhecido (fato reconhecido até por Wagner); há dúvidas se Roma crescerá no embalo do crescimento de Bolsonaro no Brasil - Bolsonaro na pesquisa de hoje tem entre 31%/35% das intenções de votos; e Neto, já tem um percentual de votos alto e vai tentar mantê-los. A chegada do vice-governador João Leão para integrar sua aliança deu bom impulso.

  Como vês, a tese de Wagner de que Lula é um fator decisório nas eleições estaduais tem sentido parcial, porém limitado.(TF)