Com opiniões acaloradas dos dois lados, governo e oposição debateram, novamente, nesta terça-feira, 22, na Câmara de Salvador, o polêmico projeto do BRT (sigla inglesa para ônibus rápido), em construção na Av. ACM, por parte da Prefeitura. Desta vez, a chamada Super Terça teve maior número de debatedores do que os habituais dois de cada bancada, a partir de um acordo de lideranças. Todos os vereadores puderam se inscrever para dar suas opiniões após as quatro falas iniciais.
Um momento de tensão aconteceu quando o líder do governo, Henrique Carballal (PV), chamou Hilton Coelho (PSol) de mentiroso, por ter afirmado, na tribuna, que ele havia feito um pedido de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para investigar as obras do Metrô e depois retirou a solicitação, mesmo depois de ter garantido que não ia fazê-lo.
Sem diálogo
A líder oposicionista Marta Rodrigues (PT) abriu as críticas, apresentando apresentar dados técnicos, entre eles do Ministério das Cidades, que, a seu ver, tornam a obra injustificável, além do superfaturamento, da agressão ao meio ambiente e da falta de licenças, estudo e impacto de vizinhança, apontados já pelos especialistas.
Segundo ela, o termo de referência do edital do primeiro trecho mostra uma demanda máxima Av. ACM, onde o BRT passaria, de 12.700 passageiros por hora. No entanto, o manual do Ministério das Cidades, determina que um BRT se justifique com demanda entre 15 a 45 mil/hora.
De acordo com a petista, a iniciativa também não dialogou com o PDDU: “No Plano Diretor, ele é identificado apenas como um traçado. Não houve debate com a população, não há nenhum aprofundamento, é vergonhoso. Não tem viabilidade técnica, econômica, financeira e tarifária do sistema. Isso devia ser feito antes mesmo de se gastar quase R$ 1 bilhão com essa obra. Há muitos indícios de descumprimento para atender uma demanda exclusiva do prefeito”.
Aladilce Souza (PCdoB) reforçou os argumentos da colega, mencionando o próprio relatório da prefeitura sobre o projeto. Conforme afirmou, na página 45, há uma comprovação de sua inviabilidade: “Não existe projeto base e, portanto, não há condição para autorização e liberação de recursos. É um verdadeiro crime ambiental destruir 549 árvores e tamponar três rios. Esse projeto está na contramão de todo o mundo”. Silvio Humberto (PSB) também se pronunciou contra.
Dossiê de crimes ambientais
A primeira defesa veio de Alexandre Aleluia (DEM), que questionou a legitimidade das bancadas do PCdoB, PT e PSOL para criticar a proposta. Em sua opinião, as opiniões contrárias não têm base técnica.
Para ele, “a defesa do verde, do meio ambiente, é só uma desculpa de quem não quer o melhor para a cidade. Fazem a política da melancia. Verdes por fora, mas demostram que são vermelhos PT por dentro. Quem estuda o projeto vê que a destruição de árvores, os valores que questionam não passam de mentiras e falácia. O BRT é um projeto que melhorará a vida das pessoas”.
Segundo a defender o projeto, Téo Senna (PHS) apresentou o que chamou de dossiê, com dados sobre agressões ao meio ambiente, praticadas pelo Governo do Estado, ao construir avenidas como a 29 de Março (com a concretagem do Rio Jaguaribe) , a Via Metropolitana e o Metrô da Paralela. E provocou os oposicionistas, perguntando onde estavam os vereadores, técnicos e representantes de entidades em defesa da natureza quando esses crimes ambientais foram praticados.
Argumentou ainda que a legislação ambiental está sendo integralmente cumprida no caso do BRT, pois uma quantidade bem maior de árvores será plantada para compensar aquelas que serão derrubadas. A seu ver, quem se opõe à implantação do modal “está praticando um atentado ao bem estar da cidade”.
Henrique defendeu que a mobilidade urbana da cidade precisa ser composta por vários modais e classificou o projeto em execução de “revolucionário” pelo impacto positivo a ser causado quando estiver em funcionamento. E avisou: “Podem tentar, mas não vão conseguir impedir a construção. Eles pensam que mandam na Justiça, mas quem manda na sociedade é o povo”. Reiterou ainda suas afirmações sobre o “lobby dos trilhos” que, em seu entender, está por trás das críticas ao projeto.
A opinião distoante na bancada situacionista veio de Ana Rita Tavares (PMB) que, apesar de declarar-se integrante do grupo de ACM Neto, expressou-se contra a obra. Disse ter alertado o gestor para as questões ambientais, mas não obteve sua atenção: “O prefeito tem que ouvir a população de Salvador. O meio ambiente não pode ser agredido. Modernidade tem que ter respeito ao meio ambiente. Sou da base do prefeito e estou aqui pedindo a ele para ouvir essas pessoas. Temos que ver o impacto disso no futuro”.
Kiki Bispo (PTB), Paulo Magalhães (PV) e Felipe Lucas (MDB) rebateram as afirmações da colega e garantiram que não há agressões. O verdista disse ter se preocupado com essas questões, quanto as intervenções foram anunciadas, mas agora , sente-se tranquilo, depois as explicações dadas pelos responsáveis técnicos da obra.
Carolino recebe apoio
Antes do início da Super Terça, Toinho Carolino (Podemos) agradeceu, na tribuna, a solidariedade dos colegas e reafirmou que sua inocência será provada, no caso da inclusão de um antigo endereço seu na relação dos imóveis alvos de mandados de busca e apreensão da Operação Luz da Infância 2. A ação, deflagrada pelas polícias Federal e Civil no dia 17 de maio, tem como objetivo o combate a crimes de pedofilia, o que indignou Carolino.
Disse ter se antecipado, ao tomar conhecimento da denúncia, pela imprensa, e procurou espontaneamente a Delegacia de Repressão a Crimes contra a Criança e o Adolescente, colocando à disposição todos os meus equipamentos eletrônicos. “Abomino a pedofilia de forma contundente, não cometi nenhum crime e sou o principal interessado em que tudo seja apurado”, declarou. Ele lamentou a exposição do seu nome em meio à apuração de um crime bárbaro, antes que as investigações sobre os fatos tivessem sido concluída.
Entre os edis solidários estavam Joceval Rodrigues (PPS): “Conhecemos sua conduta, nada vai desabonar”. Marta e Aladilce alertaram para a irresponsabilidade de parte da mídia divulgar fatos desabonadores contra as pessoas, antes que as denúncias sejam comprovadas.
Para Carballal não há nada que cause mais indignação do que pedofilia e injustiça: “É um absurdo enlamear a história de vida de um pai de família dessa forma. Tenho certeza que tudo será esclarecido e os danos à honra do vereador serão reparados”. Uziel Bueno (Podemos) classificou o envolvimento do nome do seu colega de bancada na operação como “uma tempestade” e disse ter certeza de que passará com a comprovação da inocência de Carolino. Para Sílvio Humberto (PSB) o vereador sairá fortalecido do episódio: “Não podemos esquecer que aquilo que não nos destrói, nos fortalece”.