Imaginem que Lautaro Martinez, artilheiro do campeonato italiano e da Copa América, é reserva da equipe de Scalloni.
ZedeJesusBarreto , Salvador |
15/07/2024 às 18:59
Nova geração aguerrida e boa de bola
Foto: BJÁ
Campeã mundial da Copa 2022, a Argentina conquistou o bicampeonato da Copa América na madrugada dessa segunda-feira (dia 15jul), vencendo a Colômbia (1 x 0) com gol do artilheiro Lautaro no segundo tempo da prorrogação de uma partida renhida sem gols no tempo normal. É o 16º título dos argentinos, maior vencedor da competição. Foi o jogo de despedida do astro Di Maria, 37 anos, que atuou todo tempo com a garra de um vencedor, aclamado.
A Argentina dessa geração vencedora, que tem Messi (também em fim de carreira) como exemplo e liderança, sabe jogar para vencer, mesmo nos dias em que não mostra um futebol vistoso e não está inspirada em campo. Uma equipe que sabe ganhar, acostumou-se a vencer com garra, com aplicação tática coletiva, com manha, usando quando precisa da tradicional milonga portenha. Fruto do trabalho incrível e competente de um treinador novo, Lionel Scaloni, sem invencionices, cuidadoso em manter o velho estilo argentino de jogar. Alma acima de tudo, amor à camisa, à história de um Di Stéfano, Maradona, Kempes, Sanfellipo, Ardilles, Riquelme, Ramos Delgado...
Não tem segredos. A equipe começa e se fundamenta com um goleiro espetacular (alto, forte, absoluto nas bolas altas, ágil, corajoso e abusado, catimbeiro), Martinez – aquele que praticamente deu a Copa das Arábias para o país, para Messi, pegando tudo. Laterais bons marcadores, um miolo de zaga vigoroso e inteligente (Romero joga muito), um meio de campo excepcional - Enzo, McAlister e sobretudo o guerreiro De Paul, um símbolo de dedicação e boa técnica. Na frente, o talento, a busca incessante do gol. Imaginem que Lautaro Martinez, artilheiro do campeonato italiano e da Copa América, é reserva da equipe de Scalloni.
No mais, dizer o quê de Lionel Messi, um dos maiores meias/atacantes de todos os tempos, ou de um genial Di Maria, em despedida venturosa, dois canhotos maravilhosos. Uma equipe bem treinada que se acostumou, ficou viciada em ganhar, sabe os caminhos, os atalhos do jogo para chegar à vitória.
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Na partida final contra a Colômbia deu exemplo disso. Soube suportar, como lidar com o toque e a posse de bola da Colômbia, soube esperar a hora do bote, e mostrou um elenco de melhor qualidade. Na prorrogação, pôs em campo Lo Celso, Paredes e Lautaro – que time sul-americano tem reservas desse quilate? O gol decisivo foi num contragolpe de cartilha, em três toques rápidos, incisivos: De Paul, Paredes e Lautaro, esperto e bem posicionado, arrematando forte na saída do goleiro colombiano. Cirúrgico. Depois do gol não teve mais jogo, catimbaram, criaram confusão, apertaram o árbitro, mandaram bola pro mato, travaram o adversário.
Uma aula da velha malandragem/milonga argentina. Mais um titulo no papo. Equipe vencedora, solidária, exemplar.
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Premiados no final o craque James Rodrigues, meia canhoto colombiano, estiloso; o goleiro Martinez, De Paul (pra mim o melhor da competição), o artilheiro Lautaro... Messi, por tudo, e Di Maria pela carreira exemplar. Os que amam o bom futebol agradecem.
Parabéns ‘Hermanos’, é o que nos resta.
Na Colômbia, talvez a equipe que tenha mostrado o futebol mais vistoso da competição, um bom goleiro, zaga dura, Arias (o lateral do Bahia) jogou muito, o astro James Rodriquez, o ótimo Luiz Diaz (camisa 7) marcado em cima por De Paul... mas faltou ataque.
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Luizito Suarez
Sim, ele mesmo, o dentuço que até outro dia jogava no Grêmio, centroavante dos bons, mais que rodado, fim de carreira, deu o bronze para o Uruguai. A Celeste Olímpica, sem jogar bem, levava um 2 x 1 ferrado do esforçado Canadá quando, minutinhos antes do apito final, Suarez escorou de canhota, de prima, um cruzamento da direita e empatou o jogo, levando a decisão aos pênaltis. Ele mesmo, Suarez, converteu, vibrou e deu o terceiro lugar ao Uruguai. Suarez é desses centroavantes raros hoje em dia: técnico, inteligente, raçudo, catimbeiro e fazedor de gols – de direita, de esquerda, de cabeça... Uma carreira brilhante, no ocaso.
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Que tudo isso posto sirva de lição para nós, brasileiros, de bolinha murcha. A gente precisa retomar nosso jeito de jogar bola, sem máscaras, estrelismos, com humildade, gana de vencer e seriedade.
Em busca de um goleiro (o chavão, ‘toda boa equipe começa com um grande goleiro’), laterais que entendam das beiradas, marquem e apoiem com velocidade, uma zaga robusta, séria e inteligente; meio-campistas que tenham visão de campo, bons passes (longos, sobretudo) e que marquem, tenham gana de ter a bola, e talentos na frente, sem frescuras, objetivos, e um goleador... Temos isso, sim, é preciso saber escolher, convocar com critérios e não sob intere$$es.
O que vemos hoje em campo, há algum tempo, envergonha nossa história. Afinal, somos pentacampeões mundiais, lembram-se?
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