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FUTEBOL EM ITABUNA: COMO SURGIU O CAMPO DA DESPORTIVA,p WALMIR ROSÁRIO

Walmir Rosário é jornalista, radialista e advogado
Walmir Rosário , Itabuna | 07/01/2024 às 09:37
Campo do Desportiva palco de grandes jogos
Foto: REP
  Em 19 de agosto de 1930, com a fundação da Liga de Desportos de Itabuna (Lida), o futebol de Itabuna ganha novo fôlego com a organização de torneios e campeonatos. Com isso, surge um movimento incentivando a construção de num novo campo de futebol, abandonando o velho campinho em frente a igreja matriz. E os jogos passaram a ser realizados numa área de pastagens na fazenda de Berilo Guimarães (junto ao atual Jardim do Ó, início da avenida do Cinquentenário, onde funciona o Centro de Cultura).

   E o improviso foi se tornando oficial. A primeira mudança foi cercar o campo com cordas e, posteriormente, fixadas as placas de zinco, nada condizente para a pujante Itabuna. Não tardou a vingar uma ideia do cacauicultor e comerciante Nicodemos Barreto, de erguer um muro. E ele mesmo deu o pontapé inicial, doando os tijolos à direção da Lida. Com isso, viabilizou a construção de um campo de futebol. Em seguida, várias campanhas foram feitas pelos dirigentes da Lida, para concluir o campo da Desportiva.
   
   Para a primeira inauguração, em 1937, foi convidado um grande clube de Salvador: o Galícia, tricampeão baiano, conhecido como “O Demolidor de Campeões”, que participou de três jogos em Itabuna. O Galícia deu um passeio, como se diz na gíria: ganhou o primeiro jogo de 6×0, e o segundo de 5×0. Para o terceiro, Itabuna se encheu de brios, reuniu a melhor seleção que pôde e, ainda assim, perdeu de 3 x 2.

   E a Desportiva, apesar de ser uma área de esportes precária, era palco de grandes embates futebolísticos. Assistiam-se os jogos em pé, e alguns expectadores traziam de casa bancos e cadeiras para melhor se acomodaram. A arquibancada e a geral somente começaram a ser construídas em 1954, após uma campanha encetada pela Frente Itabunense de Ação Renovadora (Fiar), liderada por José Dantas de Andrade.

  Finalmente, em 1956, as obras de melhoria do campo da Desportiva foram concluídas, após uma série de promoções, dentre elas, um torneio feminino de futebol para arrecadar fundos. E para reinaugurar o campo da Desportiva foi promovido um amistoso entre o Bahia e Flamengo (2X1), com a presença de um grande público, suficiente para lotar a nova praça desportiva de Itabuna.

  E por décadas seguidas o Campo da Desportiva foi palco dos espetáculos futebolísticos de Itabuna, sediando os campeonatos locais de amadores, aspirantes, juvenis, torneios caixeirais, profissionais e espetáculos musicais, dentre outros tipos de eventos. Por ali jogaram Flamengo, Fluminense, Botafogo, Vasco da Gama, América, Bonsucesso, Bahia, Vitória, que promoviam o espetáculo nos fins de semana do itabunense. 

   Os torcedores mais velhos ainda demonstram a saudade do velho campo da Desportiva, com suas memoráveis partidas aos sábados e domingos e recordam o futebol jogado pelos craques Juca Alfaiate, Clóvis Aquino, Puruca, Bacamarte, ou mais recentemente, Santinho, os irmãos Fernando, Carlos, Leto e Lua; Luiz Carlos, Plínio, Ivanildo, Betinho, Piaba, Ronaldo, Humberto, Abiezer, Serjão, Aílton; Valdemir Chicão, Tombinho, Bel, Zequinha Carmo, Santinho, Pinga, Gajé, Zé Reis, Florizel, dentre outros.

  Se Itabuna era um celeiro de excelentes jogadores, também atuavam bons árbitros. Entre os que mais se destacaram no campo da Desportiva era um tipo folclórico chamado de Dr. Mirandinha. Pelos comentários, para se fazer respeitar durante os jogos, apitava com uma arma de fogo no bolso de trás. Outros grandes árbitros de Itabuna eram Augusto Lima Matos e Manoel do Carmo.

Criado em 1967, o Itabuna Esporte Clube ingressa no profissionalismo, aproveitando os jogadores dos clubes amadores, titulares e reservas da Seleção Amadora de Itabuna. E o velho campo da Desportiva continuou sendo o palco do futebol itabunense, com os atletas vencedores do penta e do hexacampeonato baiano de amadores. Aos poucos, o time foi sendo mesclado com jogadores trazidos do Rio de Janeiro e São Paulo.

O Campo da Desportiva marcou a época de ouro do futebol itabunense, mas em 1972 os jogos passaram a ser disputados no Estádio Luiz Viana Filho (hoje Fernando Gomes), no bairro São Caetano. E o velho Campo da Desportiva resistiu bravamente até 1985, quando a área foi repassada ao Governo do Estado da Bahia, para a implantação do Centro de Cultura Adonias Filho, inaugurado em setembro de 1986.

De lá pra cá o futebol amador de Itabuna perdeu sua casa e passou a disputar seus jogos em campinhos de bairro. Já os torneios com a participação da prefeitura, no estádio municipal. Com isso, as equipes amadoras tradicionais foram sendo desmobilizadas, e embora novas surgissem, não tinham o brilho de antes. Com o fim do campo da Desportiva caiu no esquecimento de muitos a tradição futebolística vencedora de Itabuna.