Zagallo era um ilustre desconhecido para nós até que foi à ribalta em 1970 com o advento da TV a cores
Tasso Franco , Valencia ES |
06/01/2024 às 15:52
A seleção campeã de 1958
Foto: REP
Eu era garoto em Serrinha quando Zagallo foi campeão do mundo de futebol na Suécia, no histórico e inesquecível 5x2 contra a Suécia, em 1958, Pelé com apenas 17 anos de idade. O futebol já era jogado na minha cidade desde 1908 e, na copa do mundo em que o Brasil se sagrou campeão, havia um campeonato local com times promovido pela Liga Serrinhense de Futebol.
Tinha completado 13 anos de idade quando esses "feras" da bola ganharam o mundial e nós, vivendo numa cidade do interior da Bahia, sem energia elétrica, tínhamos na prática do futebol nossa única diversaão, uma vez que nossa cidade não tem mar, nem rio, nem lagoa.
Adorávamos jogar nossos 'babas' no Largo da Usina - onde morava minha família - e não conseguimos acompanhar a Copa de Suécia salvo por informações esparsas que eram dadas pelo serviço de altofalantes "A Voz do Sertão", onde havia um locutor apaixonado por futebol chamado Paulo Santana de Araujo, apelidado de Paulo Teiú.
Meu pai era jornalista autodidata e editava "O Serrinhense" uma publicação semanal e quando os resultados dos jogos eram editados chupados de "A Tarde" que chegaa à cidade de trem, poucos exemplares, novos jogos já estavam em andamento.
A cidade só tinha um ou dois rádios movidos a bateria, um deles, na Padaria de Gabino, onde era possível ouvir algunas resenhas esportivas nas ondas curtas.
Assim, quando o Brasil foi campeão do mundo na Suécia só soubemos dias depois e só conheci os jogadores quando meu pai comprou a revista "O Cruzeiro" e estava estampada a imagem da seleção. Nunca tínhamos ouvido falar de nenhum dos jogadores.
Salvo engano apenas de Vavá e Garrincha que jogavam no futebol do Rio e nós parparicávamos. Quase ninguém em Serrinha, nesta época, torcia pelo Bahia e pelo Vitória, embora um serrinhense chamado Alberto Ramos (Albertão) fora campeão baiano pelo Botafogo, em 1949.
Aos poucos a fama de Pelé foi crescendo. Garrincha era mais destacado que Pelé até a década de 1960. Na Copa do Chile, em 1962, as informações em Serrinha chegaram com mais rapidez, o sistema de energia de Bananeiras foi inaugurado em 1961, lojas começaram a vender vitrolas e aparelhos de rádio elétrico. Ainda assim, conheciamos pouco da seleção e quase nada de Zagallo, salvo que era um ponteiro esquerdo corredor e dava bons passes.
Zagallo vai crescer aos olhos do público brasileiro na Copa de 1970, no México, quando substitui João Saldanha no comando técnico da seleção. Em já morava em Salvador desde 1963 e foi a primeira vez que o Brasil fez uma transmissão a cores na TV de uma Copa do Mundo. Foi o máximo.
Assistiamos aos jogos nas casas dos amigos. Jogo tal, na casa de fulano; jogo y na de Beltrano. Depois das vitórias iamos para a Barra comemorar e foi assim que comemoramos a valer o tri da seleção e o nome de Zagallo foi à ribalta.
Nosso comentarista ZédeJesusBarreto já escreveu um artigo mostrando que esse alagoano que se estabeleceu no Rio, donde nunca mais saiu, e sua trajetória no futebol, na vida e na seleção.
Zagallo, creio que é até redundante dizer, era um apaixonado pela seleção e ficou célebre no futebol a sua frase "vocês vão ter que me engolir". Deve ter sofrido muito nos últimos anos com a decadência da "canarinho" e o espirito mercantilista que tomou conta do selecionado nacional.
Até a entidade que comanda o futebol, a CBF, passa por momentos criticos e seu presidente foi apeado do poder acusado de possíveis ilícitos, agora reconduzido pela caneta do ministro do STF, Gilmar Mendes, após representacão do PCdoB. Veja vocês: o esporte e a política misturados com o alto comando do judiciário.
Louvemos, pois, Mário Lobo Zagallo, o seu amor a seleção e o nosso amor pela seleção nesse momento da despedida daquele que é considerado o símbolo da paixão nacional pela verde amarelo. (TF)