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ITABUNA: NOCHA, UM LATERAL DIREITO RESPEITADO por WALMIR ROSÁRIO

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado
Walmir Rosário , Itabuna | 14/10/2023 às 19:15
Nocha
Foto: Walmir Rosário
  A célebre frase cunhada pelo zagueiro Moisés, em 1982, “zagueiro que se preza não pode ganhar o Belfort Duarte, aí perde o moral”, por certo não se aplicaria ao lateral direito itajuipense Nocha. Ele sabia como ninguém desarmar o adversário jogando o bom futebol, porém sabia ser viril quando a jogada merecia, muitas das vezes sem cometer falta, embora em alguns casos tivesse que parar o contrário com a energia necessária.

Nocha, que também atende por José Raimundo Freitas, do alto dos seus quase 81 anos, admite que sempre usou da habilidade e força necessárias para ganhar uma jogada nos clubes em que atuou, desde sua infância nos clubes de Itajuípe, até pendurar as chuteiras. E faz questão de ressaltar que nunca foi desleal com o adversário, pois sabia jogar futebol e não precisava recorrer à violência.

E foi justamente pela sua conduta em campo, destacando-se pelo futebol sério que jogava que foi descoberto pelos diretores do Bahia de Itajuípe, ainda menino, e levado para o time sensação do Sul da Bahia no final da década de 1950. E no Bahia de Itajuípe tanto fazia jogar no primeiro ou segundo quadro para ser reconhecido como um craque do futebol e cobiçado pelos clubes de Ilhéus, Itabuna e Salvador.

Na pujança do cacau, os cartolas do Bahia de Itajuípe – mesmo amador – iriam buscar um jogador que se destacava em qualquer cidade próxima, mantendo um verdadeiro “esquadrão de aço”. E como relembra Nocha, eles participavam da melhor vitrine do futebol do Sul da Bahia, recebiam constantes convites de outros clubes, na maioria das vezes bastante tentadores.

Ainda jovens, o que queriam eram jogar bola. E bem. Atrair a atenção dos amantes do bom futebol e ganhar presentes, fossem em dinheiro ou outros bens materiais como era praxe nos clubes amadores dirigidos por pessoas de grandes posses. Vencer uma partida era “bicho” garantido, um campeonato, então, o “carvão” caia direto. E na assinatura e renovação de contrato era só felicidade.

E assim Nocha recebe uma proposta tentadora do Janízaros, de Itabuna, e deixa o Bahia de Itajuípe. Com ele também mudam outros craques itajuipenses. No novo clube era uma garantia jogar na Seleção de Itabuna, que chegou ao Hexacampeonato ao vencer o Campeonato Intermunicipal Baiano por seis vezes seguidas. E Nocha era um desses craques vencedores.

Após vencer alguns campeonatos no Janízaros se transfere para o Flamengo de Itabuna, no qual também se torna vencedor de campeonatos. E Nocha nem se preocupa com a mudança de time, pois também jogava ao lado da “nata” do futebol itabunense, colegas na brilhante seleção de Itabuna. E era grande a rivalidade nesses clubes no campeonato de Itabuna, em que Janízaros, Flamengo e Fluminense se revezavam nos títulos.

E a rivalidade não era apenas nas torcidas. Dentro de campo, os colegas da seleção eram adversários e o lateral-direito Nocha tinha a obrigação de marcar o maior ponta-esquerda que se teve notícia em Itabuna, na Bahia e quiçá no Brasil, Fernando Riela. Mas essa contenda não abalava Nocha, que marcava seu oponente jogando o bom futebol. E a renhida disputa era equilibrada, com vantagens alternadas a cada jogo.

As décadas de 1950 e 60 foram notabilizadas pelo bom futebol, jogado por craques que prezavam a camisa que vestiam, principalmente na Seleção de Itabuna. E não era pra menos, a cada ano acumulava mais um título, vencido com galhardia, contra bons adversários, a exemplo de Ilhéus, Feira de Santana, Alagoinhas, Belmonte, Santo Amaro, São Félix, Jequié, dentre outros.

Merecem destaque a eterna rivalidade entre Ilhéus e Itabuna, duas das maiores seleções. E Itabuna sempre levou a melhor, desclassificando o selecionado ilheense, um timaço, como lembra Nocha, que faz questão de ressaltar nunca ter perdido uma partida para a seleção praiana. Outro destaque lembrado por Nocha foram as partidas jogadas contra os grandes times do Rio de Janeiro, em que jogavam de igual para igual. Sem medo.

Em 1967, com a fundação do Itabuna Esporte Clube, Nocha se profissionaliza e participa da primeira equipe que jogou o Campeonato Baiano de Profissionais, junto com outros colegas da Seleção de Itabuna. Quando sentiu que era chegada a hora de parar de jogar o futebol profissional, ainda no auge, deixa o Itabuna Esporte Clube. Poderia ter jogado mais um ou dois anos, mas preferiu sair por cima, deixando boa lembrança na memória dos torcedores.

Mas Nocha não abandonou o futebol e passou a atuar nos times amadores de Itajuípe, notadamente o Grêmio e o Santa Cruz, pelos quais disputou mais partidas. E por muitos anos continuou a jogar os babas, sempre com a mesma categoria e virilidade de antigamente. Hoje critica o futebol jogado pra trás, sem arte, que não empolga os torcedores e nem produz grandes resultados.

Prestes a completar 81 anos, Nocha mantém uma invejável forma física, passeia diariamente pelas ruas de Itajuípe, visita os amigos, faz compras e conversa sobre futebol. Com a simplicidade, diz não recordar muito do seu passado até a conversa fluir e relatar os bons tempos nos campo de futebol. Como diz o ditado: Quem foi rei nunca perde a majestade. E Nocha continua sendo uma referência no bom futebol do Sul da Bahia.